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A educação que vale a pena

As lições dos países para mitigar os efeitos da pandemia na educação

Há experiências bem-sucedidas pelo mundo que podem nos ajudar nesse desafio

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Por Ana Maria Diniz
Atualização:

Passados dez meses da suspensão generalizada das aulas presenciais, que afetou 1,5 bilhão de crianças e jovens em 191 países, metade dos estudantes do planeta continua em situação de insegurança escolar. São mais de 800 milhões de alunos que não fazem ideia de quando a sua escola vai reabrir, que estão aprendendo à distância, a maioria de forma precária, ou não têm acesso a ensino algum. O fechamento total das escolas ainda atinge 31 países; em regime parcial, outros 48. No Brasil, meninos e meninas estão longe de seus professores, lousas e carteiras há 40 semanas, quase o dobro da média global (22 semanas) e quatro vezes a média europeia (10 semanas). As informações são de um relatório da Unesco divulgado no começo da semana.

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Todo esse período sem aulas presenciais no país vai cobrar o seu preço. Segundo uma pesquisa feita pela FGV a partir de dados do Saeb, os alunos brasileiros do 5º ao 9º ano podem retroceder até quatro anos nos níveis de aprendizagem em língua portuguesa e três anos em matemática por conta dessa paralisação e com o agravante da falta de conectividade. Os que estão no ensino médio podem ter deixado de aprender em 2020 72% do que aprenderiam em um ano típico pelas mesmas razões. A situação é péssima e pode piorar. Com o recrudescimento da pandemia, a retomada das aulas, prevista para fevereiro em 15 estados, corre o risco de ser novamente adiada. Por isso, tão urgente quanto batalhar pela reabertura das escolas é agir já para mitigar essa perda na aprendizagem e para tornar a qualidade do nosso um ensino remoto melhor.

Há experiências bem-sucedidas pelo mundo que podem nos ajudar nesse desafio. O manual Lições da Covid-19 para a Educação, da OCDE, lançado em dezembro, traz algumas dessas iniciativas, divididas em três frentes:

Formação e capacitação de professores. Na Coreia do Sul, foi criada uma comunidade virtual com 10 mil professores-representantes, cada um deles respondendo por uma ou mais escolas de várias regiões do país, para promover o compartilhamento de boas práticas de ensino à distância e ajudar os colegas com dúvidas e anseios que surgiam no decorrer das aulas online. Totalmente interativo, o canal também possibilita uma comunicação em tempo real entre os professores representantes, as secretarias de educação de 17 províncias e outras instituições relevantes, incluindo o Ministério da Educação. Na Colômbia, os tutores do Programa Todos a Aprender acompanham o trabalho de 4,5 mil professores de matemática e de línguas dos anos iniciais do fundamental, além de professores de educação infantil, para ajudá-los a adaptar suas práticas ao ensino à distância. Eles também orientam os professores que precisam melhorar suas habilidades e competências.

Perda de aprendizagem. Em Portugal, todas as escolas têm que participar do Plano de Ação para Recuperação e Consolidação do Aprendizado. O trabalho desenvolvido por cada instituição servirá para orientar todo o ensino e o aprendizado ao longo de 2021. Para apoiar as escolas nessa tarefa, o governo produziu um roteiro abrangente, que inclui exemplos de atividades a serem propostas e ferramentas de ensino. O governo incentiva as escolas a iniciarem o processo de recuperação com uma avaliação das competências digitais dos alunos e dos recursos digitais que eles dispõem e, depois, a utilizarem os materiais curriculares para localizar as lacunas de aprendizagem. O Reino Unido contratou em caráter emergencial 600 professores e 300 professores assistentes para apoiar alunos do final do ensino médio, bem como alunos desfavorecidos e vulneráveis de todas as idades.

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Atenção a processos e pessoas. A Eslovênia pediu para que todos os seus professores desenvolvessem planos de aprendizados individualizados para os alunos com grandes lacunas de conhecimento e para que criassem ambientes de aprendizagem flexíveis para estes planos serem colocados em prática tanto em grupo como individualmente. Já a Irlanda orientou as escolas a planejarem uma aprendizagem mais colaborativa para apoiar a interação e o engajamento dos alunos, assim como aumentar o uso de ambientes ao ar livre para envolver as crianças em atividades físicas e melhorar o bem-estar dos estudantes.

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