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O uso de recursos audiovisuais como ferramenta de ensino e aprendizagem para o despertar de uma consciência histórica, social, política, cultural e cidadã

Toda criança, jovem ou adulto que mora no Brasil é, obviamente, um eficiente usuário da língua materna. No entanto, quando questionados a respeito de suas habilidades referentes ao uso da Língua Portuguesa, de forma simplista, costumam responder de modo negativo porque, na maioria das vezes, tende-se a somente considerar as notas e o desempenho escolar. Essa desconexão entre a língua estudada na escola e a utilizada no dia a dia é um desafio a ser superado para que a relação entre ensino e aprendizagem seja efetivamente contextualizada.

Por Colégio Albert Sabin
Atualização:
 

Diante desse pressuposto, a tecnologia torna-se uma aliada do professor, pois muitas das interações linguísticas que crianças e adolescentes fazem atualmente se dão através de aparelhos eletrônicos. Além disso, a linguagem audiovisual desperta atenção e promove a concentração do estudante já habituado a esse tipo de estímulo. Para que essas habilidades contribuam para o desenvolvimento do aluno, cabe ao professor explorar as novas possibilidades de comunicação, de modo que elas não sejam mera ilustração de conteúdo nem única forma de interação que eles dominem - ressalta-se que a tecnologia, acima de tudo, deve ser tomada como um meio, jamais como um fim nas práticas pedagógicas escolares.

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Utilizar vídeos, músicas e aplicativos como forma de descontração ao final de um conteúdo é um erro comum na escola, pois reforça a ideia de que essas práticas não pertencem ao processo de aprendizagem. Esse tipo de material deve ser inserido aos planejamentos, pois constitui maneiras diversificadas de se aprender. O estudante precisa compreender que qualquer linguagem pode veicular o saber e que, antes, o domínio da leitura e da escrita é fundamental para que todo cidadão possa se desenvolver plenamente, num contínuo processo de aprendizagem ao longo de toda a vida.

Uma estratégia para o uso acertado da tecnologia é propor aos educandos o desenvolvimento de projetos interdisciplinares, os quais exijam diversas competências para a sua efetiva realização. Esse tipo de atividade dá autonomia ao estudante e desenvolve habilidades bastante complexas, desde a capacidade de negociação, primordial ao trabalho em grupo, até o domínio de assuntos não abordados diretamente pela escola. Trata-se de um tipo de envolvimento possível a partir do Ensino Fundamental e que será exigido não só do aluno da Universidade, mas também do profissional em diversas carreiras.

Há de se observar que mesmo diante do enorme desafio de se lidar e de se trazer para o contexto da educação o uso de diferentes recursos tecnológicos, a exposição do conteúdo pelo professor ainda se faz necessária, principalmente no que diz respeito a se revelar caminhos e a instigar novas descobertas. Isso porque o diálogo e, consequentemente, a reflexão e a elaboração do pensamento autônomo nascem da síntese dos vários argumentos expostos. A união de saberes e a cooperação entre professor e aluno levará a uma nova construção de aula, a qual pode se realizar em torno de objetivos, metodologias e estratégias previamente traçados, em consonância com uma organização que nascerá da junção dos saberes que se revelam durante a aula.

Compreende-se, nesse cenário, que o professor deva desafiar o estudante a discutir, a comparar e a questionar situações em que ele possa absorver conceitos diante de sua realidade prática, ampliando, dessa forma, o seu repertório de mundo. Um exemplo de aplicação dessa metodologia é a produção de documentários pelos estudantes, uma proposta de trabalho dinâmico e vivo, que define a posição de indivíduos preocupados com o despertar da consciência histórica, social, política, cultural, cidadã.

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A produção cinematográfica é inevitavelmente interdisciplinar, o que permite a criação de parcerias entre professores dispostos a desenvolver um trabalho de intercâmbio de conhecimentos entre diferentes áreas do saber. Como produtores, os novos cineastas conquistam um olhar mais crítico sobre a cultura que consomem, pois identificam o que está por trás da câmera do ponto de vista técnico e leem melhor as intenções dos realizadores. Sob esse prisma, fornece-se aos estudantes subsídios para entender a produção audiovisual e, consequentemente, a sua criação, a partir da autoria, cumprindo, assim, uma das metas mais desejadas pela educação: possibilitar que o aluno torne-se e mostre-se um cidadão crítico.

Espera-se que um projeto de desenvolvimento e produção de documentários no âmbito escolar revele a perspectiva de jovens incomodados e dispostos a promover debates enriquecedores sobre os mais diversos assuntos referentes à realidade que os cerca. Diante dessa proposta, os alunos, primeiramente, devem ser preparados como telespectadores através da apresentação de obras de importantes cineastas, atendendo, assim, à LF 13 006/14, a qual prevê a exibição de filmes de produção nacional. Esse olhar-pesquisador contribui para cada um dos processos necessários à produção fílmica: a elaboração do portfólio de pesquisa, a criação do enredo, as filmagens, a edição e, por fim, a produção de um material para a divulgação do trabalho.

Cabe destacar, ainda, que diante das diferentes experiências, as quais surgem a todo momento, assim como da percepção e da compreensão da realidade social, e de si mesmo, o homem modifica-se. Para Umberto Eco, importante pensador do século XX, "(...) toda modificação dos instrumentos culturais, na história da humanidade, se apresenta como uma profunda colocação em crise do modelo cultural precedente; e seu verdadeiro alcance só se manifesta se considerarmos que os novos instrumentos agirão no contexto de uma humanidade profundamente modificada, seja pelas causas que provocaram o aparecimento daqueles instrumentos, seja pelo uso desses mesmos instrumentos. A invenção da escrita, embora reconstituída através do mito platônico, é um exemplo disso; a da imprensa, ou a dos novos instrumentos audiovisuais, outro."

São evidentes as transformações provocadas pela tecnologia atualmente, e a escola deve se preparar para os desafios que isso gera, sempre com o compromisso de oportunizar uma melhor formação às crianças e aos jovens que a frequentam. A citada desconexão entre a língua estudada na escola e a utilizada no dia a dia deixará de ser uma barreira a ser superada, na medida em que as conexões e as relações entre o ensino e a aprendizagem forem contextualizadas frente às novas metodologias. Assim como a linguagem escrita é primordial - por desenvolver a análise, o rigor e a abstração -, a linguagem audiovisual, como recurso de aprendizagem, também possibilita atitudes perceptivas, ao lidar diretamente com a investigação e a imaginação, recursos tão necessários para a compreensão do mundo e de si.

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