Entenda acontece uma avaliação de fluência em leitura

Acompanhei um teste em Sobral. Criança precisa ler várias palavras com sons parecidos em sequência, tudo é gravado e cronometrado

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Foto do author Renata Cafardo
Por Renata Cafardo
Atualização:

Acompanhei um teste de fluência em Sobral, cidade do interior do Ceará que se transformou em exemplo de educação no País. O menino Javé, de 7 anos, está no 1º ano do ensino fundamental e é chamado para fora da sala pela coordenadora Luziane Rodrigues. Ela explica que, por lá, eles conhecem o exame como "chamada de leitura". O áudio pode ser ouvido no capítulo 2 do podcast Crianças que Leem, sobre Sobral.

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Sozinho com a coordenadora no pátio da escola, o menino recebe o primeiro papel com várias palavras. Meio apreensivo, ele questiona Luziane se vai acertar tudo dessa vez. A coordenadora dá força e o chama de "super leitor". O teste é semanal nas escolas de Sobral.

"São, santo, sapeca, onça, seu, sino, açaí, unha, nossa, saúde, sã, múmia, sonso, meus", vai lendo o menino. Nessa prova, a intenção é checar a fluência do som da letra S. Mas também há palavras como "unha" e "múmia", cujos sons ainda não estão totalmente memorizados pela criança e também são incluídos apesar do foco no S, explica.

Luziane e Javé, de 7 anos, em teste de fluência em Sobral FOTO: Tiago Queiroz/ESTADAO Foto: Estadão

Luziane intercala palavras carinhosas de incentivo com momentos de seriedade. Tudo está sendo gravado e cronometrado.

Em seguida ela apresenta outra folha para Javé com palavras que a coordenadora chama de "malucas". "Samia, mesana, mozica, menessa, lisana, zimeni, solama, sussoi", lê o menino, com um pouco mais de dificuldade. Apesar de não terem significado algum, explica Luziane, elas ajudam verificar como está leitura de um som específico.

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A expectativa é que no 1º ano uma criança de Sobral leia pelo menos 60 palavras por minuto. No 2º ano, espera-se de 80 a 90. A quantidade vai aumentando conforme a série.

O teste também inclui textos. É o que Luziane apresenta em seguida. "Melissa é uma menina linda, Melissa se enfeita bastante, ela se enfeita todos os dias, Melissa usa saia de seda....", lê Javé. "Agora, a tia vai fazer algumas perguntas. Posso fazer?", questiona a coordenadora. Ela faz perguntas já estabelecidas em cartões que tem nas mãos: "O que Melissa faz todos os dias?"

O teste dura poucos minutos e Javé volta para a sala de aula. Suas respostas são colocadas numa planilha e passadas depois para a professora dele. Essa é uma das maneiras de medir o progresso no aprendizado da leitura, aluno por aluno, sala por sala. "Se eu percebo que a turma ou a maioria da turma está com dificuldade nesse fonema, isso indica que nós precisamos retomar aquele ponto", diz Luziane.

O sistema de ensino de Sobral é todo calcado em avaliações e as crianças estão acostumadas a serem testadas desde pequenas, por isso a pressão não pareceu incomodar muito Javé. Os professores e coordenadores são intensamente treinados para ensinar a ler e a escrever e para, sempre, avaliar seus alunos.

Além disso, há material didático estruturado, interação com as famílias, muito incentivo para a leitura prazerosa e principalmente um trabalho que é continuado há décadas, independentemente do partido que assume a cidade. Sim, o teste de fluência existe em Sobral, mas o sucesso não se deve a ele.

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