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A educação que vale a pena

Como sua vida é diferente da vida de seus pais?

Uma sociedade justa é aquela em que todos têm as mesmas oportunidades de prosperar e de melhorar de vida; uma Educação de qualidade é principal meio para que essa ascensão se concretize

Por Ana Maria Diniz
Atualização:

Você já parou para pensar o quanto a sua vida é diferente da vida que seus pais ou que seus avós levavam quando tinham a sua idade?

Quem, como eu, é descendente de imigrantes e foi criança nas décadas de 70 e 80, certamente cresceu ouvindo as histórias incríveis de pessoas simples, que desembarcaram no Brasil de bolsos praticamente vazios, mas conseguiram driblar a pobreza e garantir um futuro melhor para os seus filhos e netos com trabalho duro e muito estudo.

Valentim dos Santos Diniz Foto: Estadão

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Meu avô, Valentim Diniz, deixou Portugal em 1929, aos 16 anos, para tentar a sorte por aqui. Trabalhou durante anos como caixeiro e empacotador em um empório da capital paulista até abrir, em 1948, uma pequena doceria, o embrião do que viria a ser, anos mais tarde, uma das maiores redes varejistas do país.

Nem todos os imigrantes ou mesmo brasileiros desta época conseguiram ir tão longe. Meu avô, assim como outros com trajetória parecida, são exceções, fogem à regra. Mas, de maneira geral, um jovem pobre tinha mais chances de progredir econômica e socialmente no Brasil pelo seu próprio esforço até meados do século passado do que a partir de suas décadas finais.

É o que revela o relatório "Progresso justo: mobilidade social entre gerações em todo o mundo", do Banco Mundial, recém-divulgado. Segundo a pesquisa, a mobilidade social piorou nos países em desenvolvimento. Cerca de 18% dos nascidos em 1940 e pertencentes à metade mais pobre da população brasileira conseguiam alcançar o topo da pirâmide. Entre os nascidos em 1980, nas mesmas condições socioeconômicas, em torno de 10% chegavam lá.

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Hoje, é mais difícil ainda, como mostra outra publicação recente, da OCDE. De acordo com trabalho, o Brasil é o segundo pior país do mundo em mobilidade social. Isto quer dizer que são necessárias nove gerações para que o filho de um brasileiro pobre alcance um rendimento médio. Ou que apenas 7% dos nascidos entre os menos abastados terão a chance, ainda que remota, de um dia figurar entre os 20% mais ricos.

Uma sociedade justa é aquela em que todas as pessoas têm as mesmas oportunidades de prosperar e subir na vida, independentemente de sua origem familiar. E a Educação é, sabidamente, o principal meio para que essa ascensão se concretize. Quanto maior a diferença positiva entre a ocupação e a renda dos pais e a dos filhos, maior a igualdade de oportunidades de determinada sociedade. Porém, como mostra o exemplo brasileiro, anos a mais de escolaridade não garantem uma mobilidade social efetiva, de longa distância. É preciso que o ensino ofertado tenha qualidade e seja para todos.

Graças à intensa expansão da oferta e do acesso educacional, 69% dos filhos das duas últimas gerações têm níveis de instrução superiores aos dos pais no Brasil, segundo o IBGE. Destes, 50% ganham mais do que os pais - mas só um pouco mais. É a chamada mobilidade social de curta distância, que se concentra nos estratos mais baixos da população.

Estes jovens são os filhos de agricultores que se tornam pedreiros ou as filhas de empregadas domésticas que viraram babás. A precariedade e a desigualdade da nossa Educação limitam as opções para as novas gerações e contribuem para perpetuar o ciclo de pobreza em que esses jovens estão inseridos, em vez de rompê-lo.

O impacto negativo dessa situação não se limita ao campo pessoal - a sociedade inteira é prejudicada. Quanto maior a desigualdade, menor a chance de o país crescer e se desenvolver de forma sustentável. É importante frisar, principalmente agora, às vésperas das eleições presidenciais, é que pobreza não é destino. Acabar com a pobreza e com a desigualdade, dando oportunidades iguais de progresso para todos, depende de boas políticas públicas e de governantes que realmente coloquem a Educação como prioridade.

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