Pela 1º vez, USP aprova cotas raciais e sociais no vestibular

Meta é ter 50% de calouros da rede pública até 2021 e, dentro desse grupo, ter 37% de estudantes pretos, pardos e indígenas

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Por Luiz Fernando Toledo e Isabela Palhares
Atualização:
Cidade Universitária. Com mais de 94 mil alunos e 6 mil professores, USP tem 11 câmpus Foto: BETO BARATA/AE

Pela primeira vez na história, a Universidade de São Paulo (USP) terá cotas no vestibular para alunos de escola pública e pretos, pardos e indígenas (PPI) em todos os cursos. A meta é ter 50% de calouros da rede pública até 2021 e, dentro desse grupo, ter 37% de estudantes PPI. A decisão já vale para o próximo processo seletivo. 

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A medida foi aprovada nesta terça-feira, 4, pelo Conselho Universitário (CO), órgão máximo da instituição. A universidade vai manter a Fuvest, a prova de ingresso tradicional e o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) como métodos de entrada. 

Cada curso poderá reservar, no máximo, 30% de suas vagas para entrada via Enem. A inclusão de alunos de escola pública será feita de modo escalonado. 

Em 2018, a meta é ter 37% de ingressantes de escola pública em cada faculdade. No ano seguinte, 40% em cada um dos cursos. Já em 2020 serão 45% em todos os cursos e todas as turmas da USP. E, em 2021, 50% em todas as graduações e turmas. O porcentual de 37% de PPI é definido segundo a distribuição populacional por raça no Estado de São Paulo, medida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 

A distribuição de cotas será feita entre Fuvest e o Enem – as metas consideram as reservas de vagas dadas na soma dos dois métodos de ingresso. Com a nota do Enem, o candidato usa o Sistema de Seleção Unificada (Sisu), plataforma do Ministério da Educação que reúne vagas destinadas ao ensino superior público.

A proposta original da reitoria da universidade não fixava reserva de vagas específica para PPI. Isso foi alvo de críticas de professores e alunos durante a reunião do CO.

Após anos de pressão dentro e fora da comunidade universitária, a USP é a última a aderir às cotas entre as estaduais – a Unicamp aprovou reserva de vagas em maio deste ano e a Unesp, em 2013. Já o ensino superior federal usa cotas desde 2012. 

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Em 2013, a reitoria havia assumido o compromisso de ter metade dos alunos da rede pública entre seus ingressantes até o ano que vem. Com o plano aprovado nesta terça, essa meta é adiada em três anos. Das 11.147 vagas que a USP vai oferecer no próximo processo seletivo, 8.402 serão pela Fuvest. As 2.745 restantes serão pelo Sisu.

“É emblemático, porque representa a universidade – que tem liderança no País e muita visibilidade – assumir que esse é um problema importante do ponto de vista de integração de nossa população”, declarou nesta terça o reitor da USP, Marco Antonio Zago, após o conselho. 

O reitor admite que a novidade vai demandar mais recursos para a permanência estudantil e a USP precisará de ajuda financeira do Estado para conceder bolsas aos alunos de baixa renda. A demora em aprovar a mudança, diz ele, ocorre pelo perfil divergente entre as unidades. “A USP é muito heterogênea na sua origem, na vida acadêmica das unidades.” 

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