Colégio Santa Maria
22 de agosto de 2018 | 08h41
Autoria: Fernanda Inouye Miura
“Tem um barulho vindo dali!”
“Eu vi! Deve ser um bicho!”
Ao escutar o que as crianças narram, professores têm a oportunidade de dar sentido às curiosidades e hipóteses que elas criam. Uma simples conversa sobre os barulhos e sons que saem do meio das árvores pode se transformar em projeto de pesquisa.
Foi o que aconteceu no Jardim II D do Santa Maria. Os alunos de quatros anos queriam saber que forma o som tem e como chega aos nossos ouvidos. Depois de muita pesquisa e levantamento de hipóteses, ao colocar o ouvido no chão e sentir um pequeno tremor, descobriram que o som vibra.
Seguir as hipóteses levantadas pelos alunos, instigar a curiosidade sobre as coisas e ensinar como pesquisar é nosso cotidiano na Educação Infantil. Para isso tudo acontecer, a escuta é extremamente necessária, pois ao fazer, damos voz e valorizamos o que as crianças pensam e sentem. Crianças querem ser ouvidas!
Narrar faz com que as histórias que vivemos ou que inventamos tomem “vida”. Quando o outro ouve, a criança que narra de certa forma concretiza, faz aquela história existir. Dar valor às perguntas feitas por eles e devagarzinho pesquisar sobre o assunto, faz com que aprendam os caminhos para a busca de informações, um bom começo para desenvolver as competências de um bom pesquisador.
Como diz Carla Rinaldi, estudiosa da metodologia de Reggio Emilia, “escuta que faz o sujeito sair do anonimato, que o legitima, que lhe dá visibilidade, enriquecendo quem escuta e quem produz a mensagem (e as crianças suportam pouco o anonimato).”
Pequenos pesquisadores enchem as rodas de conversas de perguntas sobre as curiosidades que têm do mundo.
Outro trabalho importante que envolve a escuta é dar oportunidade às crianças de narrarem sobre seus sentimentos. Verbalizar suas emoções desde pequenos contribui com a construção de uma identidade mais fortalecida.
“Meu boneco está bravo porque a mãe dele disse que ele precisa estar sempre feliz! E ele não gosta de ficar sempre feliz, às vezes fica bravo!”
Carla Rinaldi também diz que “a escuta não é fácil. Exige uma profunda consciência e a suspensão dos nossos julgamentos e, acima de tudo, de nossos preconceitos; demanda abertura à mudança. Requer que tenhamos claro em nossa mente o valor do desconhecido e que sejamos capazes de superar a sensação de vazio e precariedade que experimentamos sempre que nossas certezas são questionadas.”
É necessário ouvir para ensinar a ouvir, dar voz às crianças para ensiná-las a importância de verbalizar.
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