Vivendo e aprendendo a jogar

Para você, que tem menos de 30 anos de idade, talvez o título deste texto não ecoe do modo como ecoa em meus ouvidos. Neste exato momento, em que estou escrevendo, em meu cérebro está tocando uma rádio interna, com a voz da maravilhosa Elis Regina, cantando os versos que ela eternizou (como tudo o que fazia), de autoria de Guilherme Arantes: "Vivendo e aprendendo a jogar/vivendo e aprendendo a jogar/nem sempre ganhando/nem sempre perdendo/mas aprendendo a jogar".

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Por Colégio Bandeirantes
Atualização:

E a voz da Elis diz uma grande verdade.

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Vida e jogo são palavras que se entrelaçam. Querem ver?

Primeiro, falemos sobre esporte.

Um esportista tem de buscar o máximo de sua técnica. Tem de se conhecer profundamente, a fim de aprimorar seus pontos fortes e fracos. Tem de treinar para atingir o melhor que o seu corpo lhe permite. Isso, no dia a dia. Porém, quando um dia de competição se aproxima, além de buscar o máximo de sua técnica, ele tem de se dedicar à tática. Ele tem de conhecer o seu adversário. Tem de "amar o seu adversário", a ponto de saber como lidar com ele - a ponto de ser capaz de o vencer.

Podemos citar os mais diversos exemplos de esportistas.

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 Foto: Estadão

O espetacular tenista Roger Federer busca o máximo de sua técnica, sempre. Treina fundamentos: saques, drop-shots, voleios (a nossa tenista-maior, Maria Esther Bueno, durante uma partida de Federer em Wimbledon, comentou que no dia anterior viu Federer treinar nada menos do que 1h30 de voleios. Uma-hora-e-meia de voleios! Direto. Sem parar). Mas não é só isso. Federer também estuda taticamente seu adversário: se quer vencer Rafael Nadal, por exemplo, tem de ganhar cada ponto de modo bem rápido, porque o espanhol é tanto melhor quanto mais longos os pontos.

O mesmo acontece com jogadores de futebol, e de basquete, e de vôlei. Eles treinam, no dia a dia, técnicas, trocas de bolas, "bolas paradas", pênaltis, bolas de dois e três pontos, bloqueios, saques. Claro. Contudo, quando um jogo importante se aproxima, eles também têm treinos táticos, que definem como eles devem jogar para vencer aquele time em especial. Noutras palavras, os jogadores adaptam seu jogo àquele adversário específico.

Agora, saiamos do mundo esportivo e falemos sobre o que ele pode representar.

Na verdade, a metáfora esportiva caberia perfeitamente a qualquer elemento da vida. Caberia à própria vida, de um modo bem genérico mesmo, já que cada indivíduo deve - ou ao menos deveria... - buscar atingir o seu melhor. Deve buscar ser uma pessoa honesta, ilibada, dedicada, possuidora de todos os adjetivos que se refiram ao Bom, ao Belo, ao Justo. Mas deixemos isso de lado (só aqui no texto, combinado?) e falemos sobre um assunto mais específico, que é o pesadelo de muitos jovens: o vestibular.

Assim como um esportista, um vestibulando deve buscar o máximo de sua técnica. Tem de se conhecer profundamente, a fim de aprimorar seus pontos fortes e fracos. Tem de treinar para atingir aquilo que de melhor pode alcançar. Esse é o motivo pelo qual meninos e meninas estudam tanto quando chega a época do vestibular. Apostilas e mais apostilas, revisões, aulas, plantões de dúvidas, exercícios extras, redações (e tudo o que se vê nas aulas de redação: aprendizado sobre diversos gêneros textuais, técnicas de escrita, aprendizado sobre estruturação de diferentes textos etc.). Tudo isso faz parte do "buscar o máximo de si".

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Mas isso não basta. Além da técnica, é necessário que haja a tática. Nesse caso, é importante que o vestibulando consiga adaptar-se a diversas situações. Ele tem de se dedicar a conhecer o seu "adversário". Tem de "amar o seu adversário", a ponto de saber como lidar com ele - a ponto de ser capaz de o "vencer".

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Falemos um pouco mais especificamente sobre as provas de redação.

Não estou dizendo aqui que o vestibulando precisa "escrever o texto para agradar a banca". Não se deve fazer nada para agradar a alguém (aprende-se isso com a vida...). Ademais, uma banca tem outros elementos a avaliar: a pertinência do texto à proposta, a clareza e a adequação da linguagem, a organização e a fluência do texto, a habilidade do vestibulando em articular a proposta a seus próprios conhecimentos sobre o assunto. Não é sua função julgar o ponto de vista do candidato. Portanto, o vestibulando não deve querer agradar a banca; deve, isso sim, ter uma postura, digamos, "tática": ele precisa conhecer cada "adversário" (percebam que não estou usando a palavra "inimigo"!) muito bem, para que consiga dar o seu melhor em cada "jogo".

Se o menino/a menina fará as provas do Enem, da Fuvest, da Unicamp, da Unesp, da Unifesp, da Puc, da Espm, do Insper etc., é importante que ele/ela conheça muito bem as provas de cada uma dessas instituições. Assim, vale que o candidato procure provas de anos passados para analisar: qual espécie de tema aquele vestibular costuma pedir? A proposta costuma apresentar coletânea? Qual gênero textual é solicitado do candidato? Quantas linhas são permitidas para a escrita do texto? Quais as características dos textos considerados "nota 10"? Com essas informações, o vestibulando se sentirá mais seguro, por não ser surpreendido no dia da prova, e poderá dar o seu máximo - para que, enfim, o vestibular deixe de ser um pesadelo; para que, enfim, o seu sonho de ser aprovado na faculdade se torne realidade.

E por falar em "ser aprovado no vestibular dos sonhos", retomemos o refrão da música. Ser ou não aprovado no vestibular é - sim, é isso mesmo! - um mero detalhe do processo. O vestibulando - como acontecerá ao longo de toda a sua vida - tem de dar o máximo de si, sempre. A canção não diz "nem sempre ganhando, nem sempre perdendo, mas aprendendo a jogar"? Pois é isso: o esporte (mesmo o mítico Roger Federer sabe bem disso) nos ensina que nem sempre se "ganha" na primeira vez, e "perder", às vezes, faz parte do jogo. Faz parte da vida. E, com toda a certeza (com percalços, às vezes), em algum momento o vestibulando ganhará o seu jogo. Afinal, ele terá agido da melhor forma possível e terá... aprendido a jogar.

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Fabiana Parra De Lazzari Professora de Redação e Laboratório de Redação das 3.as séries do Ensino Médio do Colégio Bandeirantes

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