Colégio Rio Branco
20 de dezembro de 2021 | 14h28
Dezembro chegou, embora ainda estejamos em meio a uma travessia permeada por incertezas oriundas da pandemia, nos sentindo ameaçados pelas recém populares “variantes” e receosos com as notícias de outros países. Mas, a verdade é que adentramos em um mês festivo. O final do ano é marcado por férias, confraternizações e incontáveis sensações.
O ano de 2021 começou com sabor de esperança. Em janeiro, assistimos emocionados a enfermeira Mônica Calazans ser a primeira pessoa vacinada contra a Covid-19, no Brasil. Desde então, muito aconteceu – numa breve retrospectiva, típica dessa época, nos deparamos com as mais diversas e díspares emoções e sentimentos, dentre elas: alegria e tristeza, saudade e nostalgia, esperança e desilusão, indiferença e compaixão.
Quando um ciclo chega ao fim, é natural pensarmos sobre ele; é o mesmo que acontece diante de um término de relacionamento, uma troca de emprego ou mesmo quando um filme acaba. A chegada do final do ano nos coloca, outra vez, de encontro com essa finitude relativa, visto que poderíamos aqui substituir, bem como nos outros encerramentos, o ponto final pelas reticências. Afinal, tudo o que foi experimentado, sentido e vivido torna-se marca da nossa história e nos transforma de forma contínua. Em janeiro, a página do livro de cada um, torna-se branca e começa tudo outra vez – mas, não se parte do zero e nós sabemos disso.
Um estudo que avaliou a percepção de satisfação das pessoas na época natalícia, indicou que em torno de 75% dos entrevistados referiram emoções positivas. Trata-se de uma época recheada de afeto; com ruas, casas e até mesmo alguns ônibus enfeitados com adereços e pequenos pontos de luz. Porém, se por um lado estamos falando da maior parte da amostra, devemos nos atentar também para o fato de que esta não é uma percepção universal. Logo, nenhuma pessoa precisa se sentir na “obrigação” de ser feliz – isso não representa, necessariamente, a realidade. Dezembro também pode promover momentos de cansaço, fadiga, reflexão e nostalgia; estar diante de um período permeado por demonstrações de amor pode trazer à tona melancolia ou mesmo memórias que apertam o peito.
As nossas emoções e sentimentos estão diretamente associados a fontes internas e externas. As internas correspondem àquilo que é subjetivo, a nossa personalidade, a nossa história, a forma como lidamos com os eventos do dia a dia. Já as externas relacionam-se intrinsecamente ao ambiente, ao entorno. Se tudo estiver bem, muito obrigada, ficamos felizes por celebrar com a família e amigos; se as coisas estiverem mal, podemos ficar indispostos e até mesmo com vontade de nos resguardar. Não se iluda, nem tudo são flores. Conflitos familiares são comuns e algumas pesquisas ainda apontam para outro fator: o aumento do estresse associado ao consumismo nessa época do ano.
O “complexo de período perfeito”, onde todos se sentem bem menos você, é ilusório e cabe a ressalva da necessidade de tomarmos cuidado com as redes sociais. Uma pesquisa realizada pela instituição de saúde pública do Reino Unido, a Royal Society for Public Health, em parceria como o movimento de Saúde Jovem, apontou que as redes sociais podem ser nocivas à saúde mental das pessoas, pois nelas ninguém demonstra tristeza, ao passo que do outro lado da tela, uma pessoa que está triste pode vir a se sentir ainda pior ao assistir a inatingível suposta realidade de outrem. Pense bem, ninguém irá compartilhar na internet a foto da lasanha que queimou, do peru que não assou mesmo depois de 8 horas no forno ou da confusão durante o amigo secreto. Literalmente “curta” os instantes e não se iluda com um ideal de felicidade eterna. Bons e maus momentos permeiam a vida de todos nós.
Quando um novo ano se aproxima, muitos gostam de planejá-lo, mas outros preferem pular esta etapa. Tudo bem, não há uma regra, você pode dar início à sua lista de desejos hoje mesmo, bem como deixá-la para depois do carnaval; faça quando estiver preparado e caso sinta vontade para tal. Está nas nossas mãos a construção das recordações, diz o dito popular que a vida é feita de escolhas, se isto é verdadeiro cabe a cada um o direito e a possibilidade de escolher o que lhe faz bem, respeitando seus próprios limites e possibilidades.
Após um ano com tantas restrições sociais, as expectativas para as festividades de 2021 estão altas em muitos lares, em especial quando pensamos em nossas crianças. Mas como podemos ajudar nossos filhos a aproveitarem essas experiências de forma especial neste novo final de ano? Em conjunto com a neuropsicóloga Sylvie Moschetta foram elaboradas algumas orientações aos pais.
Por fim, torna-se óbvio que estamos diante de uma época temperada com um toque de intensidade e uma boa pitada de emoções, sejam elas quais forem, à flor da pele. Neste período nos permitimos ser, encontrar tempo para estar próximo daqueles que consideramos importantes e mergulhar em instantes que nos desconectam temporariamente das asperezas do cotidiano. Que possamos celebrar tudo isso da melhor forma, com responsabilidade e consciência. A pandemia ainda não se despediu por completo, exige cautela e cuidado, contudo, felizmente, aos poucos os encontros e reencontros voltam a fazer parte dos nossos planos, de preferência em ambientes ao ar livre. Aproveite, sonhe e ano que vem voltaremos a escrever juntos belas histórias. Boas festas!
Juliana Góis é Orientadora Educacional de Apoio à Aprendizagem no Colégio Rio Branco, psicóloga e psicopedagoga, especialista em Neuropsicologia e mestre em Neurociência. Atua na área clínica e educacional.
Sylvie Moschetta é psicóloga e neuropsicóloga pela USP, mestre pela Faculdade de Medicina da USP e sócia-fundadora da Braincare.
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