Se "no atacado" a afirmação, acima, já é um lugar comum no que se refere a políticas governamentais em todos os níveis, venho, aqui, mostrar que tal desvalorização da educação é um dado inconsciente de nossa cultura.
Ninguém duvida que todos os problemas graves que vive uma civilização nascem e terminam na educação: falta de cidadania, ineficiência das leis, falta de representatividade e preparo das elites políticas, endemias, epidemias, violência urbana e doméstica, preconceitos, formam uma infindável cadeia de mazelas decorrentes do cancro maior, a ignorância.
Partindo-se do princípio que as macroestruturas culturais residem e resistem em cada indivíduo, nada é mais desalentador do que verificar, até mesmo nas classes mais favorecidas, a pouca importância, até mesmo o descaso no cotidiano do processo de educação e que reflete todo universo de valores que envolve a questão: considerando-se que um planejamento pedagógico obedece a calendários, persegue objetivos e estratégias cuidadosamente estabelecidos, cada etapa desse processo tem seu valor pensado assim, a perda de um dia letivo deveria ser um acidente evitado a todo custo.
Mesmo no ensino particular, não é raro se verificar viagens de lazer marcadas em períodos letivos; famílias que se descuidam da frequência dos filhos e que obrigam ao administrador pedagógico todo um trabalho de constante orientação e vigilância.
Estar junto do estudante nos pequenos passos do educar, nas tarefas de casa, no acompanhamento de sucessos e de fracassos, é o irrisório preço para o sucesso da educação.
Sem querer diminuir a responsabilidade dos responsáveis, de fato, essa cultura da importância relativa que se refere à educação como um todo, fica evidente no quão pouca importância se dá, quer à preparação de docentes, quanto às suas condições de trabalho ou de não trabalho: greves de professores, quase são comemoradas.
Valorizar, senão o que se paga pela educação, é dar valor ao futuro e à felicidade de nossos jovens e, tudo o mais, são projetos hipócritas ou míopes com os quais não podemos compactuar muito menos em nossa esfera privada, já que a questão é de princípio e não de quantidade.
Professor Henrique Vailati Neto é diretor do Colégio FAAP - SP. Formado em História e Pedagogia, com mestrado em Administração. É professor universitário nas disciplinas de Sociologia e Ciência Política. Tem quatro filhos e quatro netos.
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