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Brasileiras ganham bolsa para mestrado em café na Itália

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Por Andrea Tissenbaum
Atualização:

Turma 2019 do Mestrado Internacional em Economia e Ciência do Café | Foto: Raquel Vilela Miranda

Raquel Vilela Miranda já está em Trieste e Priscylla Shimada de Assis iniciará o curso em janeiro 2020. As inscrições para candidatura à bolsa vão até 15/06.

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As inscrições para candidatura à bolsa no Mestrado Internacional em Economia e Ciência do Café (International Masters in Coffee Economics and Science Ernesto Illy) estão abertas até 15 de junho. Realizado na cidade de Trieste, na Itália, o programa oferece uma formação multidisciplinar sobre o mundo do café. Os cursos englobam todo o ciclo produtivo - do cultivo até os serviços de alimentação, incluindo logística e o processo de industrialização. Na Itália, os formandos recebem o título de MSc - Magister Scientiae e é possível pedir revalidação do diploma no Brasil.

Há alguns anos, vários brasileiros têm participado desse mestrado, que já é uma referência, como bolsistas. Em janeiro de 2017, Livia Mundim ganhou uma bolsa integral e partiu para Trieste. Em 2018, o escolhido foi Vitor Stella, engenheiro agrônomo de 26 anos. No início de 2019, foi a vez da mineira Raquel Vilela Miranda. Em janeiro de 2020, a também mineira Priscylla Shimada de Assis, de 28 anos, vencedora do Prêmio Ernesto Illy Mulheres do Café 2019, vai iniciar seu mestrado.

"Minha família é de pequenos produtores", conta a bolsista Raquel Vilela Miranda. Meus avós criaram 14 filhos e conseguiram deixar um pedaço de terra para cada um. Todos trabalham na produção de café, nossa principal fonte de renda. Meu envolvimento com café vem desde a infância. Sempre fui muito agarrada com meu pai e ia com ele e meu avô para a lavoura, com frequência. Pelo fato de ser mulher, nunca ninguém me falou para estudar Engenharia Agronômica. Quando terminei o ensino médio, fui fazer Ciências Sociais na Universidade Federal de Ouro Preto, mas percebi que não era bem isso que eu queria. Há muitas mulheres no agronegócio e na cafeicultura e eu queria me juntar a elas. Então, fiz um novo vestibular para Agronomia e me formei pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas Gerais - Campus Muzambinho". 

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A bolsista Raquel Vilela Miranda, no Mestrado em Café | Foto: Raquel Vilela Miranda

Raquel trabalhou três anos no Centro de Café do Instituto Federal de Muzambinho, onde atendeu pequenos produtores rurais, organizou concursos de qualidade de café, e aprendeu sobre o mundo dos cafés especiais. "Acho que o trabalho mais importante que fiz foi com os pequenos produtores no norte do Paraná, na região de Tomazina. Ao longo de três anos, eu ia para lá todo mês com alguns colegas. Nós ficávamos hospedados nas casas dos agricultores. O que eu sei eu aprendi no campo, na prática, na lavoura, vendo esses produtores trabalharem. Nós fazíamos de tudo: da assistência técnica e regulagem de máquinas, à prova de grãos e organização de feiras em Jacarezinho", explica.

Ela também fez mestrado no Centro de Solos no Instituto Agronômico de Campinas - IAC, onde trabalhou com manejo de resíduos do café.Mas foi a desafiadora experiência na Università del Caffè Illy que a tirou completamente de sua zona de conforto. "Eu venho de uma origem bem humilde e sem essa bolsa não teria nenhuma condição de estar aqui na Itália. Esse mestrado está me mostrando que o mundo do café vai muito além das fronteiras do Brasil. Aqui em Trieste, tenho colegas de várias partes do mundo e estou aprendendo sobre o cultivo e a comercialização do café em outros países, que é bem diferente do que vivemos no Brasil. A realidade do café no Brasil é bem diversificada, mas o mercado internacional tem exigido um produto de melhor qualidade e é importante nos capacitarmos para oferecer esse produto".

