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USP apura esquema de ‘cola’ por WhatsApp

Grupo ‘Honestidade’, da Poli, teria mais de 200 alunos; leia a entrevista com o presidente da Comissão de Ética, Renato Janine

Foto do author Marcelo Godoy
Por Isabela Palhares , Alexandre Hisayasu e Marcelo Godoy
Atualização:
Prédio da Poli. Diretor não anulará prova e analisará 'estilo algébrico' para identificar 'cola' Foto: GABRIELA BILO / ESTADAO

SÃO PAULO - A Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP) investiga um esquema de fraude por meio de um grupo no aplicativo WhatsApp para “colas” em provas de duas disciplinas dadas aos alunos de 1.º ano de Engenharia. A suspeita é que o esquema pode envolver mais de 200 estudantes. O caso está sendo investigado pela Polícia Civil. 

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Na manhã da segunda-feira passada, uma prova de Cálculo 1 era aplicada em diversas salas para cerca de 800 estudantes no prédio do Biênio da Poli, no Butantã, zona oeste de São Paulo. Um aluno de 19 anos foi flagrado usando o celular no exame. Segundo o boletim de ocorrência, o professor que aplicava a prova pediu que o estudante entregasse o aparelho e, ao final do exame, acionou outros docentes, que fizeram questionamentos ao rapaz. 

No aparelho, encontraram uma mensagem enviada pelo aluno em um grupo chamado “Honestidade”, do qual a polícia constatou que fazem parte mais de 200 pessoas. Ainda segundo o boletim de ocorrência, o rapaz teria enviado uma foto da prova ao grupo para que outras pessoas, que não estavam na sala, enviassem a solução das questões. Também foram encontradas as mensagens com as respostas da prova. O celular do aluno foi apreendido pela polícia e será periciado. O caso foi registrado, por enquanto, como não criminal. Procurado pelo Estado, o estudante disse que foi orientado por seu advogado a não dar entrevistas. 

De acordo com José Roberto Piqueira, diretor da Poli, uma sindicância interna já foi aberta na unidade, e a Comissão de Ética da universidade também foi notificada para acompanhar o caso. “A USP também iniciará um processo civil, caso a polícia detecte que houve formação de quadrilha (para o esquema de cola). Essas pessoas podem ser processadas por manchar a imagem da instituição. É um processo em que até cabe indenização”, disse Piqueira. 

Segundo o diretor, a suspeita é de que a fraude não acontecia de forma constante, mas há indícios de que pode ter ocorrido também no exame da disciplina de Álgebra Linear, ministrada para os alunos de 1.º ano. “Quero deixar muito claro que esse não é o perfil do aluno da Poli, isso não é usual entre os estudantes. Os alunos da Poli primam pela honestidade e isso é um deslize de um grupo que vai ser apurado e punido.” 

Piqueira também ressaltou que o esquema envolvia uma pequena parcela de alunos e disse ter sido a primeira vez que um caso como esse é identificado na unidade. O curso de Engenharia na Poli é um dos mais disputados da Fuvest. Na última edição do vestibular foi o curso com a quinta maior nota de corte. 

O diretor afirmou que a prova não será cancelada e que, nos casos em que for comprovada a “cola”, os alunos terão a prova zerada e vão responder a processos administrativos. “Em matemática, existe uma coisa chamada estilo algébrico e não existem dois estilos iguais. É que nem caligrafia. Por isso, facilmente a gente vai perceber quais são as soluções que vieram dessa fonte. E essas provas vão ser todas anuladas e todos responderão a processo administrativo.”

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Estatuto. Em nota, a USP informou que os processos administrativos são conduzidos pelas unidades, que podem decidir por penalidades que vão de advertência, suspensão e expulsão do aluno. No casos das duas últimas, a indicação deve partir de uma comissão processante.

ENTREVISTA: ‘É o ineditismo da coisa que chama a atenção’

Renato Janine Ribeiro, presidente da Comissão de Ética da USP

O que a Comissão de Ética da USP pode fazer neste caso?

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As principais ações são nos âmbitos da Justiça comum e da diretoria da unidade, que não pode deixar de apurar esse caso porque, pelo visto, é muito grave. A Comissão de Ética recebeu um e-mail de um professor. Se ele quiser que a Comissão de Ética se pronuncie, tem de mandar a documentação pertinente, mas o máximo que ela pode fazer é dar uma advertência. Quem pode suspender ou até expulsar um aluno é a comissão da própria faculdade.

O uso da tecnologia para fraudes preocupa a universidade?

As tecnologias podem ser usadas para o bem e o mal. Nesse caso, foi usada para o mal e está adquirindo particular relevância porque é um volume muito grande de alunos em um caso que eu nunca tinha ouvido falar: usar o WhatsApp para cola. É o ineditismo da coisa que chamou a atenção. Temos de saber quantas pessoas estão envolvidas. Se for um grupo de informações e algumas pessoas usaram para cola é diferente de um grupo feito só para colar. 

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Como coibir essas práticas?

É difícil avaliar porque o avanço disso é muito rápido e as tecnologias são substituídas. Você tem de impedir o uso dessa tecnologia para essas coisas, não tem alternativa. 

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