Cinco razões pelas quais o Enem não vai mudar agora

Falta de quantidade grande de perguntas e confusões no MEC estão entre elas

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Por Renata Cafardo
Atualização:

As ideias que circulam de mudanças este ano no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) são exatamente isso, ideias. Uma delas é de que a prova passaria a ser seriada, ou seja, haveria um exame em cada ano do ensino médio. Fontes do Ministério da Educação (MEC) garantem que não há um estudo formal sobre isso e que os técnicos, sobrecarregados, são contra uma eventual grande mudança. São várias as razões:

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Não há perguntas suficientes para fazer mais de um Enem

As questões que fazem parte da prova não são questões comuns. Como contei nesta coluna, elas são feitas por professores de universidades federais e precisam passar por um teste antes de serem consideradas aptas para fazerem parte do Enem. Esse é um processo lento e cuidadoso. Depois desse chamado pré-teste das questões (que é como se fosse um Enem de mentira aplicado a um grupo de estudantes), aí as questões são colocadas na escala, que vai de 400 a 1000, do exame. Entre outras coisas, são classificadas como difíceis, muito fáceis ou que induzem ao erro por estarem malfeitas.

Desde 2009, o processo é esse. E, desde 2009, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), que é o responsável pela prova no MEC, não consegue ter um estoque de perguntas robusto. Seriam necessárias muitas milhares de questões ou itens, como são chamados pelos estatísticos, para que o Brasil conseguisse fazer uma prova para cada ano do ensino médio. E, hoje, o Inep mal consegue fazer um exame por ano com itens todos pré-testados, imagine três? Um Enem seriado, dizem as fontes, só seria possível depois de 2023 e olhe lá.

Seria preciso mudar também a matriz do Enem

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O Enem tem uma lista de conteúdos (chamada de matriz) que engloba os três anos do ensino médio, não há uma separação de conteúdos por série. Ou seja, as questões juntam o que se aprende hoje no 1º ano do ensino médio com o que aparece só no 3.º ano, por exemplo.

Se for preciso criar itens separados para cada ano, voltamos ao problema descrito acima. O processo é demorado e não é possível de ser realizado em menos de um ano, de maneira correta e segura. Lembrando que a prova tem 180 questões.

O Enem deve antes se adequar à reforma do ensino médio

Em 2017 foi instituída a reforma do ensino médio, que faz o antigo colegial ser dividido em duas partes. Uma delas é comum, com os conteúdos obrigatórios (Português, Matemática, História etc), e outra, em que os alunos podem escolher entre cinco áreas: Linguagens, Matemática, Ciências da Natureza, Ciências Humanas e ensino técnico.  A ideia é a de flexibilizar o ensino para os adolescentes, que se sentem distantes da escola hoje. Em 2018, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) do ensino médio também foi aprovada seguindo a mesma linha.

O Enem, portanto, aplicado no fim do ensino médio, precisa seguir o novo modelo. As escolas estaduais e particulares já começam a tentar fazer mudanças, mas se o Enem passar a cobrar o que se ensina nesse novo ensino médio é um empurrão sem tamanho.

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Essa é uma das incumbência dos técnicos do Inep neste ano, para tentar implementá-la em 2021. Mas, mais uma vez, o processo de fazer novas questões é lento.

Equipe ainda trabalha para tentar por de pé o Enem digital

A equipe do Inep ainda mal começou a trabalhar no Enem digital, por causa dos problemas do Enem 2019 agora em janeiro. Os técnicos estão sobrecarregados. Será um exame piloto, para 100 mil pessoas, mas precisa ser muito bem pensado do ponto de vista de tecnologia de informação e também de logística. A prova pelo computador deve ser feita com toda a segurança que a presencial, mas como nunca foi feita, os riscos ainda precisam ser estudados. Apenas este mês os trabalhos nesse sentido começarão.

Há muitas incertezas na gestão do MEC

No primeiro ano do governo Bolsonaro, o Inep mudou três vezes de presidente. A diretoria que cuida do Enem ficou meses sem titular. O ministro já foi trocado uma vez e o atual, Abraham Weintraub, sofre pressões de todos os lados para deixar o cargo. Deputados liderados por Tábata Amaral (PDT-SP) foram ao STF nesta quarta-feira pedir o impeachment do ministro. Não é fácil ter projetos ou mesmo planos de longo prazo em um ministério tão instável.

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Deputados querem impeachment de ministro Weintraub ( Foto: Adriano Machado/Reuters)

 

 

 

 

 

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