Colégio Santa Maria
02 de novembro de 2018 | 07h30
Autoria: Adriana de Oliveira Pires e Helika Chikuchi
Um dos grandes desafios enfrentados pelos professores da área de Ciência da Natureza é possibilitar que os alunos construam a significação de conceitos abstratos e de fenômenos, especialmente aqueles que ocorrem em nível molecular. Assim também é para a Biologia e, nesse sentido, procuramos estratégias pedagógicas para facilitar essa significação, buscando inicialmente vencer a distância entre os alunos e o gosto pelo conhecimento.
No aprendizado de Biologia é notório que os estudantes respondem com maior interesse e prazer quando o conhecimento teórico é aliado a atividades práticas, sejam elas realizadas no campo ou no laboratório, ou quando compreendem que diferentes fenômenos estão interligados e se retroalimentam, enxergando, assim, a Biologia no seu plano macro.
Pensando nisso, um recurso pedagógico interessante é a aproximação da “cozinha” com o laboratório de biologia. Há muitos relatos, tanto por parte de professores quanto de alunos de diversas escolas brasileiras, de que as aulas que envolvem a preparação de alimentos podem proporcionar o desenvolvimento de habilidades como o uso de medidas, a realização de cálculos, o levantamento de hipóteses, o planejamento, organização, execução e observação de um experimento, o registro e análise de resultados, mas em um contexto de trabalho cooperativo, prazeroso e mais próximo da vivência de suas casas.
Entender conceitos como difusão e osmose, relacionando-os com a conservação de alimentos, investigar o que existe no abacaxi in natura que impede que a gelatina fique firme, testar formas de desnaturar uma enzima na preparação de uma sobremesa, experimentar as condições que favoreçam a ocorrência de fermentação alcoólica e lática no crescimento da massa e produção de iogurte, preparar uma emulsão e fazer um paralelo com o papel da bile na digestão são algumas das atividades que podem não apenas favorecer o aprendizado da Biologia, mas também aumentar o interesse e a aproximação pela Ciência.
A integração teórica e prática da Biologia com a Química pode ser outra estratégia para atrair o interesse dos alunos e, felizmente, muitos temas favorecem essa integração como a anatomia e fisiologia humanas, a preservação do meio ambiente e a química ambiental, a transformação e o armazenamento de energia, a ação de drogas ilícitas no corpo, a produção e ação de fármacos, a biotecnologia e a produção de alimentos, entre outros.
Trabalhar os diferentes temas de forma integrada favorece a visão mais ampla dos fenômenos e a desconstrução da ideia de conteúdos árduos e inalcançáveis, pois permite levar os alunos à compreensão de diversos assuntos que usualmente os intrigam e parecem misteriosos. Por exemplo, quem nunca se perguntou por que algumas pessoas sentem sabor amargo ao experimentar adoçante se essa substância se propõe a substituir o açúcar ou como um ansiolítico pode bloquear uma cascata de reações semelhantes à sensação de pavor? Ou, ainda mais desafiador, as emoções e o pensamento ocorrem no plano tecidual ou celular?
Pensar no ensino-aprendizagem de Biologia nos dias atuais envolve um outro desafio, além de aumentar o interesse e a aproximação do aluno pela Ciência. Um desafio além do próprio aprendizado da Biologia, além do desenvolvimento do senso crítico acerca do funcionamento do corpo humano, do equilíbrio da natureza e da ação humana que promove tanto benefícios quanto prejuízos aos seres vivos. Envolve o desafio de manter o ensino de Biologia e da Ciência vivos na Educação Básica, investindo na formação de jovens que não rejeitem a importância da produção científica e não se omitam frente a movimentos que intencionam desqualificar o conhecimento acadêmico.
Nós, do Santa Maria, aceitamos mais esse desafio.
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