COLÉGIO SANTA MARIA
06 de junho de 2016 | 07h30
Autoria: Gilberto Soares
“Sempre quis falar/ Nunca tive chance/ Tudo o que eu queria/ Estava fora do meu alcance/ Sim, já/Já faz um tempo/ Mas eu gosto de lembrar/ Cada um, cada um/ Cada lugar, um lugar/ Eu sei como é difícil/ Eu sei como é difícil acreditar/ Mas essa p* um dia vai mudar/ Se não mudar, pra onde eu vou…”
Não é sério?!
A epígrafe e a frase acima pertencem à letra homônima do Charlie Brown Jr e Negra Li e representam as intenções e surpresas que acompanham o trabalho com as assembleias de classe realizadas pelo Ensino Fundamental II do Colégio Santa Maria.
Há dois anos, em meio às discussões sobre os impactos dos processos políticos e sociais que emergiram no país, após as manifestações de 2013, chegamos à conclusão de que nossos jovens, ao mesmo tempo em que reproduzem os discursos da sociedade, sentem-se perdidos e inseguros com os adultos que outrora deveriam ser referências para seu futuro.
As necessidades de diálogo em sala de aula aumentaram e o corpo docente e orientação de ensino perceberam que as tradicionais soluções não estavam dando as respostas esperadas pelos jovens. Urgia construir pontes. A questão era como fazê-lo.
Após alguns experimentos e aprofundamento do debate, iniciamos a realização de assembleias de classe. A pauta é definida em conjunto entre orientação de ensino, professores e alunos.
Em 2016, até o momento, foram realizadas duas assembleias de classe no 7º ano, cujo tema geral foi o compromisso com os estudos e com a tarefa de casa. Os temas específicos, ou seja, de interesses dos alunos, variaram de sala a sala, desde a definição do lugar na sala, passando pelo lanche servido na cantina até os horários de início, intervalo e término das aulas.
Definida a data com os professores tutores, os alunos tiveram uma breve apresentação do que é uma assembleia, diferenciando-a de outros instrumentos de tomada de decisão coletiva como as rodas de conversa e plenárias.
Ao propormos o tema da tarefa de casa, nos surpreendemos. Não houve queixas para com as mesmas. Na verdade, a maioria dos estudantes sabe da importância e necessidade. Boa parte destes jovens levam a sério os estudos. Assim, sugerem alterações na organização da agenda das mesmas, nos tipos de tarefa de casa e na relação delas com as avaliações. As propostas estão sendo analisadas e experimentadas pelos professores e têm dado bons resultados, garantindo um clima de confiança mútua entre jovens e adultos na condução das aulas.
É claro que maioria não é unanimidade, mas percebemos que a confiança estabelecida nos permite concentrar a ação e ter foco perante os alunos que, por diferentes motivos, não assumem a responsabilidade frente aos estudos, favorecendo um clima de solidariedade entre os colegas de turma, mais voltada para a concentração do que para a dispersão.
Trata-se de um aprendizado mútuo, inspirado nos clássicos da educação que, ainda no início do século XX, lembram que a aprendizagem é um processo construído socialmente através das relações que as gerações estabelecem entre si. E é a forma dessa relação de aprendizagem que abrirá caminho para a esperança em um mundo melhor.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.