Colégio Peretz
28 de outubro de 2015 | 10h50
Por Lígia Fleury
A leitura é, por si só, a possibilidade de uma conexão entre a fantasia e o real. É também o meio pelo qual descobrimos verdades até então desconhecidas. O ato de ler é o momento em que nos aculturamos e nos apropriamos de diferentes saberes por meio de palavras escritas, lidas, ouvidas, percebidas, sentidas.
Carlos Drummond de Andrade já se lamentava com o alto índice de analfabetos de nosso país. É dele o pensamento “A leitura é uma fonte inesgotável de prazer, mas por incrível que pareça, a quase totalidade, não sente esta sede.” Entendo que a sede do conhecimento passe, necessariamente, pela leitura de livros, jornais, revistas, textos digitalizados, pela compreensão de peças de teatro, interpretação de obras de arte, filmes, pelo diálogo com o outro e com o meio. Falo da essência da Comunicação.
Enquanto educadora, sinto-me integralmente responsável por estimular este hábito nas crianças e incentivá-las a querer sempre mais. É na infância que ele pode ser adquirido. Então, por que não apenas bons hábitos, aqueles os quais não serão necessários corrigir no futuro?
A figura do professor é o modelo a ser seguido. Crianças levam, em suas melhores lembranças, com muito carinho, a imagem de quem lhes abriu as portas para o mundo letrado, para quem as acolheu e lhes deu a segurança no processo de construção da autonomia, do aprender com alegria.
Muito antes, porém, de um professor planejar suas aulas, ele precisa se formar e ser um leitor assíduo. Apenas o professor que goste de ler conseguirá formar crianças e jovens capazes de sentirem este prazer de aprender, como tão bem nos disse Drummond.
Dentro do espaço escolar, todos os contratados que ali atuam, são educadores. O primeiro passo, portanto, para a eficácia do Projeto de Leitura, foi o de multiplicar as leituras do corpo docente, compartilhando suas dicas literárias, debatendo manchetes, aliando a teoria à prática do cotidiano escolar.
Paralelo ao processo da valorização cultural de todos os envolvidos, também percebemos ser necessário mobilizar toda a comunidade escolar neste Projeto. No contato com os pais e responsáveis, mostramos a importância da leitura no processo do aprender com alegria.
No ano passado, desenvolvemos o Projeto Leitor, o qual consiste em mobilizar, semanalmente, todos os alunos e funcionários da escola para um momento de 15 minutos de leitura. Durante este período, o silêncio é cortado apenas pelo rumor do folhear das páginas de livros e jornais. A aclamação foi universal, tanto que a ação foi ampliada para ocorrer duas vezes por semana.
No início deste ano, muitas famílias nos relatarma que o Projeto Leitor também ganhou espaço em seus lares. Ficamos contentes e, mais uma vez, constatamos como é importante a parceria família-escola. Optamos por ampliar o tempo de leitura para 45 minutos nos dias em que há atividade integral. Muitos familiares foram convidados a integrar essas atividades e a Escola ficou repleta de pais e avós. Eles almoçam conos e leem para seus filhos e netos.
Apesar do êxito do projeto, percebemos a necessidade de efetivar ainda mais a inclusão. Por isso aproveitamos o potencial de nossos alunos em intervir no mundo, pois eles demonstram percepção da realidade do outro. Este senso de alteridade vem ao encontro dos propósitos do Colégio I. L. Peretz, o de formar cidadãos conscientes, que atuem com responsabilidade social e ambiental, criando soluções para fortalecer a coesão social.
Esse desafio nos motivou a buscar parceiros que pudessem colaborar com esse trabalho. Assim, o Instituto Dorina Nowill somou-se a nós, domesmo modo, a Ecco Talentos, o Instituto Kat Schurmann e a Livraria Saraiva. Nascia então, o ‘Projeto Leitura Além dos Muros da Escola’. Com o auxílio desses incentivadores, arrecadamos muitos livros e fomos para a calçada para ampliarmos a leitura daqueles que não podem ler um livro.
Desde então, pessoas com deficiência visual frequentam a calçada defronte ao Colégio para ler, em braile, para nossas crianças e também ouvir histórias lidas por elas. Uma nova etapa teve início ali, pois dois dias por semana já não eram mais suficientes. Ampliamos a ação para quatro vezes por semana, sendo dois deles na calçada, com o público que por ali transita.
Nossa última parceria se deu com a ONG Olhar de Bia, que nos entregou 400 livros. Nós doamos para essa instituição brinquedos e roupas. Essa experiência permitiu que nossos alunos aprendessem que viver é a arte de compartilhar, de perceber criticamente o mundo que existe além dos muros da escola. Eles aprendem que a vida é uma gostosa brincadeira, repleta de responsabilidades apropriadas a cada faixa etária; aprendem que o viver em sociedade é a possibilidade de se fazer importante para o outro, de doar o seu melhor que, certamente, não é um bem material.
A leitura no Colégio Peretz faz a diferença na sociedade, ampliando horizontes, dando as mãos em uma corrente que multiplica saberes.
Como educadora, sinto-me honrada e gratificada ao ver que um objetivo do planejamento teve tantos desdobramentos, os quais somente são possíveis porque o corpo docente, funcionários, alunos e familiares acreditam na construção de um mundo melhor pela Educação.
Como disse Monteiro Lobato: “Um país se faz com homens e livros” e nós, no I. L. Peretz, temos esta certeza.
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