Constituindo a parte final da ação pedagógica, os alunos fazem manifestos e criam painéis com grafites, inserindo desenhos e textos, resultados da vivência que tiveram no Centro Histórico de São Paulo. A partir daí, convidados especiais participam de uma mesa redonda para discutir propostas políticas e sociais dos alunos Maristas.
Como é de praxe, o encerramento do projeto contou com música de abertura ("Não existe amor em SP", de Crioulo) a partir da participação de alunos e de professores no Salão Nobre. A mesa debatedora contou com a Profa. Dra. Regina Rizzo Ramires, graduada e mestre em Geografia pela Universidade de São Paulo (USP), o Prof. Dr. Luiz Carlos Menezes, professor sênior do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP) e consultor da Unesco, o jornalista Thiago Tanji, editor da revista Galileu,Alexandre Piero, coordenador de administração e finanças da Secretaria de Cultura da Cidade de São Paulo eJuliana Cardoso, vereadora do PT (Partido dos Trabalhadores) e militante do movimento popular.
Manifestos
Ora os alunos eram convidados a ler seus manifestos ou cartas autorais, ora os convidados comentavam as observações dos alunos. Os temas que chamaram a atenção dos Maristas foram bem diversificados, passando pelos moradores de rua ("...o governo não tem olhos para os moradores de rua, eles são invisíveis"), pela questão da violência x falta de segurança ("A situação de São Paulo é anárquica, sendo marcada pela violência, insegurança, morte de policiais, guerra civil, abusos no metrô..."), pelo problema de falta de moradia ("...Observamos as ocupações e habitações irregulares, pudemos conhecer moradias e notamos que são trabalhadores que sustentam suas famílias..."), pela questão de gênero ("...Muitas pessoas são negligenciadas, agredidas, como os transexuais. Como diz a música, 'Narciso acha feio aquele que não é espelho' ... essas vozes precisam ser ouvidas"), entre outros assuntos.
O Prof. Dr. Luiz Carlos Menezes comentou que, ao observar os cartazes sendo carregados nas ruas - antes do encerramento no Salão, os estudantes percorreram os arredores do Colégio mostrando os cartazes elaborados no Órbitas -, ficou emocionado. "O convívio no pátio me alegrou na finalização dos materiais, dando-nos um sentido de protagonismo e participação. O Órbitas foi apropriado e um projeto educativo só é real quando é incorporado. A escola é uma comunidade de trabalho. O aluno está trabalhando, trata-se de um trabalho de intervenção", declarou.
Segundo o consultor da Unesco, ainda há esperança e o projeto chama atenção para coisas que estão naturalizadas. "Os meninos olharam para realidades como a do crack em São Paulo, situações em que o 'lixo humano' se mistura com o lixo urbano. Um dos cartazes mostrou os seguintes dizeres: 'Não é porque você não me vê que sou invisível'. O homem placa é invisível, os funcionários da limpeza terceirizados são invisíveis. Essas pessoas são como móveis e utensílios. Cada cartaz mostra um jovem que não se acostuma com essa realidade, cada cartaz tira um calo da cidade", arrematou Menezes.
A vereadora Juliana Cardoso comentou que além de "estar" vereadora, ela é militante dos Direitos Humanos. "Temos que procurar fazer a diferença para termos uma sociedade mais justa. Não bastam boas notas na escola, é necessário observar e modificar a realidade da comunidade, das sociedades, dos indivíduos e das políticas públicas. Temos um papel, não vamos conseguir mudar o mundo, mas podemos mudar o mundo onde estamos", afirmou resoluta. Segundo a vereadora, para lidar com o ser humano é preciso enxergá-lo, olhar no olho de uma pessoa, ter sentimentos por ela. "Provocando" a plateia, Juliana Cardoso lançou as seguintes perguntas: "O que vocês entendem por segurança?", "O que é política?".
Quanto à questão da neutralidade, o jornalista da revista Galileu (Editora Globo) Thiago Tanji comentou sobre a cobertura da imprensa, sobre a importância de coletar histórias dos bairros e de abranger grandes temas da cidade. "A apuração de vocês é exemplo de jornalismo", afirmou.
"É importante ampliar os olhares em todas as áreas. O que mais vale é o exercício do olhar, de se posicionar politicamente, mais do que lidar com a situação propriamente dita. O que precisamos saber, de fato, é o que o poder público já está fazendo para não repetirmos o óbvio e/ou o que já está sendo feito", declarou a Profa. Dra. Regina Rizzo Ramires. A professora também ajudou a promover reflexões, jogando perguntas para os estudantes. Algumas delas: "Qual o significado de centralidade? Por que no centro? Por que neste centro? Por que os calos sociais estão no centro? Poucas pessoas moram de fato no centro. Por que a concentração dos moradores de rua está no centro?".
E o último dos convidados foi Alex Piero, representante da Secretaria de Cultura da Cidade de São Paulo. Piero afirmou que a cidade de São Paulo é extremamente desigual e estabeleceu um diálogo muito próximo com os alunos: "Vocês já ouviram falar da Pirâmide de Maslow? Ela estabelece as necessidades humanas. Na base da pirâmide, temos a parte fisiológica (comida, água, respiração, sono, etc.) e subindo temos segurança, aspecto social, autoestima e no ápice está a realização pessoal - muito importante! A conclusão a que chegamos é que temos outras necessidades para além da sobrevivência. Porque a gente não quer só comida...", disse no Arquidiocesano.