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A chegada em um lugar desconhecido

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Por Andrea Tissenbaum
Atualização:

 Foto: Jason Priem via Wikimedia Commons

Viajo para um lugar onde nunca estive antes. Supostamente é um paraíso, cercado das praias mais bonitas e de muito sol. Minhas expectativas são tantas que mal posso esperar para conferir ao vivo as fotos que vi e o que li a respeito.

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Chego num fim de tarde e chove a cântaros. Sou informada que há dias o tempo está assim, o que suspende, por um rápido momento, minha fantasia de dias radiantes.

Dadas as condições meteorológicas nada favoráveis que me impedem de dar um "corridão" e mergulhar no mar, resolvo me acomodar e fazer um primeiro reconhecimento do local.  Tem um bocado de gente conversando animadamente nas varandas da pousada. Discretamente, registram minha chegada.

Por algum motivo que não sei explicar, me conecto com um sentimento que já vivi em outras ocasiões quando cheguei a um lugar desconhecido.  E percebo que a chegada é um momento inquietante. A gente vem cheio de expectativas, fantasias e verdades sobre alguma coisa que não sabe bem do que se trata. E não sabe quais são os códigos, quais são as regras locais.

Talvez o que mais dificulta a chegada, seja uma contra reação que nos prende a hábitos e valores do que já conhecemos. Sem querer, avaliamos tudo que está à nossa volta como se quiséssemos balizar o novo com aquilo que nos é familiar. Por um momento, perdemos a oportunidade de simplesmente chegar, de deixar o conhecido para trás e mergulhar na novidade que se apresenta.

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Quando partimos, criamos expectativas sobre a nossa chegada. Seja lá para onde for, seja lá pelo tempo que for. Às vezes a sorte permite que o esperado aconteça. Mas, na maioria dos casos, não é bem assim. É nessas horas que as nossas defesas se manifestam e flertam com uma certa frustração que pode fechar a janela da alegria do novo.

Não importa para onde você vá, tenha a certeza que a sua história e o seu momento presente lhe acompanharão como bagagem. Eles são o que você conhece, o que você domina, o que bem ou mal lhe deixam seguro. Ao mesmo tempo, essas raízes são justamente aquilo que pode atrapalhar uma chegada. Porque, por pura defesa, podem se transformar na lente que ajusta tudo o que você vê de uma forma distorcida.

Comparar é humano. Buscar referências em nossa memória quando uma nova situação se apresenta é normal. Mas, para viver uma experiência nova em sua plenitude é necessário exercitar a curiosidade e se abrir. Para dar uma chance ao desconhecido. Sem fazer comparações, sem fazer julgamentos. A partir daí tudo passa a fluir naturalmente, sem sustos, sem medo.

Não é um exercício fácil. Mas, certamente, vale a pena. Especialmente se conseguir se observar no processo e entender que o que está acontecendo com você naquele momento não é uma ameaça, mas uma oportunidade. Um convite especial para viver o novo.

E essa vivência exige que você se liberte dos seus pré-conceitos, seja mais flexível, mais aberto para o mundo.

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**Obs. Para você que ficou curioso, no dia seguinte o sol apareceu com força e eu pude dar muitos mergulhos no mar. A partir daí, minha viagem foi só alegria.

Andrea Tissenbaum, a Tissen, escreve sobre estudar fora e a experiência internacional. Siga o Blog da Tissen no Facebook e no Twitter

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