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Blog dos Colégios

As marcas do Ensino

Por Marcos Muhlpointner

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Por Colégio Peretz
Atualização:

Etimologicamente, ensinar significa, entre outras coisas, colocar uma marca. Os imperadores romanos ensinavam toda vez que eles editavam uma lei. A insígnia de seu anel validava aquilo que estava escrito e a lei deveria ser cumprida. Podemos pensar que o imperador romano era um professor, afinal de contas, ele estava ensinando!

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Os senhores de engenho também deixavam suas marcas nos escravos. Infelizmente eram marcas de opressão, de preconceito, de escravidão. Será que podemos pensar que os senhores de engenho também eram professores, por marcarem (ensinarem) aqueles a quem lhes pertenciam?

Alguns de nós fomos marcados na infância, principalmente os mais peraltas. Lembro-me da minha mãe me marcando depois de alguma atividade irresponsável. Isso deixou marcas profundas em mim.

As principais marcas que minha mãe me deixou foram do amor e do cuidado que ela tinha comigo. Quando ela me marcava, eu não entendia direito na hora, ela estava moldando meu caráter. Ela imprimiu em mim, marcas indeléveis que moldaram o que sou hoje. Posso considerar minha mãe como uma professora que tive ao longo de 21 anos de vida?

Eu fui marcado por meus professores. Alguns deles realmente me ensinaram. E ensinaram muito. Sou capaz de me lembrar de aulas específicas como a dos números relativos da Profª Sandra ou das aulas de leitura da Profª Maria Leonor. E das chamadas orais de verbo da Profª Lucilla! Essas são marcas que não saem mais de mim. Hoje, eu me pergunto, será que estou marcando positivamente meus alunos?

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Não se trata apenas de uma pergunta retórica. Trata-se da minha autoavaliação diária. O que meus alunos levam de mim? O que eles aprendem de mim? Se eles aprenderem apenas Biologia, nomes científicos e equações químicas, que pobre professor eu serei. Se eles souberem de cor as definições ecológicas de indivíduo e comunidade, mas não as identificaram numa viagem de férias, o que foi que eu marquei neles?

Prof. Marcos ensinando de um modo diferente. Foto: Estadão

De que valerá meu esforço, se depois que o sinal toca, a marca do celular ou do tablet for a que fica? Reconheço a dificuldade de competir com essas marcas dos eletrônicos. Por isso a minha prática deve marcar mais que a Apple, ou a Microsoft ou a Sony. Informação pela informação, a marca Google tem mais informação que eu. Sendo assim, eu tenho que desenvolver alguma coisa que seja a minha marca. E, ao contrário da Apple, da Microsoft, da Sony e do Google, eu tenho vida. E meus alunos têm vida, mas às vezes eles se esquecem disso.

Somos humanos e existem relacionamentos entre os humanos que não existem entre os virtuais. Meus alunos pegam em animais e os "enxergam" com as mãos. Eles dissecam flores e "observam" o aroma delas. Meus alunos veem uma reação química acontecer ao vivo. Quando eu estou com eles a floresta se torna uma sala de aula, a praia é mais do que um lugar de descanso. Eu me relaciono diariamente com meus alunos, e junto de nós estão Einstein, Darwin, Newton e Odum.

Quando eu estou com eles, sou forçado a lembrar da Profª Sandra, da Profª Maria Leonor e da Profª Lucilla. Quando eles me perguntam alguma coisa não programada, eles me forçam a pensar e, em resposta, eu os forço a pensar também. Esse uso da força deixa marcas e não machuca. Eles me marcam também. Eles também impõem sobre mim suas insígnias e no final do processo eu também tenho muito deles em mim.

Prof. Marcos ensinando de um modo diferente. Foto: Estadão

Portanto, não apenas etimologimente, mas de modo relacional, eu e meus alunos ensinamos e aprendemos mutuamente. Essa via do ensino-aprendizagem é de mão dupla. Aquele professor que sabia tudo e aquele aluno que não sabia nada, não existem mais. Aquela relação do "fica quieto e me ouça", ou do "eu sei e você não sabe" não existe mais. Como professor, se eu não estiver disposto a aprender, nunca vou conseguir ensinar.

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