MEC manda email para escolas pedindo que cantem o hino e leiam slogan da campanha


O Ministério da Educação (MEC) mandou nesta segunda para todas as escolas do País um e-mail pedindo que as crianças sejam perfiladas para cantar o hino nacional e que o momento seja gravado em vídeo e enviado para o governo. O e-mail, ao qual o Estado teve acesso, pede ainda que seja lida para elas uma carta do ministro Ricardo Vélez Rodríguez, que termina com o slogan da campanha de Jair Bolsonaro: "Brasil acima de tudo. Deus acima de todos."

Por Renata Cafardo

Advogados afirmaram que a medida pode levar o MEC a ser questionado judicialmente. A carta também surpreendeu responsáveis por escolas públicas e particulares do País, além de pais de alunos.

"Prezados Diretores, pedimos que, no primeiro dia da volta às aulas, seja lida a carta que segue em anexo nesta mensagem, de autoria do Ministro da Educação, Professor Ricardo Vélez Rodríguez, para professores, alunos e demais funcionários da escola, com todos perfilados diante da bandeira do Brasil (se houver) e que seja executado o hino nacional", diz o texto.

Segundo a advogada constitucionalista Vera Chemim, o fato de o ministério pedir que os diretores leiam o slogan da campanha pode ser considerado improbidade administrativa. "A Constituição diz que não pode constar nome, símbolo, imagem que venha caracterizar promoção pessoal de agentes públicos", diz. Segundo ela, o funcionário público responsável pela carta pode ser responsabilizado.

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Na conta do Twitter do movimento Escola sem Partido, a atitude também foi criticada. O uso do slogan foi comparado "ao canteiro de sálvias em forma de estrela no jardim do Alvorada", no governo Lula. "É o fim da picada", diz o texto. As flores foram plantadas em 2004 a pedido de Marisa Letícia, mulher do ex-presidente Lula, e causaram polêmica.

A carta foi enviada para escolas públicas e particulares do País. "Isso é ilegal, o MEC não tem competência para pedir nada disso às escolas", diz o diretor da Associação Brasileira de Escolas Particulares (Abepar), Arthur Fonseca Filho.

Diretores de escolas ficaram chocados com conteúdo da carta, principalmente porque pede para que as crianças sejam filmadas. Muitos chegaram a pensar que se tratava de fake news ou vírus em enviado por email.

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"Solicita-se, por último, que um representante da escola filme (pode ser com celular) trechos curtos da leitura da carta e da execução do hino nacional. E que, em seguida, envie o arquivo de vídeo (em tamanho menor do que 25 MB) com os dados da escola", diz o corpo do email.

Especialistas em Direito também afirmam que o pedido de filmagens acarretaria problemas jurídicos. "É um potencial desrespeito aos direitos de imagem e privacidade. O governo vai usar isso como propaganda? Com autorização de quem?", questiona a professora de Direito Universidade de São Paulo (USP) Nina Ranieri. Ela explica que só os pais poderiam permitir a divulgação das imagens de seus filhos.

Anexada ao email, o MEC enviou uma carta assinada pelo ministro, que, segundo a recomendação, deveria ser lida aos estudantes. Procurada, a assessoria de imprensa do ministério informou que a carta é apenas uma recomendação e não uma ordem. Em nota divulgada depois que a reportagem do Estado já havia sido publicada, informou que o governo solicitaria autorização legal da pessoa filmada ou de seu responsável "antes de qualquer divulgação". A pasta disse que atividade faz parte da "política de incentivo à valorização dos símbolos nacionais."

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Segundo Olavo Nogueira Filho, diretor de Políticas Educacionais do Todos pela Educação, mesmo que o pedido do MEC tenha caráter voluntário, é uma ação "sem precedentes no passado recente brasileiro". Ele diz que a medida suscita uma série de questionamentos sobre o papel do MEC. "O que essa ação reforça é que o MEC caminha no sentido contrário daquilo que precisa ser foco da atuação frente a um contexto da educação brasileira gravíssimo. É um desvio do que é essencial ser tratado", diz o especialista.

