Índia: obsessão pela educação

Meu senhor, o senhor concordaria com a seguinte frase: "o indiano é um povo obcecado pela educação"? Esta minha pergunta ressoou entre indianos de várias cidades e classes sociais. Todos afirmaram que sim. Em poucos dias de viagem à trabalho pela Índia pude facilmente perceber que a "mania" pela educação que observei quando vivi em Calcutá em 2001 não apenas continuou, mas se intensificou de forma quase obsessiva nesta última década.

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Por Newton Campos
Atualização:

Naquela época, me surpreendi ao ver tanta miséria misturada com tantas escolas de diversos assuntos nas favelas e bairros pobres das cidades. Escolas de idiomas (alemão?!?), de programação (HTML?!?), de ciências (Química?!?) e de ferramentas de informática (AutoCAD?!?) já existiam em abundância por todo o país em 2001. Quase todas particulares. Não sei explicar como percebia isso, mas via que muitas delas claramente se aproveitavam da crença exacerbada que os indianos têm na educação.

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Ainda em 2001, com leituras de filósofos indianos consagrados como o inigualável Swami Vivekananda, passei a entender que a educação, para a maioria dos indianos, tem também uma função religiosa além da função prática. No Hinduísmo, acumular sabedoria é uma das principais formas de evolução espiritual, portanto, uma boa forma de regressar em melhores condições na próxima vida. Na prática, investir em educação é uma forma comprovada (embora onerosa e trabalhosa) de escapar da pobreza. Ao invés de sonhar em serem jogadores de futebol (ou críquete, por lá), muitas crianças das favelas indianas realmente aspiram transformar-se em cientistas.

Nesta última viagem, da qual regressei há 4 dias, posso dizer que encontrei um país absolutamente obcecado pela educação. Há anúncios de escolas, cursos e universidades em todos os ônibus, postes e outdoors das cidades nas quais estive. As páginas amarelas de Bangalore possuem uma seção apenas dedicada à educação. Os bancos oferecem empréstimos de todos os tipos para financiar cursos, faculdades, mestrados e doutorados. A prefeitura de Mumbai vem instalando centros de estudo acoplados aos parques e cantos da cidade há anos. Agora, a mesma prefeitura tem instalado internet sem fio para a população nestes locais públicos de estudo (e descanso, como podemos ver na foto).

Mumbai: centros públicos de estudo.  Foto: Estadão

Páginas Amarelas: seções de educação.  Foto: Estadão

Panfleto de empréstimo educacional.  Foto: Estadão

É realmente incrível poder observar a Índia, país historicamente tão pobre e com tantos problemas estruturais, se tornando pouco a pouco uma grande potência econômica. Para mim, que pesquiso economias emergentes há alguns anos, não há nenhuma dúvida de que a Índia se tornará a principal economia do mundo até 2050, se tornando fonte de tendências culturais e tecnológicas. E a educação - no seu termo mais amplo - terá jogado um papel crucial nesta revira-volta.

Aproveito a oportunidade para publicar outras fotos de locais interessantes por onde passei:

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Indian Institute of Management: rede de conceituadas escolas públicas de gestão.  Foto: Estadão

Quarto onde vivia Gandhi em Nova Delhi. Gandhi foi líder do Congresso indiano.  Foto: Estadão

Seu bastão e seus chinelos, mantidos no mesmo local onde deixou no dia de seu assassinato.  Foto: Estadão

Um de seus valores: "A simplicidade é a essencia da universalidade." Foto: Estadão

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