Acaba de ser publicada uma obra revelando essa valorização: "Super-heróis das Ciências: 52 brasileiros e suas pesquisas" tenta resgatar cientistas que, apesar de terem levado suas pesquisas a elevados patamares, ficaram no limbo do reconhecimento público no Brasil. Nada mais justo e preocupante enquanto sintoma profundo de um quadro cultural mais amplo.
É fato que, há cerca de algumas décadas atrás, quando as ciências humanas foram preteridas (por questões ideológicas) e se buscava um rápido desenvolvimento tecnológico, houve um incentivo ao tecnicismo que, de forma alguma, pode ser visto como apoio equivocado à formação de cientistas, como mostraremos a seguir.
A gestação de ciência carece, muito além de incentivos materiais e estímulos sociais (ausência que tem provocado uma histórica evasão e "sequestro" de capacidades), de um processo a ser trabalhado nas escolas, desde o nível fundamental, de forma mais efetiva e cuidadosa, buscando, mesmo, a essência criadora da postura científica.
É fato que, considerando as últimas décadas, muito se realizou de construção uma educação para as ciências: uma miríade de iniciativas tais como as feiras de ciências e artes que incentivam a pesquisa de forma concreta e efetiva (um pouco mais centrada nas ciências da natureza), iniciativas louváveis, mas insuficientes.
Falo da consolidação de uma pedagogia para a criação das habilidades intelectuais para a formação científica.Uma cultura de liberdade crítica e criativa, onde o aluno, em paralelo à aquisição de um acervo adequado (pois atual) de conhecimento, seja instigado a criticar e a criar, elementos essenciais à formação do pensar científico.
Como pré-condição inequívoca para a criação dessa pedagogia para a formação científica, em todas as áreas das ciências, há que se estabelecer uma cultura de liberdade crítica, responsável e criativa. Situações restritivas, autoritárias e dogmáticas, muito comuns no ensino chamado de "sério e tradicional", são terrenos propícios de esterilização da iniciação nos fundamentos das ciências.
Atribuir à universidade a responsabilidade por essa tarefa é pretender a construção de um edifício iniciando-o pelo último pavimento é despautério educacional de consequências trágicas!
Professor Henrique Vailati Neto é diretor do Colégio FAAP - SP. Formado em História e Pedagogia, com mestrado em Administração. É professor universitário nas disciplinas de Sociologia e Ciência Política. Tem quatro filhos e quatro netos.
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