Colégio Rio Branco
28 de junho de 2021 | 16h09
Em 2020, ao mesmo tempo em que as águas de março fechavam o verão, a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou a pandemia de COVID-19, doença causada por um novo vírus, invisível aos olhos, com sintomas que variam entre extremos, alto poder de contágio e cujo tratamento segue sendo investigado por especialistas, mas ainda é inespecífico.
Se fizermos um exercício de voltar no tempo, é provável um encontro com diferentes reações diante do anúncio inicial. Você se lembra como foi receber as primeiras notícias? Onde estava? Como se sentiu? Lembro-me que naquela tarde eu fui embora da escola apenas com a bolsa amparada no ombro, acreditando que duas semanas depois estaria de volta. Estava enganada. Recordo-me, ainda, que no caminho para casa, um amigo me disse acreditar que esse período seria mais longo, podendo se estender até por alguns meses. Ele também estava enganado. Após mais de um ano, estamos em 2021 e a sensação é de que os ventos do outono sopraram não só as folhas, mas também os ponteiros do relógio acelerando a passagem do tempo. Nos colégios as bandeirinhas já enfeitam os corredores, nos lembram que estamos na época das festas juninas e que elas serão comemoradas, porém, mais uma vez, de uma outra forma.
Não é novidade que nesse processo de desconstrução e reconstrução de rotinas, de alguma forma, a vida de cada um de nós foi tocada e nossas perspectivas quanto ao futuro alteradas. Sabemos também que a educação ficou em evidência, mas, seja no formato remoto, presencial ou híbrido, por todo o tempo a engrenagem da escola continuou a girar.
Diante de um contexto em que percorremos uma rota inédita, reprogramada por um evento que não prevíamos e que sequer havia sido esboçada em nossos planos mais longínquos, nos deparamos com o aumento significativo de estresse, ansiedade e tristeza. Nossas emoções oscilam entre altos e baixos e, em alguns momentos, poderíamos parafrasear uma música dizendo que andamos tão à flor da pele que qualquer beijo de novela nos faz chorar.
Nesse cenário, com as luzes dos holofotes direcionadas para o palco, para importância do olhar, acolher e cuidar também de quem cuida, convidamos o Dr. Gustavo Mechereffe Estanislau, médico psiquiatra, para conversar inicialmente com nossos colaboradores e educadores que, a despeito dos desafios, seguiram exercendo seus papéis e garantindo que a música da orquestra não parasse de tocar.
Os encontros aconteceram ao longo de junho. Todos com caráter informal, grupos de bate papo permeados por sensibilidade e pela disseminação de conhecimentos com base em evidências científicas, sendo abordados os impactos mais prevalentes secundários à pandemia, bem como estratégias de manejo que podem oferecer auxílio diante deste período atípico recheado de instabilidade e imprevisibilidade.
A partir de explicações objetivas e com o apoio de exemplos do nosso dia a dia, o Dr. Gustavo buscou desmistificar e reduzir possíveis preconceitos que ainda circundam o tema Saúde Mental. Ele nos esclareceu que episódios de ansiedade e/ou estresse elevado, em geral, estão mais relacionados ao sujeito que está se expondo a situações que desencadeiam esse tipo de reação do que a uma fragilidade. Sendo assim, não podemos e nem devemos nos culpar se estivermos nos sentindo mais tensos, ansiosos ou desanimados em algum momento da pandemia e, além disso, contar com a ajuda das neurociências para entender melhor os porquês dessas reações.
O contato social, por exemplo, seja ele positivo ou negativo, faz com que o nosso cérebro dispare um neurotransmissor chamado dopamina, que nos faz querer nos mantermos em movimento, repetir coisas. Sendo assim, quanto maior o distanciamento social, menor o contato com o outro e menos este disparo acontece, consequentemente, podemos nos deparar com uma diminuição da disposição e motivação, fazendo com que atividades que antes nos eram prazerosas como ler um livro ou ouvir música, não sejam percebidas da mesma forma.
As amígdalas cerebrais também ocupam uma posição de destaque quando nos propomos a compreender nossas reações emocionais nessa fase, afinal elas podem ser consideradas o centro de emoções como a ansiedade, o medo e a raiva. As amígdalas são como radares, antenas do nosso cérebro que captam os estímulos ao nosso redor e tentam se adaptar ao que está acontecendo. Diante das inúmeras mudanças ocorridas nos últimos meses, há uma maior produção de hormônios como a adrenalina e o cortisol, o que gera um estado de alerta maior, nesse sentido, as reações diante de um evento podem estar, nesse momento, potencializadas.
A boa notícia é o reconhecimento por evidências científicas do valor das pequenas ações associadas à tríade: atividade física, alimentação e sono. Ela pode fazer uma grande diferença na nossa vida, sendo capaz de promover equilíbrio, reduzir o impacto dos estímulos no nosso sistema de alerta e ajudar nessa longa travessia. Porém, para isso é preciso, ao invés de lutar contra fatores que não estão sob nosso controle, fazermos uma pausa para observar comportamento, buscar entender nossas ações, falar e dar contorno às emoções, e então, a partir daí, colocar em prática as estratégias compatíveis com as necessidades e características de cada um.
Seguem dez dicas simples que podem ser colocadas em prática no nosso dia a dia:
Limite o monitoramento constante de notícias e busque fontes confiáveis.
Essas e muitas outras sugestões encontram-se no Documento
Juliana Góis
Orientadora Educacional de Apoio à Aprendizagem do Colégio Rio Branco. Psicóloga e Psicopedagoga pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), especialista em Neuropsicologia e mestre em Neurociência pelo Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPq-HCFMUSP). Atua na área clínica e educacional
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