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Poema: espaço para a subjetividade

Ao longo de seu percurso escolar, os alunos são apresentados a diferentes gêneros textuais e têm a oportunidade de conhecer muitos autores e diversas realidades linguísticas. Esse é um movimento muito importante para o desenvolvimento e enriquecimento textual dos educandos e amplia o olhar dos estudantes para realidades além dos muros da escola e de suas casas.

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Por Colégio Santa Amália
Atualização:

No sétimo ano, são estudados alguns tipos de textos, como mitos, romances de aventura, textos de divulgação científica, notícias, reportagens, artigos de opinião, anúncios publicitários e poemas. Alguns são mais objetivos e tratam de temas coletivos - como as explicações sobre o universo e o mundo em que vivemos, propostas pelos mitos e lendas. Outros abarcam conteúdos mais subjetivos e de caráter individual, como fazem os poemas.

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De acordo com a temática tratada e o gênero considerado, as produções textuais dos alunos são um convite a penetrar no universo deles e saber mais sobre o que os move.  Nesse sentido, é por meio dos textos que podemos conhecer melhor os valores trazidos por cada aluno, as experiências que já tiveram, os conteúdos que já estudaram e a realidade que vivenciaram.

É muito interessante observar a criatividade e empolgação diárias virarem um texto escrito. Narrativas longas e cheias de reviravoltas são constantes, assim como o uso de cores vibrantes e layouts criativos nos anúncios publicitários. Não faltam exemplos de textos surpreendentes e cheios de vida, mas um gênero em especial tem o poder de despertar o interesse e a subjetividade dos alunos: o poema.

Parece um pouco controverso e até mesmo ultrapassado, mas escrever um belo texto em versos e estrofes ainda agrada a maioria dos pequenos. Há uma enorme vontade de construir rimas, falar sobre assuntos inquietantes e compartilhar com os outros o seu mundo interior.

É claro que existe também uma primeira reação envolvendo falta de impulso criativo e vergonha, pois falar de nós mesmos exige autoconhecimento e levamos muito tempo, muito mesmo, para entendermos o que somos e queremos para nós.

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Por isso, torna-se gratificante partilhar dos momentos de criação e superação que escrever um poema envolve. Perceber-se como autor, ainda mais da nossa própria vida, é uma grande conquista, não só para o aluno, que se vê como protagonista de sua história, aquele que é capaz de vencer seus medos e conquistar seus objetivos, mas também para o professor, que consegue ver o produto final de uma longa caminhada de ensino e aprendizagem.

Quando estudamos o gênero poema nas aulas de redação, os alunos percebem que esse tipo de texto é um terreno fértil para a liberdade. Libertar seus pensamentos, sentimentos e sensações por meio das palavras é libertar também a alma do ser humano que a escreve. Isso porque, como diz Fernando Pessoa, "quem não vê bem uma palavra, não pode ver bem uma alma".

Em nossos estudos diários, passamos por vários poetas e estilos literários, e ficou claro que poema não se limita a ser um texto apenas sobre o amor, como grande parte dos alunos pensa quando iniciamos tal assunto, mas sim sobre o EU.

Quem escreve poema assume o compromisso da verdade: consigo mesmo, com os outros, com as sensações e sentimentos universais. É assim também com nossos alunos. Esse é o gênero, sem dúvida, em que eles mais se colocam, mais mostram o que são, o que pensam e o que sentem.

Mais uma vez, é Fernando Pessoa quem nos ajuda a entender o poder dos poemas e dos poetas. Pessoa fala sobre ser poeta e sobre o envolvimento da emoção no ato de fazer poemas no texto "Autopsicografia". No primeiro verso do texto, o poeta é encarado como um fingidor, pois expressa sua subjetividade de modo tão claro e objetivo que parece falar sobre os sentimentos de outra pessoa. Já no fim do texto, é possível perceber que a razão é entretida pela emoção (coração), ou seja, no comando de nossas vidas, estão os sentimentos e sensações, por mais racionais que tentemos ser diante das situações.

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Munidos de experiências e aprendizados, em sala, os alunos, após a leitura e discussão de vários poemas, puderam colocar em prática seus sentimentos e explorar o potencial de suas individualidades, elaborando poemas sobre os mais variados temas.

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Foi bastante curioso e divertido acompanhar a produção dos textos. Muitos alunos sentiam necessidade de construir poemas com rimas, e tinham dificuldades de pensar o poema além da temática amorosa. Alguns não queriam que os outros colegas lessem seus textos, pois ficavam receosos com piadas e brincadeiras, visto que havia uma grande exposição da subjetividade dentro do gênero trabalhado.

Para ajudar com os problemas inicialmente apresentados pelos alunos, houve a necessidade de diferenciar o gênero textual poema de outro nome que popularmente se usa como sinônimo dele: poesia. De modo opostoao que se acredita, poesia não se refere a um texto composto por versos e organizado em estrofes. Poesia é tudo que nos envolve e sensibiliza, aquilo que é capaz de gerar a sensação do belo em nós.

Dessa forma, o poema contém poesia, mas outros elementos também a possuem, como um belo pôr do sol ou o sorriso de uma pessoa amada. Tendo essa consciência, os alunos buscaram diferentes temas para seus textos e falaram de assuntos bem plurais: infância, viagens, amigos, família, escola etc.

O resultado foi surpreendente. Em muitos textos, a subjetividade estava bem aflorada e podiam-se perceber opiniões sobre determinados temas, sensações diante de situações vividas, inquietações existenciais e até mesmo confissões íntimas.

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Como produto final no processo de construção dos poemas, os alunos não tiveram apenas um texto escrito em versos. Eles puderam aprender um pouco mais sobre si mesmos e sobre seus universos interiores. Entender melhor o que se passa em nós e como lidar com quem somos é imprescindível para aprendermos a conviver com o outro de modo respeitoso, pois empatia, paz e amor são construídos de dentro para fora.

 

Professora Mariane Esteves

Colégio Santa Amália - Saúde

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