Na voragem tecnológica que envolve esses "nativos digitais", preocupações antigas que sempre assombraram os pais retornam em volume e profundidade maiores. Houve época em que as histórias em quadrinhos eram os vilões da educação formal acusadas de roubar a atenção das crianças para os bons textos e para as histórias de conteúdos mais educativos. Na voragem da modernidade, surgiu um vilão mais poderoso e incontrolável, a televisão, destruidora dos bons costumes, absorvente e desvirtuadora. Hoje, por fim, é o universo virtual, de alcance total e de efeitos imprevisíveis.
Lutar contra o novo foi, através da história, o mais inglório e inútil esforço. Aliar-se e se aproveitar do poder e do encantamento da inovação é o grande desafio, já que foram inúmeras as aventuras pedagógicas provocadas pela adoção do novo como sinônimo e progresso.
Nesse longo entrevero entre a modernidade e a adequação dos novos instrumentos à educação, o destemor ante a mudança e o bom senso têm sido o norte seguro. Experimentos controlados e calmamente avaliados têm sido preciosos para que as novas gerações sejam libertadas de viciadas e improdutivas práticas, sem serem cobaias de modismos.
Postas tais considerações, nos arriscamos a algumas perguntas para as quais dedicamos o máximo de nossas atenções, mas cujas respostas a velocidade e a brevidade do tempo ainda não permitem conclusões.
Em que medida a qualidade das relações sociais dessas crianças e jovens fica comprometida pela reclusão nessas verdadeiras cavernas digitais. É curioso, senão assustador, assistir um grupo conversando nas redes a dois metros do interlocutor; fico tomado de uma profunda preocupação ao ver uma família, à mesa de um restaurante, presa a tablets e celulares fazendo da refeição familiar um evento de distanciamento humano e imersão tecnológica.
Nem vem ao caso a qualidade dos textos produzidos nas redes (se os idiomas são seres vivos), preocupa a inutilidade das informações buscada na "Era do Conhecimento", no sentido de sua vacuidade e superficialidade ante a incrível riqueza à disposição do usuário.
Por fim, e não menos importante, a relativa ignorância de nossas crianças e jovens quanto às consequências de sua exposição nas redes sociais. Por mais que famílias e educadores se esforcem para alertar dos perigos de se divulgar perfis e informações pessoais, são comuns os "acidentes lamentáveis" de feitos imprevisíveis.
De forma diversa da que controlamos a leitura dos quadrinhos, limitamos o horário da televisão, temos que cuidar dos nossos nativos digitais expostos ao inusitado universo da tecnologia incontrolável. Não podemos arriscar a delicadeza de nossas crianças à voracidade do poder de absorção dos modismos.
Professor Henrique Vailati Neto é diretor do Colégio FAAP - SP.Formado em História e Pedagogia, com mestrado em Administração. É professor universitário nas disciplinas de Sociologia e Ciência Política. Tem quatro filhos e quatro netos.
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