Colégio FAAP
23 de março de 2018 | 15h03
No contexto da educação formal, poucos temas geram tantas preocupações, cuidados e conflitos quanto o dos critérios de avaliação enquanto fatores de promoção ou reprovação, ou seja, de enaltecimento ou degradação do educando.
Há um conteúdo subjacente, poderoso e inequívoco na avaliação escolar enquanto fonte de poder do professor. Transformar as notas em instrumentos de controle ou dominação (recurso corriqueiro), é, absolutamente, inadequado.
Em tempos onde a distância geracional foi agravada pelo ritmo das transformações, as dissintonias e os atritos com a autoridade em seus mais variados níveis facilitam as soluções pelo poder. É nessas situações de vacuidade da autoridade que o poder da caneta vermelha se inscreve como valor de moeda reinante na educação. Aí reside um incalculável risco para a manutenção da coerência do processo de aprendizagem!
Desvestir a avaliação desse conteúdo nefasto de violência é uma das tarefas mais espinhosas e indeclináveis do educador porque o remete a uma constante autocrítica e, sobretudo, a uma sintonia fina com o universo do aluno.
Quando a autoridade escolar só existe pela coação, a essência do educar se perde e o clima necessário ao aprender fenece.
O poder que deriva da autoridade, ou seja, do consentimento, em qualquer instituição, é a única maneira de liderança civilizadamente cabível. Na educação é insubstituível.
Quando, no início de um curso, o professor saca do seu “coldre didático” a fatídica fala, “na primeira prova vocês verão”, assassina e enterra o professor. Assim, travestido de feitor, mostrará o porquê passará para o lado negro da memória de suas vítimas escolares e, quase sempre, marcará sua disciplina com essa mesma pecha.
É fato consumado pela melhor cartilha pedagógica que o processo de avaliação deve ser contínuo, pulverizado na maior variedade possível de instrumentos e, sobretudo, considerar as possibilidades dos alunos. Concentrar a avaliação em momentos sacralizados em grandes provas é permanência de um passado a ser esquecido.
Assim, ao considerarmos o processo de avaliação, devemos ter muita clareza quanto ao avaliar o aluno no seu crescimento global. A rigidez dos décimos de pontos e dos não arredondamentos fazem crer que seja possível mensurar, nessa miopia, o desenvolvimento humano.
Terminamos parafraseando um ditado árabe: se Deus nos julgasse com o rigor de certos professores, estaria sozinho no paraíso.
Professor Henrique Vailati Neto é diretor do Colégio FAAP – SP. Formado em História e Pedagogia, com mestrado em Administração. É professor universitário nas disciplinas de Sociologia e Ciência Política. Tem quatro filhos e quatro netos.
Troque ideia com o professor: col.diretoria@faap.br
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