Para ele, a pasta deveria estar concentrada em aproveitar o início do governo para propor políticas educacionais capazes de melhorar os índices de aprendizagem no Brasil, como tornar a carreira docente mais atrativa, discutir fundos para a educação básica e implementar a Base Nacional Comum Curricular.

O Conselho que reúne os secretários estaduais de educação (Consed) divulgou nota afirmando que "foi surpreendido com o envio da carta às escolas". Para o conselho, a "ação fere não apenas a autonomia dos gestores escolares, mas dos entes da federação. O ambiente escolar deve estar imune a qualquer tipo de ingerência político-partidária", diz a nota. Os secretários afirmam também que o governo deveria priorizar a aprendizagem em vez de "estimular pequenas disputas ideológicas na educação".

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 Foto: Estadão

O deputado federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ) também anunciou em sua conta no Twitter que iria denunciar o ministro Veléz por crime de responsabilidade. "A conduta do ministro da Educação é inaceitável. Viola os princípios constitucionais da impessoalidade ao fazer propaganda do governo, com slogan de campanha, e da moralidade. Além de ser uma afronta ao Estado Laico. O governo precisa de mais cultura democrática e republicana", escreveu.

A cineasta Mariana Vieira Elek, de 31 anos, diz que ficou chocada ao saber do e-mail mandado para a escola onde estudam seus dois filhos. "É um absurdo a alusão à religião no fim do texto. Respeito a religião dos outros e gostaria de ser respeitada. De maneira alguma acharia certo meus filhos ouvirem isso e terem questionamentos que ninguém saberia responder."

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Ela também criticou a possibilidade de seus filhos serem filmados sem autorização e a execução do Hino Naciona sem que as crianças entendessem a razão de estarem cantando.

Lei dos anos 1970, durante a ditadura militar, obrigava as escolas de todo o País a cantarem o hino nacional. Em 2009, ela foi modificada e agora exige apenas que se toque hino uma vez por semana as escolas de ensino fundamental. "Não considero que seja possível um ministro pedir em um e-mail para introduzir uma prática na escola sem considerar o projeto pedagógico dela", disse Fonseca Filho. A entidade representa escolas como Bandeirantes, Oswald de Andrade, Pentágono e Vera Cruz.

De acordo com ele, o hino pode ser trabalhado na escola de uma maneira contextualizada, para que as crianças estudem o assunto e possam entender o que diz a letra. "Não pode ser algo assim, de cima para baixo.

Advogados afirmaram que a medida pode levar o MEC a ser questionado judicialmente. A carta também surpreendeu responsáveis por escolas públicas e particulares do País, além de pais de alunos.

"Prezados Diretores, pedimos que, no primeiro dia da volta às aulas, seja lida a carta que segue em anexo nesta mensagem, de autoria do Ministro da Educação, Professor Ricardo Vélez Rodríguez, para professores, alunos e demais funcionários da escola, com todos perfilados diante da bandeira do Brasil (se houver) e que seja executado o hino nacional", diz o texto.

Segundo a advogada constitucionalista Vera Chemim, o fato de o ministério pedir que os diretores leiam o slogan da campanha pode ser considerado improbidade administrativa. "A Constituição diz que não pode constar nome, símbolo, imagem que venha caracterizar promoção pessoal de agentes públicos", diz. Segundo ela, o funcionário público responsável pela carta pode ser responsabilizado.

Na conta do Twitter do movimento Escola sem Partido, a atitude também foi criticada. O uso do slogan foi comparado "ao canteiro de sálvias em forma de estrela no jardim do Alvorada", no governo Lula. "É o fim da picada", diz o texto. As flores foram plantadas em 2004 a pedido de Marisa Letícia, mulher do ex-presidente Lula, e causaram polêmica.

A carta foi enviada para escolas públicas e particulares do País. "Isso é ilegal, o MEC não tem competência para pedir nada disso às escolas", diz o diretor da Associação Brasileira de Escolas Particulares (Abepar), Arthur Fonseca Filho.

