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A educação que vale a pena

Storytelling na Educação: o poder de uma história bem contada

A narrativa é uma prática educativa ancestral e altamente efetiva, que transmitiu cultura, conhecimento e valores de gerações em gerações; precisamos resgatá-la e levá-la para as escolas se queremos um ensino compatível com a contemporaneidade

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Por Ana Maria Diniz
Atualização:

É fácil ser pessimista nos dias de hoje, como bem colocou o físico americano Yaneer Bar-Yam, do Instituto de Sistemas Complexos da Nova Inglaterra, numa entrevista recente. Nossa sociedade, moldada para produzir linhas de montagem, é ótima para ações em escala, mas não tem nenhuma flexibilidade para lidar com a complexidade. Por isso, diz Bar-Yam, temos a sensação de que tudo foge ao controle e de que não somos capazes de achar respostas para os problemas que se apresentam. Isso acontece, claramente, nas milhares de salas de aulas também.

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Se formar bons professores já era um desafio quando o mundo e as escolas funcionavam a partir de uma lógica secular e conhecida, agora é uma tarefa hercúlea, que não compreendemos totalmente e nem sabemos como executar. Tenho pensado sobre o assunto e acho que a resposta está começando a ficar mais clara na minha cabeça. A tecnologia, é óbvio, mudará tudo e ajudará muito. Mas o mais importante para um professor, além de dominar o conteúdo, será saber contar uma boa história, envolver os alunos e instigá-los a fazer experiências em torno de seus estímulos.

Para isso, é necessário construir narrativas quer conectem diferentes conhecimentos e os apresente de forma contextualizada, interessante e irresistível. Contar boas historias pode ser o grande fio condutor para criar interesse nas crianças. E para isso há técnica. Os professores precisam ser preparados para dominá-la.

A solução pode parecer simples demais diante de uma realidade tão intrincada como a nossa. Mas faz todo o sentido. O século 21 é o século da narrativa, escreveu o israelense Yuval Noah Harari no estupendo livro Sapiens, Uma Breve História da Humanidade. A complexidade de um sistema varia de acordo com o número de coisas conectadas umas às outras que ele possui. E o que uma boa narrativa faz é exatamente conectar os pontos, costurar ideias, ações, temas e personagens de um jeito atraente, unindo, dessa forma, cérebro e coração, razão e emoção.

A histórias envolvem nossos pensamentos, emoções e imaginação ao mesmo tempo. Como ouvintes, participamos da história e mergulhamos no enredo reagindo a ele. Mais que tudo, contar histórias  ensina sobre a experiência humana. E essa experiência envolve a matemática a química, a geografia, a sociologia - enfim, tudo!  Além disso, como nos mostra a neurociência, a familiaridade do padrão narrativo, por estar associado a experiências emocionais positivas ainda na tenra infância, ajuda na memorização e na compreensão dos fatos.

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A narrativa ou, nos termos da moda, o storytelling, tem sido parte da vida humana desde que saímos da África, há 200 mil anos, é a nossa forma de comunicação mais inerente e importante. É uma prática educativa ancestral e altamente efetiva, que transmite cultura, conhecimento, valores éticos e morais de gerações em gerações.Precisamos urgentemente resgatá-la e levá-la para as escolas se queremos um ensino compatível com a contemporaneidade.

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