Vizinha à Federal do Rio de Janeiro chega atrasada para prova do Enem e tenta pular o portão

Estudante vai prestar vestibular na Uerj para entrar em Odontologia

PUBLICIDADE

Por Luciana Nunes Leal
Atualização:

RIO DE JANEIRO - A tranquilidade de morar perto do local da prova, na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), no bairro do Maracanã (zona norte), se transformou em pesadelo para Amanda Silva de Freitas, de 18 anos, no primeiro dia do Enem. Às 13h03, a estudante chegou correndo ao portão 5, já trancado pelos fiscais. Desesperada, Amanda subiu no portão, mas desistiu de pular a barreira. A jovem contou que saiu de casa, a poucos quarteirões, às 12h45, e foi pega de surpresa pelo engarrafamento em torno da universidade. Decidiu saltar do carro da mãe e seguir a pé, mas não chegou a tempo.

PUBLICIDADE

Amanda, que pretende cursar odontologia, depois do susto inicial procurou se conformar por ter perdido o exame. “Errada fui eu, não sabia que ia estar esse trânsito. Vacilei, dei mole. Um ano jogado fora. A sorte é que ainda posso fazer o vestibular separado da Uerj, em dezembro. Mas perdi a chance para UFRJ, UFF, Unicamp”, lamentou Amanda.

Dois minutos antes, um rapaz esbaforido contara com a boa vontade dos fiscais que tinham fechado, mas ainda não trancado, o portão. Autorizado a entrar, saiu em disparada em direção à sala da prova. Às 13h10, Ana Paula Gomes, de 24 anos, chegou à Uerj sem esperanças de conseguir entrar. A recepcionista faria o exame do Enem pela terceira vez e não conhecia bem o local da prova. Passou do ponto do ônibus, foi parar no fim da linha e teve de pegar outra condução para voltar à Uerj. “Saí de casa às 10h e não consegui chegar. O motorista não me avisou quando passamos em frente à Uerj”, justificou a pretendente ao curso de serviço social, moradora do Alto da Boa Vista (zona norte).

Na contramão de Amanda e Ana Paula, o estudante Adriano Custódio de Oliveira Júnior, de 17 anos, foi o primeiro a chegar à universidade, segundo ele às 10h23. Foi de ônibus com o pai, servidor do Estado aposentado, do Méier (zona norte) ao Maracanã, preparado para enfrentar trânsito, mas não houve contratempos no trajeto. “Fiquei com medo de engarrafamento e de ter multidão de alunos tentando chegar”, contou Adriano, que pretende estudar Engenharia Mecânica. Tranquilo, o rapaz contava ter segurança em física e dificuldade com química. “Essa coisa de carboneto sempre me pega”, confessou. Quando a entrada para as salas das provas foi liberada, era um dos primeiros da fila. Adriano Custódio, o pai, ficou do lado de fora. “É muito importante estar ao lado dele, apoiá-lo. Conhecimento ele tem, é só botar no papel”, disse o servidor aposentado.

Às 12h45, uma jovem que não quis se identificar passou chorando, acompanhada da mãe, inconformada por ter sido impedida de fazer a prova. A estudante tinha levado apenas a carteira de estudante como identificação, o que não é aceito pelo Ministério da Educação, que exige carteira de identidade, de trabalho, de habilitação, passaporte ou certificado de reservista.

Na entrada da Uerj, do lado de fora, o professor de matemática Márcio Antônio Barbosa, de 52 anos, dava as últimas lições e ensinava pequenos macetes para os jovens, embora a prova dessa matéria seja somente hoje. “A ideia é mostrar a técnica de uma maneira comum, para acalmar os alunos, dar confiança. Eu metralho a informação, e muitos que chegam aqui ainda com sono acabam despertando”, disse o professor. Para Rosa Cerqueira Mantovani, de 66, estar no meio de um mar de candidatos muito jovens era até um estímulo. “Tenho quatro filhos, todos formados, e cuido dos meus cinco netos. Estão todos torcendo por mim”, contava, à espera da liberação da entrada. Rosa quer fazer o curso superior de gastronomia, especialidade em que já se formou no nível técnico. “Já tive loja, trabalhei em várias atividades e agora quero me formar e dar aula”, planeja.

Pouco depois das 15h, horário mínimo para encerrar a prova, a auxiliar de informática Andreza Silva, de 18 anos, deixava a Uerj, um pouco desanimada. “Acho que não fui bem, chutei tudo. Quase não dormi”, revelou. A noite insone não foi de preocupação com a prova. “Fui para o Salgueiro”, confessou Andreza, que se divertiu no baile funk da tradicional escola de samba carioca. “Hoje vou sair de novo, acho que amanhã nem venho. E ainda tenho que trabalhar”, disse a jovem que pretende, algum dia, se formar em contabilidade.

Publicidade

No Estado do Rio, 474.046 estudantes se inscreveram no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) - o terceiro maior contingente do País, depois de São Paulo (1.068.517) e Minas Gerais (723.644). Segundo o Ministério da Educação, não foram registrados incidentes nas cidades fluminenses. /COLABOROU ROBERTA PENNAFORT

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.