Diretores de escolas ficaram chocados com conteúdo da carta, principalmente porque pede para que as crianças sejam filmadas. Muitos chegaram a pensar que se tratava de fake news ou vírus em enviado por email.

"Solicita-se, por último, que um representante da escola filme (pode ser com celular) trechos curtos da leitura da carta e da execução do hino nacional. E que, em seguida, envie o arquivo de vídeo (em tamanho menor do que 25 MB) com os dados da escola", diz o corpo do email.

Especialistas em Direito também afirmam que o pedido de filmagens acarretaria problemas jurídicos. "É um potencial desrespeito aos direitos de imagem e privacidade. O governo vai usar isso como propaganda? Com autorização de quem?", questiona a professora de Direito Universidade de São Paulo (USP) Nina Ranieri. Ela explica que só os pais poderiam permitir a divulgação das imagens de seus filhos.

Anexada ao email, o MEC enviou uma carta assinada pelo ministro, que, segundo a recomendação, deveria ser lida aos estudantes. Procurada, a assessoria de imprensa do ministério informou que a carta é apenas uma recomendação e não uma ordem. Em nota divulgada depois que a reportagem do Estado já havia sido publicada, informou que o governo solicitaria autorização legal da pessoa filmada ou de seu responsável "antes de qualquer divulgação". A pasta disse que atividade faz parte da "política de incentivo à valorização dos símbolos nacionais."

Segundo Olavo Nogueira Filho, diretor de Políticas Educacionais do Todos pela Educação, mesmo que o pedido do MEC tenha caráter voluntário, é uma ação "sem precedentes no passado recente brasileiro". Ele diz que a medida suscita uma série de questionamentos sobre o papel do MEC. "O que essa ação reforça é que o MEC caminha no sentido contrário daquilo que precisa ser foco da atuação frente a um contexto da educação brasileira gravíssimo. É um desvio do que é essencial ser tratado", diz o especialista.

Para ele, a pasta deveria estar concentrada em aproveitar o início do governo para propor políticas educacionais capazes de melhorar os índices de aprendizagem no Brasil, como tornar a carreira docente mais atrativa, discutir fundos para a educação básica e implementar a Base Nacional Comum Curricular.

O Conselho que reúne os secretários estaduais de educação (Consed) divulgou nota afirmando que "foi surpreendido com o envio da carta às escolas". Para o conselho, a "ação fere não apenas a autonomia dos gestores escolares, mas dos entes da federação. O ambiente escolar deve estar imune a qualquer tipo de ingerência político-partidária", diz a nota. Os secretários afirmam também que o governo deveria priorizar a aprendizagem em vez de "estimular pequenas disputas ideológicas na educação".

 Foto: Estadão

O deputado federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ) também anunciou em sua conta no Twitter que iria denunciar o ministro Veléz por crime de responsabilidade. "A conduta do ministro da Educação é inaceitável. Viola os princípios constitucionais da impessoalidade ao fazer propaganda do governo, com slogan de campanha, e da moralidade. Além de ser uma afronta ao Estado Laico. O governo precisa de mais cultura democrática e republicana", escreveu.

A cineasta Mariana Vieira Elek, de 31 anos, diz que ficou chocada ao saber do e-mail mandado para a escola onde estudam seus dois filhos. "É um absurdo a alusão à religião no fim do texto. Respeito a religião dos outros e gostaria de ser respeitada. De maneira alguma acharia certo meus filhos ouvirem isso e terem questionamentos que ninguém saberia responder."

Ela também criticou a possibilidade de seus filhos serem filmados sem autorização e a execução do Hino Naciona sem que as crianças entendessem a razão de estarem cantando.

Lei dos anos 1970, durante a ditadura militar, obrigava as escolas de todo o País a cantarem o hino nacional. Em 2009, ela foi modificada e agora exige apenas que se toque hino uma vez por semana as escolas de ensino fundamental. "Não considero que seja possível um ministro pedir em um e-mail para introduzir uma prática na escola sem considerar o projeto pedagógico dela", disse Fonseca Filho. A entidade representa escolas como Bandeirantes, Oswald de Andrade, Pentágono e Vera Cruz.

