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Religião educadora ou sem educação?

Tenho acompanhado pela imprensa paulista e pelos comentários de amigos no Facebook o crescente grau de influencia que as igrejas evangélicas estão tendo nas eleições da maior cidade do país. Suponho que a influência seja grande também em muitas das demais cidades brasileiras.

Por Newton Campos
Atualização:

Essa reportagem recente do Paulo Gama da Folha de S. Paulo, por exemplo, ficou muito boa. O título é muito bom ("Senhor, dá a vitória a ele!") e a foto melhor ainda. Dá quase para perceber o José Serra pensando: "Olha só o que tenho que fazer para conquistar votos..."

 Foto: Estadão

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Ora, é função quase inerente de quase todas as grandes congregações religiosas influenciar o ambiente social e político a seu favor. Vejo todas as igrejas e religiões como qualquer outra organização: definem um público alvo e procuram captar e manter seus "clientes" (fiéis) satisfeitos de diferentes formas. Em troca, prestam seus serviços de acolhimento psicológico ou espiritual. Um serviço que pode ser muito útil e até digno, em minha opinião.

Se estes serviços não fossem necessários, não teríamos tantos fiéis ressurgindo na Rússia e na China, mesmo depois de tantos anos de proibição das religiões ("ópio do povo" segundo os revolucionários).

Durante o tempo em que vivi na Índia, percebi o potentíssimo peso da religião hindu na região onde morava (Calcutá, na Bengala Ocidental). Os costumes e cultos religiosos eram praticamente a única escola disponível para a grande maioria miserável da população.

Para o bem e para o mal, toda sua forma de enxergar o mundo estava condicionada pelos preceitos básicos hinduístas, como por exemplo: não comer carne, acreditar em ter várias vidas, aceitar as divisões raciais e por castas, respeitar os demais seres vivos, cultivar o bom caráter (para voltar numa melhor casta na próxima vida), etc.

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Desde qualquer ponto de vista, a religião estabelecia tamanha ordem na sociedade que nenhuma outra forma de entender o mundo poderia ser considerada sem essa influência.

Para mim, isso é extremamente limitante quando já possuímos alguns recursos mínimos para ensinar aos demais. É o momento onde a religião educadora passa a ser uma religião sem educação, cegando pessoas e fazendo com que elas tenham que aceitar visões de terceiros que muitas vezes beneficiarão apenas a estes terceiros.

Não deveria ser permitido que um país ou qualquer de suas instituições públicas (como escolas e universidades) pudessem sofrer pressão de grupos religiosos. Deveria haver uma série de leis que protegessem as eleições e as escolas das religiões. O problema é que apenas os grupos pró-religião colocam pressão no ente público. Não existem grupos pró-instituições-públicas-sem-pressão-das-religiões. Criamos um?

Para mais info sobre meus pensamentos sobre este assunto (em inglês):Do you believe in god? Part I: Christian AtheismDo you believe in god? Part II: The unexplained does not justify blind faithDo you believe in god? Part III: Reasons to believe

Nota adicionada em 15/Setembro/2012: Estive estudando o último relatório da OECD (Organização de Desenvolvimento e Co-operação Econômica) sobre educação para outro post que estou escrevendo para a semana que vem. Inspirado pelo comentário do leitor Fey neste mesmo post, encontrei esta curiosa tabela de correlação entre nível de educação da população e participação em eleições. Nos Estados Unidos, Alemanha e em vários países onde o voto não é obrigatório podemos perceber que quanto mais estudadas são as pessoas, mais elas participam das eleições. Obviamente o Brasil fica no fim da lista pois o voto é obrigatório (estudados e não-estudados votam igualmente, para azar da nossa "democracia")."

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 Foto: Estadão

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