Colégio Bandeirantes
25 de março de 2015 | 12h59
É comum, no cotidiano escolar, ouvirmos dos alunos a seguinte queixa: “Eu estudo muito para a prova, mas, quando chega na hora de responder, eu não sei o que é para fazer… Como posso melhorar?”. Algumas pessoas podem pensar que, talvez, o aluno não tenha estudado tanto quanto deveria e respondem: “Estude um pouco mais da próxima vez.”. Embora o estudante, em seu discurso, já tenha identificado qual é o seu problema (“não entendo o que é para fazer”), o conselho a ele oferecido não responde a seu questionamento, ou seja, não o ajuda a “melhorar”. E por falar em não responder ao que se perguntou, vamos tentar auxiliar aqueles que “estudam” – dominam os conteúdos –, “mas não sabem o que é para fazer na prova”, respondendo-lhes como podem melhorar.
Para ser bem-sucedido em uma prova – de qualquer disciplina – não basta que o aluno domine os conteúdos que nela serão verificados. É necessário, além disso, que o aluno seja um leitor competente, ou seja, que saiba interpretar textos. E não apenas os textos motivadores que costumam acompanhar as questões, mas, sobretudo, os enunciados, que são, também, textos. O aluno que não compreende o enunciado é aquele que “não sabe o que fazer na prova”. Sendo assim, cabe ao professor – e não só ao de Língua Portuguesa – ensinar-lhe como interpretar enunciados.
Vejamos um exemplo, considerando a seguinte questão da Fuvest 2015:
Leia o texto.
A luz aumentou e espalhou-se na campina. Só aí principiou a viagem. Fabiano atentou na mulher e nos filhos, apanhou a espingarda e o saco dos mantimentos, ordenou a marcha com uma interjeição áspera.
Afastaram-se rápidos, como se alguém os tangesse, e as alpercatas de Fabiano iam quase tocando os calcanhares dos meninos. A lembrança da cachorra Baleia picava-o, intolerável. Não podia livrar-se dela. Os mandacarus e os alastrados vestiam a campina, espinho, só espinho. E Baleia aperreava-o. Precisava fugir daquela vegetação inimiga.
Graciliano Ramos. Vidas secas.
a. Além da presença de espinhos, cite outras duas características da vegetação do bioma em que se passa a história narrada na obra Vidas secas.
b. Considerando a data de publicação da primeira edição do romance Vidas secas (1938) e a região em que se passa seu enredo, caracterize os problemas sociais sugeridos pelo texto.
Note que se trata de uma questão interdisciplinar, pois parte de um texto literário e apresenta questões que envolvem conhecimentos de Biologia, Geografia e História.
Ao ler o texto motivador, o aluno vai se lembrar de que o fragmento se refere ao momento em que Fabiano e a família, mais uma vez, retiram pelo sertão nordestino brasileiro em decorrência da chegada de mais um período de seca (o que se evidencia em “Só aí principiou a viagem”). Também no fragmento, o narrador menciona características da vegetação daquela região (“Os mandacarus e os alastrados vestiam a campina, espinho, só espinho.”). Após entender o texto e acionar seus conhecimentos sobre o enredo de Vidas secas, o aluno deve partir para a interpretação das questões.
Em princípio, o estudante deve saber que, na maioria das questões, há, pelo menos, um verbo de comando. Buscar esse verbo, saber qual seu significado preciso, destacá-lo e, em seguida, destacar seus complementos ajuda muito no entendimento da questão. Note:
a. Além da presença de espinhos, cite outras duas características da vegetação do bioma em que se passa a história narrada na obra Vidas secas.
Para responder a essa questão, o aluno deve perceber que:
b. Considerando a data de publicação da primeira edição do romance Vidas secas (1938) e a região em que se passa seu enredo, caracterize os problemas sociais sugeridos pelo texto.
Para responder a essa segunda questão, o aluno deve perceber que:
Feitas essas análises, o aluno já sabe, com segurança, o que ele tem de fazer. Resta-lhe, então, redigir as respostas com coerência e precisão, certificando-se de que respondeu exatamente ao que se pediu – mas esse é um assunto que deixamos para uma próxima vez.
Susana Regina Vaz Hungaro – Coordenadora de Português
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