Para não comprometer o calendário escolar, já conturbado pela pandemia, as atividades esportivas e recreativas foram concentradas, mas mantiveram um surpreendente índice de adesão. O afastamento social se revelou, em toda a sua crueza, na alegria do reencontro de nossos alunos num espaço lúdico e "desinfetado" do universo digital, mais nocivo do que se supunha.
Num primeiro momento, no nosso Colégio de São Paulo, os alunos receberam as lideranças da Comunidade de Heliópolis - objetivo da campanha de arrecadação de alimentos e que foi uma das provas da gincana.
A apresentação da Comunidade de Heliópolis e suas características pelas lideranças da mesma revelou um universo paralelo contundente, mas muito real aos nossos alunos: perto de duzentos mil habitantes concentrados em uma área que se verticaliza com precariedade; ações comunitárias buscando minimizar a miséria endêmica agudizada pelas cruéis consequências da pandemia; as heroicas ações voluntárias e da própria comunidade para a conquista de condições minimamente humanas de vida foram parte do cenário apresentado.
Entremeada às competições, a campanha de arrecadação de alimentos não perecíveis atingiu, no seu pouco tempo de duração, perto de duas toneladas, prova inconteste de que a "mensagem" fora assimilada e o desafio incorporado. É necessário lembrar que, desde a criação do Colégio FAAP, anualmente, promovemos campanhas assistenciais com adesão maciça de nossos alunos e com completa consciência e sensibilidade de seus objetivos finais e que culminaram com ações concretas de visita e eventos em creches, asilos e outras entidades beneficentes.
Ao encerramento da Gincana, um grupo de alunos acompanhado pela nossa equipe levou as doações à Comunidade de Heliópolis numa visita que, para a maioria, representou a transposição consciente do limite antropológico entre a abundância e a carência.
Após nosso time descarregar a volumosa e pesada doação num gesto espontâneo de demonstração de entrega, fomos guiados para uma visita às instalações da administração comunitária e pudemos "pisar o solo comunitário", passeando pela estreiteza agigantada de uma pobreza lutando pela dignidade.
Olhares atentos em meio ao silêncio de tristes surpresas que foi quebrado por uma frase lapidar e tradutora do sucesso da ação: "nos parecia uma grande ajuda, mas não é nada...", quebrou o silêncio uma das meninas.
Foram ações permitidas pelo Colégio, ou seja, alavancadas por uma responsabilidade social latente que necessita, tão somente, de canais de expansão!
Professor Henrique Vailati Neto é diretor do Colégio FAAP - SP. Formado em História e Pedagogia, com mestrado em Administração. É professor universitário nas disciplinas de Sociologia e Ciência Política. Tem quatro filhos e quatro netos.
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