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Blog dos Colégios

Opinião|Inovação curricular: um trabalho a muitas mãos

Por Claudia Xavier*

Atualização:
 Foto: Colégio Rio Branco.

Inovação é um movimento que traz desassossego e nasce do desassossego. Caminho inevitável quando não encontramos as respostas suficientes e necessárias ou quando o mundo mostra que as respostas que aí estão não sustentam ou não darão sustentação às necessidades do século. 

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Se nos fecharmos em nosso microcosmo e nos convencermos de que ele é suficiente, confortável, protegido e seguro, não há motivo para mudar e nem incrementar. Se assim fosse ficaríamos para sempre no útero materno, mas com a sabedoria da natureza, crescemos e não cabemos mais  naquele espaço.

Respirar é difícil, movimentar-se, quase impossível, então somos conduzidos a experimentar novas experiências para além do conforto. Dá-se a luz, momento acompanhado de dor e alegria. A dor do rompante de quebrar as vestes anteriores e enfrentar o mundo novo, alegria por ter braços abertos para o acolhimento e apoio do caminhar juntos, aprender novas etapas para lá na frente poder caminhar sozinho. Nascemos para o mundo e somos lançados para a zona de desenvolvimento.

No momento em que o Colégio Rio Branco escolhe olhar para além de seus muros, percebe que exatamente como o útero materno, crescer é preciso, movimentar-se sempre necessário e aprender com o outro e não para o outro fundamental. 

Sem perder seu DNA, incrementa com mudanças que levam a transformação para a comunidade: professores, alunos, famílias, colaboradores.  Todos foram despertados para novas soluções e novos caminhos. 

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Desconfortavelmente um caminho não sabido por nós, desassossegadamente passos que nem sempre todos querem trilhar. Inovar dói, mas é preciso. Inovar traz a  alegria de novas descobertas e a satisfação de consolidar o que é importante e aprimorar o que é necessário. A borboleta não voaria se não fosse lagarta.

Dividir o ano letivo em ciclos, trazer novos componentes curriculares, organizar o horário para favorecer a formação dos professores e os projetos interdisciplinares, reagrupar os alunos, trabalhar com o grupos multietários, desnudar rótulos e assumir grupos mais homogêneos dentro da diversidade, dar a voz e vez ao aluno, trabalhar por projetos e sem provas, movimentar-se entre as aulas sem sinal sonoro, ampliar o conceito de aula para unidade de trabalho, trazer o professor como tutor-orientador, experienciar ambientes de aprendizagem diversos e não mais restritos à sala de aula, trazer novas metodologias favorecendo o trabalho ativo do aluno, mudar cadeiras e mesas que saindo do linear para o funcional: ao lado, em duplas, em trios, em círculos , buscando o melhor design para melhor aprender, dar e ouvir feedbacks, descentralizar o trabalho, desenvolver atividades por roteiro, ter parâmetros através de rubricas ... esse foi o movimento que nos acompanhou nos últimos anos e se intensificou em 2019.

Fácil? De maneira nenhuma. Seria muito mais fácil permanecer com as ações que já conhecemos, mesmo que nos levem, algumas vezes, ao lugar comum.

Como bem diz Fernando Mantovani, em seu artigo sobre Carreira e Gestão, as empresas procuram profissionais com perfil inovador e precisam aprender a lidar com os erros, pois  um ambiente que favorece a inovação está estritamente ligado a um ambiente que permite a revisão dos caminhos para a melhoria no percurso. O erro é compreendido como componente do processo evolutivo, muitas das coisas que desfrutamos hoje são frutos de inúmeras tentativas de acerto. Este foi outro grande aprendizado que corajosamente tivemos apoiados na gestão visionária e responsável de nossos mantenedores e diretores.

Não basta dar ordens e impor novas ações é preciso envolver, comprometer, incluir, comunicar. A metodologia escolhida baseou-se em grupos de trabalho, por meio deste formato nos reunimos presencialmente ou virtualmente para discutir, aprofundar, organizar e estruturar ações. Grupo formado para além das hierarquias ( por mais difícil que tenha sido), diretor, coordenador pedagógico, coordenador de processos e projetos despiram-se de seus papéis para "perseguir"o propósito da tarefa como tão bem ensinado a nós por Pichon Riviere.

