Colégio Pentágono
28 de maio de 2021 | 10h45
Por Isabele Veronese*
“O pé da criança ainda não sabe que é pé,
e quer ser borboleta ou maçã.”
Pablo Neruda
Há décadas a educação, com apoio da psicologia, da neurociência e de outros tantos estudos vêm reconstruindo a concepção de infância e de aprendizagem ao longo dos primeiros anos de vida do sujeito, fase mais intensa do desenvolvimento humano. É nesse período que são alicerçadas as bases para a formação psicossocial, cognitiva e motora dos indivíduos. Uma infância devidamente cuidada e desenvolvida em todas essas dimensões é o cerne para uma sociedade mais equilibrada e inteligente.
Nos últimos meses, a pergunta que não cala entre pais, professores e todos os envolvidos direta ou indiretamente na educação das crianças pequenas é “como assegurar a aprendizagem e o desenvolvimento das crianças pequenas, sobretudo em fase de alfabetização, em tempos de pandemia e aulas remotas?”
De um lado, a escola assegura a constância e a frequência da rotina, oferece momentos de interação síncrona com o professor e com os colegas, propõe atividades que possam ser feitas de forma autônoma ou com apoio da família, estuda, pesquisa, avalia e seleciona as aprendizagens essenciais e as melhores estratégias para garanti-las em ambiente digital.
Mas e a família, como pode ajudar nesse processo?
Sem dúvida a parceria entre a família e a escola, que é essencial em qualquer circunstância, se torna indispensável para que os pequenos estudantes continuem aprendendo e se desenvolvendo. Primeiro, porque ainda não possuem autonomia para realizar todas as propostas. Segundo porque estão em casa! Há brinquedos, TV, irmãos e muitos outros distratores, muitas vezes, mais interessantes do que realizar uma atividade assíncrona ou participar de um meet.
E no Pentágono, a parceria entre família e escola é um dos valores da instituição que fez a diferença para o sucesso da aprendizagem, sobretudo das crianças em processo de alfabetização, durante as aulas remotas. A confiança mútua e o compromisso com a infância contribuíram para para a tomada de decisões acertadas e para a coerência das ações de todos os envolvidos.
Além de estabelecer uma rotina de estudos e preparar um ambiente favorável à realização das tarefas escolares, contamos com a participação dos pais e familiares, também, em situações do cotidiano nas quais utilizamos a linguagem para resolver problemas e que poderiam se transformar em oportunidades significativas para as crianças pensarem sobre a leitura e a escrita e continuarem aprendendo fora da escola.
Não há regra! Não pode ser um fardo tão pouco um trabalho a ser cumprido, uma obrigação, mais uma tarefa na lista infinita de coisas a serem feitas. É preciso que seja prazeroso, significativo para as crianças e para seus familiares. É preciso descobrir nos acontecimentos do dia a dia a preciosidade da linguagem que nos cerca, que nos constitui e que nos possibilita ser, estar e atuar no mundo. E, assim, num constante processo de investigação e descobertas, torna-se possível aprender em casa. Ou melhor, torna-se impossível não aprender!
Como no poema de Neruda mencionado no início do texto, ser criança é ter um pé que não sabe que é pé, assim de forma tão limitada. É ser capaz de criar, de imaginar, de sonhar, de ressignificar de modo que pé seja mesmo borboleta ou maçã.
Isabele Veronese – Assessora de Língua Portuguesa da Educação Infantil e Anos Iniciais do Colégio Pentágono
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