Eis que surgem as redes sociais nas quais, como múltiplas, independentes e irresponsáveis editorias, tudo irresponsavelmente se publica, dissimulando inconfessáveis interesses, incorporando a doença epidêmica das fake news!
No cerne das consequências desse nefasto fenômeno, surgem, insidiosamente, as raízes de um cancro cujas metástases têm devastadores efeitos: a credibilidade em sua essência. Quando as piores intenções semeiam o fel corruptor da desconfiança, muito mais do que invalidar verdades pontuais, colocam sob suspeita conquistas da ciência e valores universais cristalizados pela humanidade.
Numa entrevista, recém-publicada, Salman Rushdie levanta tão vital questão que a todos e, em particular a nós educadores, deve preocupar. Nunca esquecendo que as ciências não criam leis absolutas, mas hipóteses firmemente consolidadas pelos rigores do método e que "achismos" escusos minam sua credibilidade, estabelecendo o império da irracionalidade; não olvidando de que os valores éticos são alicerces da vida coletiva e que sua dissolução compromete o processo civilizatório.
Se, antes, cometíamos o exagero de afirmações absolutistas, tais como, "está cientificamente provado" e que conferiam às ciências verdades imutáveis, hoje caminhamos para o extremo oposto, quando lixo é vendido como preciosidade e, mais do que nunca, pérolas alimentam suínos.
Se já havíamos abordado este tema num texto anterior, o retomamos, sempre no foco do educador, enfatizando o dever da escola contemporânea de educar para a criação de uma cultura analítica de dados. Nos cabe a tarefa de ajudar a desintoxicar nossos alunos da má qualidade dos dados recebidos e ajudá-los a assumir posições independentes na interpretação da realidade, livres das "máquinas de robotização de consciências", operadas pela inteligência artificial, a partir de poderosos bancos de dados.
Não serão os arsenais tecnológicos que haverão de criar uma cidadania digital democrática. Ou seja, a consciência das responsabilidades e possibilidades da vida em sociedade serão os esforços da educação em todos os níveis em que ela possa operar.
Professor Henrique Vailati Neto é diretor do Colégio FAAP - SP. Formado em História e Pedagogia, com mestrado em Administração. É professor universitário nas disciplinas de Sociologia e Ciência Política. Tem quatro filhos e quatro netos.
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