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Como o bebê que nasce e precisa de outras mãos que o conduzam para que  em outros núcleos se constitua, precisamos e fomos buscar outras mãos para nos ajudar. 

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Algumas mais ativas e presentes, outras dando apoio  e sustentando. Desta forma, professores compuseram os trabalhos e mais mãos foram se levantando, coordenadores de áreas, orientadores educacionais, diretores assistentes, alunos, pais  e profissionais convidados que nos apoiaram com o seus saberes e confiança em nosso trabalho.

Houve muitas mãos estendidas, muitas mãos na massa, mãos exitosas, mãos tolerantes, mas tivemos mãos que duvidavam, mãos que apontam os deslizes de algo que se consolidava, natural na vulnerabilidade necessária para a criatividade e inovação.

Como diz José Moran, pessoas são diferentes, têm histórias diferentes e fazem escolhas diferentes. Ao mesmo tempo nosso trabalho como gestores é encontrar quais caminhos que sejam mais viáveis, que atinjam melhores objetivos e que  ajudem os aprendizes a se mobilizarem mais (mesmo que não do mesmo jeito). Não é uma tarefa simples, acompanhar os diferentes itinerários, os tempos diferentes, os ritmos diferentes, os projetos diferentes e ao mesmo tempo, conseguir trabalhar valores comuns, projetos comuns em um tempo institucional previsível.

 É necessário uma mudança cultural, de todos os envolvidos, mudar paradigmas mentais consolidados exige investimento, formação, comunicação e vontade.

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Como enxergar nos projetos os componentes curriculares neles dissolvidos e misturados? 

Como identificar o objeto de conhecimento de cada área?

Como a própria Química nos traz, há misturas heterogêneas em que os elementos estão ali visivelmente preservados e há misturas homogêneas, nela  os elementos também estão ali, mas de tão integrados se diluem para transformarem-se, juntos, em outra substância. A água e o açúcar, por exemplo, integram-se e se transformam na água doce, não os enxergamos da mesma forma, mas os dois estão ali e generosamente se despem e se fundem em algo mais saboroso e delicadamente oferecido quando precisamos nos acalmar. Juntos, de verdade, somos melhores.

Muito se fala das competências sócio emocionais, quase um lugar comum. Alguns trazem bandeiras com projetos, aulas sobre sentimentos ou valores. Nós acreditamos em sua importância, mas entendemos que o seu lugar está no cotidiano do fazer escolar e da constituição do ser. 

Aprender a ser e a conviver, um dos pilares da Unesco, foi a tônica  do ciclo 4, ciclo síntese das aprendizagens vividas ao longo dos três primeiros ciclos do ano. 

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É no outro que nos constituímos como seres sociais e desenvolvemos nossas competências interpessoais e portanto, é no conflito de interesses, opiniões e escolhas que aprendemos e crescemos como pessoas.

Empatia, respeito, solidariedade, diversidade, entre outros valores e sentimentos, naturalmente foram trabalhados nesse período. Aprendizagens de alunos, profissionais e famílias.

Aprender de forma colaborativa, uma grande lição a todos. Não  seremos mais os mesmos. A aprendizagem é um processo muito mais amplo do que a escola.

A muitas mãos fizemos a transformação e, nós enquanto Grupo de Trabalho,  tivemos a oportunidade e o privilégio de participarmos dela.

 Foto: Estadão

*Claudia Xavier Costa Souza é diretora da unidade Granja Vianna do Colégio Rio Branco. Pedagoga formada pela PUC-SP atua há mais de 30 anos nas áreas de gestão escolar e formação de professores.  Especializada em Gestão de Pessoas pela Fundação Dom Cabral; em Gestão de Conflitos pela USP e em Construção do Projeto Político Pedagógico pela PUC-PR. Pós-graduada em Psicologia Moral e em Psicopedagogia Institucional. Participou do programa de gestão da qualidade pedagógica do governo alemão, ZFA Schulmanagemente Wetmeit - para a Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai. Tem experiência em Planejamento Estratégico Compartilhado e com seminários sobre alfabetização e metodologia da Língua Portuguesa.

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Opinião por Colégio Rio Branco
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