Colégio Salesiano
02 de maio de 2018 | 10h01
Por Priscila Debly de Queiróz Tavares*
Se você está na escola ou já passou por ela e se perguntou “não consigo escrever uma redação”, “estou sem inspiração hoje”, ou até mesmo apagou ou jogou no lixo tudo que escreveu, seja bem-vindo ao dilema do escritor, você é um escritor em potencial e ainda não sabe. Vamos pensar um pouco: será que o célebre Machado de Assis e Clarice Lispector; ou o famoso John Green e os autores dos “best-sellers”, ou aqueles que possuem numerosas ‘sagas’ que viraram filmes e séries; já não passaram por esses dilemas difíceis que envolvem a escrita?
O que você não sabe é que desde os escritores clássicos, que nos enchem os olhos com suas narrativas eloquentes, até os populares, que estão no auge e fascinam os jovens e adultos com livros cada vez mais atraentes e exóticos, já tiveram, em algum momento, suas indagações e decepções com seus textos. Isso é fato! Pois quem escreve, erra, apaga, erra de novo, apaga novamente e continua tentando, não desiste. Escrever é uma arte praticada!
Sabemos que a escola, hoje, vive um momento de transformação de sua identidade, uma vez que está inserida em uma sociedade na qual a informação rápida e fácil parece ser a moeda mais valiosa. De fato, é inquestionável a rapidez das informações, e é possível se ter acesso a quase tudo. Todavia, na maioria das vezes, o estudante não tem um direcionamento qualitativo do conteúdo lido em sites, rede social, blogs, ou até mesmo nos materiais impressos: livros, revistas, etc.
Por isso, é necessário, neste contexto tão acelerado, professores proficientes na leitura e escrita para direcioná-los à leitura do material pesquisado. Ou seja, formar, desde cedo, leitores e escritores autônomos que sejam capazes de selecionar, investigar e extrair das leituras e escritas o melhor conteúdo para seu trabalho e também para sua vida.
Outro aspecto de suma relevância é o professor escritor, principalmente da área de Língua Portuguesa e Produção Textual, que deve ser um escritor “espelho”, ou seja, ser o exemplo de escrita para as crianças e jovens que participam do letramento. O educador é a base que ecoa reflexões e pensamentos para o mundo, e deve, sim, escrever seus textos e compartilhar com os discípulos. É importante também a indicação das leituras de obras literárias, consagradas ou não, e textos dos mais variados gêneros, para que seus alunos naveguem em outros mares, como disse Camões “Mares nunca dantes navegados”. É nesta bússola que o professor marca o caminho da escrita a ser percorrido, e assim, as crianças e jovens compreendem que escrever não é dom, e sim uma prática diária. Escrever é mudança de hábito e comportamento.
É no exercício da leitura e da escrita dos textos literários que se desvela a arbitrariedade das regras impostas pelos discursos padronizados da sociedade letrada e se constrói um modo próprio de se fazer dono da linguagem que, sendo minha, é também de todos. (COSSON, Rildo, 2014, p. 34)
Para a citação acima, basta analisarmos as palavras de Cosson (2014), pois vista sob esse prisma, a leitura associada à escrita torna-se um componente fundamental para a formação intelectual, crítica e social do escritor.
Por isso que a escola deve estar preparada para um projeto voltado ao Jovem Escritor desde o letramento escolar, pois além de ser um projeto interdisciplinar, pedagógico e lúdico, ele também desperta o gosto pela leitura e escrita dos diferentes jovens. É uma ferramenta facilitadora para motivar a criança desde a fase da alfabetização até a fase adulta.
É pensando nisso que serão citados alguns passos de leitura e escrita para construção do Jovem Escritor, ou seja, hábitos eficazes para a produção de texto, que podem ser desenvolvidos na escola ou até mesmo em casa. Primeiramente, a sugestão do trabalho com a escrita é a criação de um caderno do escritor, chamado “Diário de Bordo”.
Primeiro passo:
O “Diário de Bordo” é um caderno ilustrado e atrativo para que o jovem sinta-se envolvido com o momento da escrita. Ele serve para a produção dos textos: diários, cartas, poemas, impressões leitoras e os mais diferentes gêneros e também tipos textuais: narração, descrição e opinião. O diário é o espaço para expressar as suas ideias, os sonhos, reflexões, opiniões, emoções, tudo que desejar.
Segundo passo:
O comportamento leitor e escritor. Para aproximar os escritores iniciantes da produção escrita e das necessidades enfrentadas no cotidiano é desenvolver os comportamentos leitores e escritores. Ou seja, eles participam de forma eficiente das atividades da vida social que envolvam ler e escrever. E, para isso acontecer, é necessário entender que cada uma das ações escritas e leitoras envolvem um tipo de texto com uma finalidade, um suporte e um meio de veiculação específicos.
Conhecer esses aspectos é condição mínima para decidir, enfim, o que escrever e de que forma fazer isso. Fica evidente que não são apenas as questões gramaticais ou notacionais (a ortografia, por exemplo) que ocupam o centro das atenções na construção da escrita, mas a maneira de elaborar o texto, o discurso.
Terceiro passo:
Há outro ponto fundamental nessa transformação das atividades de produção de texto que é “quem vai ler?”. O objetivo é fazer com que um leitor ausente no momento da produção compreenda o que se quis comunicar. Esse desafio requer diferentes aprendizagens, requer o uso da linguagem (aspectos notacionais, gramaticais) e também clareza das ideias, além da definição do público alvo, requer um leitor selecionado, ou seja, “para quem vou escrever?”.
Quarto passo:
A atividade leitora – ter hábitos saudáveis de leitura é construir um caminho significativo para ser um excelente escritor!
Hábito saudável do leitor
Escritores têm uma paixão pelo mundo escrito e não há maneira melhor de alimentar essa paixão do que lendo.
Entender os tipos de leitura
Quinto passo:
Ter hábitos saudáveis de escrita, escrever é uma arte a ser aprendida e praticada.
Hábito saudável do escritor:
E último passo…
Mãos à obra! Solte a imaginação…
Em suma, é a partir destas relações abordadas acima que o aluno passa a ter referências escritoras e pode desenvolver sua autoria. Logo, num futuro próximo, o jovem estará preparado para lançar sua obra editorial. E, nós educadores, temos que semear e acreditar que as crianças e jovens tem plenos poderes com a caneta na mão: o poder da escrita! E o mais rico deste processo do Jovem Escritor é saber que o aluno se identifica como um escritor liberto: livre do medo de escrever.
* Priscila Debly de Queiróz Tavares é Professora de Produção de Texto do Colégio Liceu Coração de Jesus. Mestranda em Letras/Literatura Brasileira pela Unifesp
Referências Bibliográficas
ASSIS, Luiz Antonio de Assis. “A escrita criativa: pensar e escrever literatura”. Rio Grande do Sul: EdiPucRS, 2012. 236 p.
COSSON, Rildo. “Letramento Literário: teoria e prática”. 2ª ed. São Paulo: Contexto, 2014.
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