Outra grande lição destes tempos de agonia é a incerteza que ronda quase todas as nossas previsões e que deságua numa verdadeira epidemia de ansiedade enquanto moléstia do obscuro tempo futuro. Sobre tudo o que se planeja paira uma pesada e indevassável nuvem.
Tudo obriga, a nós educadores, a tarefa de levar os nossos alunos à reflexão sobre a incerteza, sobre como perder a prepotência de uma civilização cega pela falsa segurança conferida pelas conquistas tecnológicas. Devemos conduzir à reflexão crítica sobre a fragilidade da vida nos centros mundiais da "civilização adiantada". Temos que convidar a ponderar sobre o angustiante convívio com o caminhar a pequenos e pensados passos.
A tarefa deverá ser o fazer da incerteza uma aliada, uma fonte de análise constante e cuidadosa das possibilidades de se sobreviver com dignidade; de se fazer do incerto um estímulo e não uma ameaça. Desafio de nossas vidas!
Mas a construção de uma pedagogia da incerteza demandará, da nossa parte, a confirmação dos nossos mais profundos e sólidos princípios éticos e morais, fundamentos únicos para se repensar a possível imponderabilidade que enfrentaremos. Quando quase tudo entra num processo de esvaziamento das certezas, o que permanece são nossas mais profundas crenças e, se elas se liquefazem, é porque eram construções frágeis plantadas em alicerces equivocados.
Para que possamos fortalecer essa vital reação, é necessário que as escolas mantenham e acentuem o foco na discussão filosófica e ética, permeando todas as disciplinas, é preciso que, mais do que nunca, se minimizem as abordagens centradas em conteúdos que visam, tão somente, objetivos pragmáticos e comerciais. Ou seja, vestibulares e provas de "rankeamento" não são imorais, mas serão um desserviço para o esforço de reconquista de um sentido civilizatório nesta ausência de um norte!
As grandes crises históricas têm o condão de, ou gerar multidões desorientadas e consumidas pelas incertezas, ou focos de renascimento do pensamento e das artes que fazem a retomada da humanidade em patamares superiores. Cabe a nós, educadores, escolhermos para qual destes caminhos queremos orientar os nossos alunos.
Professor Henrique Vailati Neto é diretor do Colégio FAAP - SP. Formado em História e Pedagogia, com mestrado em Administração. É professor universitário nas disciplinas de Sociologia e Ciência Política. Tem quatro filhos e quatro netos.
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