No caso do ENEM que envolve a quase totalidade do alunado do ensino médio, pequenas variações no direcionamento da prova podem gerar, nos mais afoitos, distorções no encaminhamento de programas e abordagens temáticas.
Desta feita, o tema da redação do ENEM, encharcado de boas intenções, conseguiu, no esforço da inclusão, excluir de pontuar na prova uma substancial parcela dos candidatos. Se a questão da inclusão dos deficientes tivesse uma abordagem geral, estaríamos num campo tratado pela mídia e pelas escolas com certa frequência. No entanto, ao se restringir a questão aos surdos conferiu-se à temática uma especificidade desclassificatória só passível de correção pelos critérios de avaliação.
Não há o que se discutir na grande premência social da questão da inclusão social lato senso, tema que deveria ser, exaustivamente, discutido e, sobretudo, praticado em todas as esferas da vida civilizada, esse não é o foco aqui e nem poderia sê-lo.
Contrassenso desnecessário numa prova que influencia tantas vidas e que parametriza setor tão importante da vida nacional: mais uma vez, as boas intenções e a má abordagem, aumentaram a hospedaria do diabo.
Não se pode deixar de lado a oportunidade para reduzir, ao seu devido valor educacional, essas grandes provas. Sempre é oportuno lembrar aos estudantes e aos pais que as mesmas não são etapas terminais, mas momentos transitórios e passiveis de reformulação.
Por fim, jamais será excessivo cobrar dos educadores menos arroubos "ideologizantes", menos "quixotismo" aventureiro, mais respeito às especificidades da realidade brasileira e, sobretudo, mais efetividade.
Professor Henrique Vailati Neto é diretor do Colégio FAAP - SP. Formado em História e Pedagogia, com mestrado em Administração. É professor universitário nas disciplinas de Sociologia e Ciência Política. Tem quatro filhos e quatro netos.
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