De acordo com ele, o hino pode ser trabalhado na escola de uma maneira contextualizada, para que as crianças estudem o assunto e possam entender o que diz a letra. "Não pode ser algo assim, de cima para baixo.

Advogados afirmaram que a medida pode levar o MEC a ser questionado judicialmente. A carta também surpreendeu responsáveis por escolas públicas e particulares do País, além de pais de alunos.

"Prezados Diretores, pedimos que, no primeiro dia da volta às aulas, seja lida a carta que segue em anexo nesta mensagem, de autoria do Ministro da Educação, Professor Ricardo Vélez Rodríguez, para professores, alunos e demais funcionários da escola, com todos perfilados diante da bandeira do Brasil (se houver) e que seja executado o hino nacional", diz o texto.

Segundo a advogada constitucionalista Vera Chemim, o fato de o ministério pedir que os diretores leiam o slogan da campanha pode ser considerado improbidade administrativa. "A Constituição diz que não pode constar nome, símbolo, imagem que venha caracterizar promoção pessoal de agentes públicos", diz. Segundo ela, o funcionário público responsável pela carta pode ser responsabilizado.

Na conta do Twitter do movimento Escola sem Partido, a atitude também foi criticada. O uso do slogan foi comparado "ao canteiro de sálvias em forma de estrela no jardim do Alvorada", no governo Lula. "É o fim da picada", diz o texto. As flores foram plantadas em 2004 a pedido de Marisa Letícia, mulher do ex-presidente Lula, e causaram polêmica.

A carta foi enviada para escolas públicas e particulares do País. "Isso é ilegal, o MEC não tem competência para pedir nada disso às escolas", diz o diretor da Associação Brasileira de Escolas Particulares (Abepar), Arthur Fonseca Filho.

Diretores de escolas ficaram chocados com conteúdo da carta, principalmente porque pede para que as crianças sejam filmadas. Muitos chegaram a pensar que se tratava de fake news ou vírus em enviado por email.

"Solicita-se, por último, que um representante da escola filme (pode ser com celular) trechos curtos da leitura da carta e da execução do hino nacional. E que, em seguida, envie o arquivo de vídeo (em tamanho menor do que 25 MB) com os dados da escola", diz o corpo do email.

Especialistas em Direito também afirmam que o pedido de filmagens acarretaria problemas jurídicos. "É um potencial desrespeito aos direitos de imagem e privacidade. O governo vai usar isso como propaganda? Com autorização de quem?", questiona a professora de Direito Universidade de São Paulo (USP) Nina Ranieri. Ela explica que só os pais poderiam permitir a divulgação das imagens de seus filhos.

Anexada ao email, o MEC enviou uma carta assinada pelo ministro, que, segundo a recomendação, deveria ser lida aos estudantes. Procurada, a assessoria de imprensa do ministério informou que a carta é apenas uma recomendação e não uma ordem. Em nota divulgada depois que a reportagem do Estado já havia sido publicada, informou que o governo solicitaria autorização legal da pessoa filmada ou de seu responsável "antes de qualquer divulgação". A pasta disse que atividade faz parte da "política de incentivo à valorização dos símbolos nacionais."

Segundo Olavo Nogueira Filho, diretor de Políticas Educacionais do Todos pela Educação, mesmo que o pedido do MEC tenha caráter voluntário, é uma ação "sem precedentes no passado recente brasileiro". Ele diz que a medida suscita uma série de questionamentos sobre o papel do MEC. "O que essa ação reforça é que o MEC caminha no sentido contrário daquilo que precisa ser foco da atuação frente a um contexto da educação brasileira gravíssimo. É um desvio do que é essencial ser tratado", diz o especialista.

Para ele, a pasta deveria estar concentrada em aproveitar o início do governo para propor políticas educacionais capazes de melhorar os índices de aprendizagem no Brasil, como tornar a carreira docente mais atrativa, discutir fundos para a educação básica e implementar a Base Nacional Comum Curricular.

