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Brasileira ganha bolsa para ensino médio na Holanda

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Por Andrea Tissenbaum
Atualização:

Mariana Martins Carvalho - bolsista do UWC na Holanda | Foto: Mariana Martins Carvalho

Aluna de uma escola estadual em Belford Roxo, Rio de Janeiro, ela foi selecionada pelo United World Colleges e vai finalizar seus estudos em Maastricht!

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Até pouco menos de um mês, Mariana Martins Carvalho, uma simpática jovem de 16 anos, era aluna do segundo ano do ensino médio no Colégio Estadual Presidente Kennedy, em Belford Roxo, Rio de Janeiro. Recém selecionada para uma bolsa integral de dois anos do United World Colleges - UWC, ela está de partida para a Holanda, onde vai terminar seus estudos.

Mariana começou o processo de candidatura no ano passado quando seu irmão Lucas, bolsista do AFS em 2016, mostrou a ela a oportunidade. "Fiz minha inscrição online sozinha e me preparei bastante para passar na prova da primeira fase. Depois vieram as entrevistas, para as quais só 75 pessoas foram selecionadas. Finalmente, um grupo de 10 candidatos foi convidado para participar de um convívio e eu fui escolhida. Não acreditei que consegui a bolsa! O processo não foi fácil e exigiu bastante dedicação", ela conta.

O UWC seleciona estudantes de diversos perfis, origens, realidades e escolas. Em cada etapa, avalia características como maturidade, responsabilidade, autonomia, liderança, resiliência e motivação. Abertura para outras culturas e um bom desempenho acadêmico também são características chave dos candidatos. O processo seletivo não exige proficiência em idiomas. Entende-se que ao longo dos dois anos residindo nas escolas UWC, os alunos adquirem essa fluência.

"Eu me encantei com a Holanda por causa do livro e do filme A culpa é das estrelas, no qual boa parte das cenas são gravadas em Amsterdã. Na verdade, eu nem mencionei isso durante o meu processo seletivo, mas estou particularmente feliz com a ida para lá. Durante as entrevistas e o convívio, falei muito sobre Belford Roxo, minhas atividades, e sobre como tenho vontade de mudar nossa realidade que é bastante caótica. Na minha escola, várias meninas de 14/15 anos estão grávidas e o mesmo acontece em outras escolas da região. Vejo minha ida como uma oportunidade de, em um futuro próximo, trazer mais informação para cá. Eu acho que a gente consegue mudar esse tipo de realidade pelo esporte e pela educação, porque assim a cabeça das pessoas se ocupa com outras coisas.

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Eu acho que nós meninas somos colocadas em um patamar inferior. Aqui em Belford Roxo, temos uma Vila Olímpica e eu me envolvi muito com esportes. Faço karatê e tenho amigas que são campeãs brasileiras, mas elas recebem menos visibilidade que alguns meninos porque as pessoas acham que o karatê não é uma luta para meninas. Talvez seja por isso que eu admire tanto a Malala, quando falo dela meus olhos brilham", diz Mariana ao se referir à jovem ativista paquistanesa de 21 anos, que luta pela educação e direitos das mulheres e foi laureada com um prêmio Nobel em 2014.

"A Malala também fala muito sobre isso. Meu pai e minha mãe são professores de biologia da rede municipal de Belford Roxo e todos em casa acreditam que a educação é o que move o mundo. Tenho muita vontade de aprender sobre Mingora, a cidade da Malala, Botsuana e Suazilândia - lugares sobre os quais falamos muito pouco aqui no Brasil. Tenho curiosidade de saber como as pessoas de outras partes do mundo aprendem biologia e tecnologia, porque gosto muito de estudar isso", afirma a jovem bolsista.

Mariana certamente terá a oportunidade de expandir seus conhecimentos. Vai passar dois anos na escola da UWC em Maastricht, como aluna residente do programa International Baccalaureat - IB, qualificação educacional reconhecida por diversas universidades internacionais durante o processo seletivo.

Mariana e Cristiane, sua mãe | foto: Mariana Martins Carvalho  

Cristiane, mãe de Mariana, participou da conversa e disse que não tem palavras para descrever os feitos de seus filhos. Vai morrer de saudades, porque Lucas está fazendo a graduação na Universidade Federal da Paraíba e sua caçula em breve partirá.

"Eu sempre trabalhei muito. Sou gestora eleita e acredito na educação pública. Lucas e Mariana são fruto da escola pública, tenho orgulho disso. Nós moramos na Baixada Fluminense, nosso município tem um dos menores índices de desenvolvimento humano - IDH do estado e as escolas têm muitas deficiências. Mas meus filhos sempre correram atrás. Acho que o diferencial deles é a leitura e uma frase que eu repito desde que eram bem pequenos: vocês têm que ser melhores que o seu pai e eu, construir uma história melhor do que a nossa.

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Fui empregada doméstica por 10 anos na casa de uma professora de língua portuguesa e foi ali que comecei a me apaixonar pela educação. Cuidava dos bebês de manhã, estagiava em uma escola particular à tarde e à noite fazia o curso normal. Quando terminei meus estudos, fiz concurso para a prefeitura de Nova Iguaçu e passei em segundo lugar. Eu fiquei rica naquele momento! Levei três anos para entrar na faculdade, mas consegui estudar em uma universidade em Duque de Caxias, onde conheci meu marido. Nos formamos juntos em Biologia, ele era meu colega de turma.

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Sempre incentivamos a Mariana e o Lucas a estudar e a ler. Os livros fazem parte do mundo deles, assim como a vontade de saber. Nós também sempre incentivamos os dois a aproveitar tudo que é oferecido em nossa comunidade, porque apesar de todos os problemas que temos, muita coisa boa acontece por aqui. Eu não tinha conhecimento dessas oportunidades internacionais, para mim esse universo era muito distante. Foi um professor do Lucas que trouxe a informação e a partir do resultado positivo com a bolsa de estudos que ele recebeu, aprendemos que para conseguir é preciso tentar", explica Cristiane.

Mariana e Lucas, seu irmão | Foto: Mariana Martins Carvalho

Mariana terá a oportunidade de vivenciar uma realidade bem diferente. Quer voltar para usar sua experiência e novos conhecimentos em seu município, estado e país. "Mesmo que sejamos somente dois ou três, como diz meu irmão, não importa. Já somos alguns que querem fazer a diferença", ela reforça.

A jovem deixa uma dica: "Se você tem uma informação boa, ela certamente pode servir para outra pessoa. Eu consegui a bolsa, mas não guardei segredo sobre a oportunidade. Em um encontro de grêmios da escola, fiz algumas apresentações para falar sobre minha experiência - 44 escolas estavam representadas ali, no município de Belford Roxo. Depois participei de um encontro com gremistas de Duque de Caxias e São Joao do Meriti, compartilhando", ela conclui.

Boa viagem Mariana, muito sucesso para você!

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Andrea Tissenbaum, a Tissen, escreve sobre estudar fora e a experiência internacional. Também oferece assessoria em educação e carreiras internacionaisEntre em contato: tissen@uol.com.br

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