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Blog dos Colégios

Corda no quintal: pular, bater, ritmar, cantar...

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Por Cris Marangon
Atualização:

por Rita Galante*

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Um objeto simples, que também é um brinquedo, trouxe às crianças aprendizados de canções, poesias, além de muitos desafios corporais, fundamentais para as crianças da Educação Infantil

Como narrei no post Corda no quintal: desafios e descobertas da infância, a equipe de Artes começou o ano com o desafio de mergulhar no universo de possibilidades que os quintais oferecem. A intenção era que as crianças pudessem vivenciar um lugar onde as artes estivessem vivas e pulsantes e fossem instigadoras. Um lugar que atravessasse a experiência do brincar e que contasse com educadoras atentas ao brincar com objetivo, com descoberta, despertando e estimulando habilidades e - por que não? - a ampliação dessas.

Avançamos para outros desafios: pular e bater. Iniciávamos sempre retomando o Balança Caixão, passávamos pela exploração dos níveis espaciais até chegarmos no pular corda. Nós, educadoras, começávamos entre nós a brincadeira e as crianças, espalhadas pelo quintal, chegavam aos poucos, cada qual no seu tempo. As filas se formavam para que cada uma pulasse, enquanto as educadoras batiam o ritmo da corda.

Aos poucos, introduzíamos cantigas e as crianças iam conquistando, cada vez mais, habilidades: pular uma vez, pular duas vezes seguidas, pular e cantar ao mesmo tempo, dar dicas para aquelas que ainda tinham dúvidas, perguntar para o amigo qual música ele queria, comemorar as conquistas juntas, organizar e gerenciar a ordem da fila. Algumas crianças ainda não se sentiam seguras para pular. Então, sugeríamos que experimentassem bater a corda com as educadoras. Foi uma grande descoberta! Batendo a corda, elas sentiram o ritmo e entenderam bem o movimento circular.

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Vai ter corda?

O que aconteceu nos meses seguintes foi algo muito inspirador: mesmo quando trazíamos novas propostas, as crianças sempre nos perguntavam se teria corda e, assim, ela foi tomando conta do quintal. Já não era nem mais necessário que as educadoras batessem corda, pois as crianças já se organizavam elas mesmas. Participavam e gerenciavam processo: quem bateria a corda, quem pularia, quem cantaria, além de cuidar da ordem da fila, das regras e dos combinados que precisassem ser feitos.

Pulavam em duplas e até em trios. Depois de um tempo, as que aparentavam insegurança para pular, com a ajuda dos amigos, começaram a se aventurar. As conquistas eram muitas e aconteciam natural e autonomamente. Um aluno inventou uma cantiga, uma menina zerou a música "Um Homem Bateu em Minha Porta", outras duas estavam tão concentradas em bater a corda que as educadoras, que começaram lá atrás, puderam entrar de novo na brincadeira.

Corda e o ritmo

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A corda foi uma aposta bastante feliz para os momentos nossos de quintal. Além de explorar o equilíbrio dinâmico, já que existem cantigas com desafios, como "pule com um pé só", "ponha a mão no chão", "dê uma rodadinha", a corda também desenvolve a lateralidade, possibilita a investigação dos níveis espaciais e impõe um ritmo à brincadeira e ao grupo. Também faz com que a criança possa se autoperceber, mesmo que de forma ainda inconsciente. Aos poucos, observam o ritmo do grupo ao pular e vão se adequando. Essa percepção, ao longo do tempo, será estendida para além da brincadeira de corda e será uma forte base para a dança.

Tantos desdobramentos Foto: Estadão

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

A corda encheu nosso quintal de canções, de risadas, de poesias bem ritmadas e uniu a vontade, a respiração e a voz de todas as crianças em torno do mesmo objetivo. No final do primeiro semestre, ela tomou outras formas: foi transformada em tirolesa, amarrada nas árvores, virou um balanço com pneu, uma grande espiral no chão, fez parte da imensa teia criada no quintal e acredito que teceu ainda outras histórias.

Isso tudo foi desenvolvido com pouca interferência das educadoras de Arte, que atuaram como facilitadoras do processo e observadoras muito ativas. Assim, a corda foi tomando outros rumos por escolha das crianças, pelas suas vontades genuínas de experimentarem a relação da corda com o quintal. Esperamos que, nas férias, as crianças tenham pulado muito e construído outros quintais, com muitas cordas e outras mil maneiras de explorá-las.

* Rita Galante é professora de dança do Colégio Sidarta, em Cotia (SP)

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