O Conselho que reúne os secretários estaduais de educação (Consed) divulgou nota afirmando que "foi surpreendido com o envio da carta às escolas". Para o conselho, a "ação fere não apenas a autonomia dos gestores escolares, mas dos entes da federação. O ambiente escolar deve estar imune a qualquer tipo de ingerência político-partidária", diz a nota. Os secretários afirmam também que o governo deveria priorizar a aprendizagem em vez de "estimular pequenas disputas ideológicas na educação".

 Foto: Estadão

O deputado federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ) também anunciou em sua conta no Twitter que iria denunciar o ministro Veléz por crime de responsabilidade. "A conduta do ministro da Educação é inaceitável. Viola os princípios constitucionais da impessoalidade ao fazer propaganda do governo, com slogan de campanha, e da moralidade. Além de ser uma afronta ao Estado Laico. O governo precisa de mais cultura democrática e republicana", escreveu.

A cineasta Mariana Vieira Elek, de 31 anos, diz que ficou chocada ao saber do e-mail mandado para a escola onde estudam seus dois filhos. "É um absurdo a alusão à religião no fim do texto. Respeito a religião dos outros e gostaria de ser respeitada. De maneira alguma acharia certo meus filhos ouvirem isso e terem questionamentos que ninguém saberia responder."

Ela também criticou a possibilidade de seus filhos serem filmados sem autorização e a execução do Hino Naciona sem que as crianças entendessem a razão de estarem cantando.

Lei dos anos 1970, durante a ditadura militar, obrigava as escolas de todo o País a cantarem o hino nacional. Em 2009, ela foi modificada e agora exige apenas que se toque hino uma vez por semana as escolas de ensino fundamental. "Não considero que seja possível um ministro pedir em um e-mail para introduzir uma prática na escola sem considerar o projeto pedagógico dela", disse Fonseca Filho. A entidade representa escolas como Bandeirantes, Oswald de Andrade, Pentágono e Vera Cruz.

De acordo com ele, o hino pode ser trabalhado na escola de uma maneira contextualizada, para que as crianças estudem o assunto e possam entender o que diz a letra. "Não pode ser algo assim, de cima para baixo.

Advogados afirmaram que a medida pode levar o MEC a ser questionado judicialmente. A carta também surpreendeu responsáveis por escolas públicas e particulares do País, além de pais de alunos.

"Prezados Diretores, pedimos que, no primeiro dia da volta às aulas, seja lida a carta que segue em anexo nesta mensagem, de autoria do Ministro da Educação, Professor Ricardo Vélez Rodríguez, para professores, alunos e demais funcionários da escola, com todos perfilados diante da bandeira do Brasil (se houver) e que seja executado o hino nacional", diz o texto.

Segundo a advogada constitucionalista Vera Chemim, o fato de o ministério pedir que os diretores leiam o slogan da campanha pode ser considerado improbidade administrativa. "A Constituição diz que não pode constar nome, símbolo, imagem que venha caracterizar promoção pessoal de agentes públicos", diz. Segundo ela, o funcionário público responsável pela carta pode ser responsabilizado.

Na conta do Twitter do movimento Escola sem Partido, a atitude também foi criticada. O uso do slogan foi comparado "ao canteiro de sálvias em forma de estrela no jardim do Alvorada", no governo Lula. "É o fim da picada", diz o texto. As flores foram plantadas em 2004 a pedido de Marisa Letícia, mulher do ex-presidente Lula, e causaram polêmica.

A carta foi enviada para escolas públicas e particulares do País. "Isso é ilegal, o MEC não tem competência para pedir nada disso às escolas", diz o diretor da Associação Brasileira de Escolas Particulares (Abepar), Arthur Fonseca Filho.

Diretores de escolas ficaram chocados com conteúdo da carta, principalmente porque pede para que as crianças sejam filmadas. Muitos chegaram a pensar que se tratava de fake news ou vírus em enviado por email.