Raquel Vilela Miranda, com a turma de 2019 do Mestrado em Café | Foto: Raquel Vilela Miranda

O mestrado vai até 14 de junho, quando Raquel deve voltar para o Brasil. Sua família mora em Três Pontas e quer abrir uma cooperativa. "Meu pai e 13 tios estão muito animados com a possibilidade de mudar a maneira como produzem o café, para tornar o produto mais competitivo e exportá-lo. Eu também gostaria de trabalhar como consultora para fazendas que desejam produzir cafés especiais para exportação e, é claro, compartilhar meus novos conhecimentos com as universidades brasileiras, oferecendo cursos e palestras".

Para os que querem tentar a bolsa, Raquel reforça que é importante ter um bom inglês e mostrar forte envolvimento com o café, não só na questão profissional como também na afetiva. "A Illy é uma empresa familiar, então o café além de ser o negócio da família precisa também ser sua paixão".  

Priscylla Shimada de Assis em plantação de café | Foto: Priscylla S. Assis

Esse é o caso de Priscylla Shimada de Assis, formada em Administração de Empresas pela Universidade de Ribeirão Preto - UNAERP. "Comecei a trabalhar com café há seis anos, ajudando no administrativo do escritório da fazenda de seu pai, que fornece café para a Illy há 20 anos. Em 2014, fiz um MBA na Indiana Tech University, nos EUA, e quando voltei, me envolvi completamente com o trabalho. Desde então, meu irmão e eu cuidamos sozinhos de uma fazenda de café arrendada por nosso pai". 

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Para adquirir as ferramentas necessárias para trabalhar com o produto, Priscylla fez um curso de Gestão da Cafeicultura pela REHAGRO, três cursos do SENAR sobre Torra, Classificação e Degustação do Café e um curso de barista, no Mundo Café, em Uberlândia. Além disso, também fez o Empretec do SEBRAE, metodologia da Organização das Nações Unidas - ONU que busca desenvolver características de comportamento empreendedor.

Em 2017, Priscylla e mais três mulheres criaram o Grupo das Mulheres do Agro de Monte Carmelo e região. "A maioria das mulheres daqui que se envolvem com o café são esposas ou familiares de fazendeiros. Nossa intenção era buscar uma capacitação melhor sobre o produto e obter uma formação mais sólida para atuar no negócio.

Grupo das Mulheres do Agro de Monte Carmelo e região | Foto: Priscylla S. Assis

Hoje somos em torno de 30 mulheres e acho que a mobilização deu certo. Juntas conseguimos compartilhar conhecimento e levá-lo adiante. Estamos nos capacitando, trabalhando, fazendo um movimento para melhorar nossa atuação no negócio. Tudo que fazemos é patrocinado. Ainda não somos uma organização formal, mas realizamos bastante coisa aqui em Monte Carmelo. Criamos duas turmas para um curso de Mulheres Tratoristas e uma para o de Aplicação de Defensivos (pulverização da fazenda), também para mulheres. Ambos foram oferecidos gratuitamente pelo SENAR. Nossas reuniões não são frequentes, mas temos pauta e objetivos bem definidos. Nos juntamos no LABRAS, laboratório brasileiro de análises ambientais e agrícolas da Juliana Tudela. Junto com ela, a Luciene Jordão e a Paula Naves formamos a governança do grupo.

"Espero que este mestrado me permita aprimorar meus conhecimentos básicos sobre o café e trazer novidades para o Brasil. A Fundação Illy é muito renomada e acredito que seja o melhor lugar para aprender tudo sobre o café. Além disso, vou conhecer a realidade de outros países e essa troca de experiências vai ser especial. Também quero poder implementar o que vou aprender em minha fazenda. Tenho planos de abrir uma cafeteria em algum momento, e estou certa que nesse mestrado receberei as ferramentas adequadas para poder fazer isso.

Quando me candidatei ao Prêmio Ernesto Illy Mulheres do Café, fiz isso sem nenhuma expectativa, embora soubesse que tinha uma boa formação na administração do agronegócio e do café em particular. Então, se você está nesse meio, não vacile. Quando esta oportunidade se abrir novamente, faça a sua candidatura. Quem sabe a gente não se encontra lá em Trieste no ano que vem?"

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Andrea Tissenbaum, a Tissen, escreve sobre estudar fora e a experiência internacional. Também oferece assessoria em educação e carreiras internacionaisEntre em contato: tissen@uol.com.br

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