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A educação que vale a pena

Elementar, meu caro Watson

Expoente da computação cognitiva, o supercomputador Watson faz deduções apoiadas em fatos, dados e experiências que nos ajudam a encontrar soluções para problemas complexos - reinventar o ensino é um deles

Por Ana Maria Diniz
Atualização:

"Pode ser que você mesmo não seja luminoso, Watson, mas é certamente um condutor de luz. Algumas pessoas, sem possuir a genialidade em si, têm um notável poder de estimulá-la", admitiu Sherlock Holmes, o icônico detetive criado por Sir Arthur Conan Doyle, ao seu assistente, o também lendário Dr. Watson,, em O cão dos Baskervilles.

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É fato: sem Watson, não haveria Holmes. As deduções e conjecturas do auxiliar instigavam o mentor constantemente, aguçando ainda mais seu exímio raciocínio lógico.

O papel desempenhado pelo assistente de Holmes é parecido com o que pretende outro Watson, o supercomputador desenvolvido pela IBM que fala, pensa, tem insights, cria hipóteses e dialoga com pessoas de carne e osso numa relação simbiótica, cujo objetivo maior é ajudar a nós, humanos, em decisões e soluções de problemas ultra complexos.

Este Watson moderno é o expoente da chamada computação cognitiva, a nova era das máquinas que aprendem de um jeito similar ao nosso - por conta própria, a partir de fatos, interações e experiências, transformando informações desconexas em pensamentos elaborados.

No imaginário de muita gente, a inteligência artificial "quase-humana" dos sistemas cognitivos é coisa de um futuro distante. Errado. Ela já faz parte da realidade - está sendo usado na indústria, no setor financeiro, na saúde. Na oncologia, por exemplo, Watson vasculha e cruza milhares de pesquisas científicas, históricos de casos e dados de um paciente específico para recomendar aos médicos tratamentos com maior potencial de cura.

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Agora, é a vez da Educação. Já existem projetos incríveis, mas pontuais, que utilizam as plataformas inteligentes para aprimorar o ensino, como o Watson Master Teacher, do Roosevelt Hunter College, de Nova York, em que os sistemas cognitivos assumem a função de conselheiros, auxiliando os professores em pesquisas, na identificação das limitações e dos talentos individuais dos seus alunos e sugerindo abordagens e métodos de ensino mais adequados para cada caso.

Mas a popularização da computação cognitiva na aprendizagem e as grandes mudanças decorrentes desse processo ainda estão por vir. Se as previsões se confirmarem, em até cinco anos teremos salas de aula inteligentes, em que os resultados dos testes, a assiduidade e o comportamento dos alunos são assimilados e elaborados pelos sistemas cognitivos. Esse material pode servir de base para diversas ações, entre as quais a criação de um currículo adaptado para cada aluno.

Os avanços tecnológicos nos colocam diante de inúmeras possibilidades - sem dúvida, o céu é o limite! Mas de nada adianta o progresso tecnológico se não estivermos preparados para usufrui-lo. Como escreveu James E. Ryan, reitor da Faculdade de Educação de Harvard em um artigo recente no The New York Times, é preciso repensar a organização das aulas, o uso do tempo, o papel do professor e o que se espera do aluno nesse novo contexto, ou teremos mais prejuízos que benefícios.

No Brasil, a questão não é só pedagógica, é estrutural. Hoje, das 190 mil escolas de educação básica da rede pública, apenas 58% possuem acesso à internet. E na grande maioria delas a conexão é muito pobre e a velocidade é pífia- serve apenas para realizar alguns serviços administrativos, não para fins educacionais. Num mundo em que os astecnologias progridem de forma exponencial, conectar todas as escolas, oferecendo uma infraestrutura de qualidade é um investimento mais do que necessário - é elementar, como diria Holmes. Pode  significar a diferença entre um avanço rápido na melhoria do nosso ensino ou a eterna lanterna nos índices internacionais que medem a qualidade da Educação.

Em tempo: a expressão que dá título ao blog não aparece em nenhum dos livros e contos de Conan Doyle. Foi criada posteriormente, nas adaptações dos romances para o teatro.

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