"Solicita-se, por último, que um representante da escola filme (pode ser com celular) trechos curtos da leitura da carta e da execução do hino nacional. E que, em seguida, envie o arquivo de vídeo (em tamanho menor do que 25 MB) com os dados da escola", diz o corpo do email.

Especialistas em Direito também afirmam que o pedido de filmagens acarretaria problemas jurídicos. "É um potencial desrespeito aos direitos de imagem e privacidade. O governo vai usar isso como propaganda? Com autorização de quem?", questiona a professora de Direito Universidade de São Paulo (USP) Nina Ranieri. Ela explica que só os pais poderiam permitir a divulgação das imagens de seus filhos.

Anexada ao email, o MEC enviou uma carta assinada pelo ministro, que, segundo a recomendação, deveria ser lida aos estudantes. Procurada, a assessoria de imprensa do ministério informou que a carta é apenas uma recomendação e não uma ordem. Em nota divulgada depois que a reportagem do Estado já havia sido publicada, informou que o governo solicitaria autorização legal da pessoa filmada ou de seu responsável "antes de qualquer divulgação". A pasta disse que atividade faz parte da "política de incentivo à valorização dos símbolos nacionais."

Segundo Olavo Nogueira Filho, diretor de Políticas Educacionais do Todos pela Educação, mesmo que o pedido do MEC tenha caráter voluntário, é uma ação "sem precedentes no passado recente brasileiro". Ele diz que a medida suscita uma série de questionamentos sobre o papel do MEC. "O que essa ação reforça é que o MEC caminha no sentido contrário daquilo que precisa ser foco da atuação frente a um contexto da educação brasileira gravíssimo. É um desvio do que é essencial ser tratado", diz o especialista.

Para ele, a pasta deveria estar concentrada em aproveitar o início do governo para propor políticas educacionais capazes de melhorar os índices de aprendizagem no Brasil, como tornar a carreira docente mais atrativa, discutir fundos para a educação básica e implementar a Base Nacional Comum Curricular.

O Conselho que reúne os secretários estaduais de educação (Consed) divulgou nota afirmando que "foi surpreendido com o envio da carta às escolas". Para o conselho, a "ação fere não apenas a autonomia dos gestores escolares, mas dos entes da federação. O ambiente escolar deve estar imune a qualquer tipo de ingerência político-partidária", diz a nota. Os secretários afirmam também que o governo deveria priorizar a aprendizagem em vez de "estimular pequenas disputas ideológicas na educação".

 Foto: Estadão

O deputado federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ) também anunciou em sua conta no Twitter que iria denunciar o ministro Veléz por crime de responsabilidade. "A conduta do ministro da Educação é inaceitável. Viola os princípios constitucionais da impessoalidade ao fazer propaganda do governo, com slogan de campanha, e da moralidade. Além de ser uma afronta ao Estado Laico. O governo precisa de mais cultura democrática e republicana", escreveu.

A cineasta Mariana Vieira Elek, de 31 anos, diz que ficou chocada ao saber do e-mail mandado para a escola onde estudam seus dois filhos. "É um absurdo a alusão à religião no fim do texto. Respeito a religião dos outros e gostaria de ser respeitada. De maneira alguma acharia certo meus filhos ouvirem isso e terem questionamentos que ninguém saberia responder."

Ela também criticou a possibilidade de seus filhos serem filmados sem autorização e a execução do Hino Naciona sem que as crianças entendessem a razão de estarem cantando.

Lei dos anos 1970, durante a ditadura militar, obrigava as escolas de todo o País a cantarem o hino nacional. Em 2009, ela foi modificada e agora exige apenas que se toque hino uma vez por semana as escolas de ensino fundamental. "Não considero que seja possível um ministro pedir em um e-mail para introduzir uma prática na escola sem considerar o projeto pedagógico dela", disse Fonseca Filho. A entidade representa escolas como Bandeirantes, Oswald de Andrade, Pentágono e Vera Cruz.

De acordo com ele, o hino pode ser trabalhado na escola de uma maneira contextualizada, para que as crianças estudem o assunto e possam entender o que diz a letra. "Não pode ser algo assim, de cima para baixo.

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