Unicamp pune alunos por festas no câmpus

Associação de moradores reclama de barulho; Ministério Público planeja mover ação contra a universidade

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Por Carolina Stanisci
Atualização:

De um lado, estão os alunos, que se dizem perseguidos porque gostam de celebrar a convivência universitária. Do outro, uma associação de bairro reclama do barulho excessivo provocado nas festas no câmpus da Unicamp. A briga entre os estudantes da Universidade Estadual de Campinas e os vizinhos não é nova, mas se intensificou no último mês.  

 

 

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Pressionada pela Associação de Moradores da Cidade Universitária (Amoc) e, mais recentemente, pelo Ministério Público, que planeja até mover uma ação contra a universidade caso não resolva o problema do barulho à noite no câmpus, a Unicamp decidiu fechar o cerco contra seus alunos e instaurou seis processos administrativos para apurar ocorrências envolvendo cerca de 30 estudantes.

 

 

A realização das festas, afirma a universidade em nota, “causa transtornos não só às atividades acadêmicas do período noturno como também aos pacientes e trabalhadores do complexo hospitalar e aos moradores do entorno do câmpus”.

 

 

Em dezembro, a Unicamp já havia tornado mais rígidas as regras para a realização de eventos culturais no câmpus. Para fazer qualquer evento, os estudantes têm de cumprir uma burocracia imensa, que inclui a apresentação de um plano de segurança detalhado. Caso algum item da resolução aprovada pelo conselho universitário da Unicamp não fosse cumprido, os responsáveis pelas festas seriam punidos. É o que vem ocorrendo desde o início do ano letivo.

 

 

Criminalização

“Qualquer coisa que a gente tenta fazer, eles pedem para registrar, pedir autorização. Agora, a universidade quer que as pessoas coloquem o nome de quem está organizando o evento, para cair em cima dessa pessoa depois”, diz Tiago Coelho, de 20 anos, no 4º ano de Química.

 

 

Coelho é coordenador do Diretório Central de Estudantes da Unicamp e tem convocado assembleias gerais para os estudantes planejarem como irão se defender do que chamam de “criminalização do movimento estudantil”.

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Daniel Monte Cardoso, de 22 anos, no 5º ano de Economia, também é membro do DCE e lembra que há outros problemas graves no câmpus. “Temos caso de estupro, violência e até sequestro relâmpago. E nada foi resolvido.”

 

 

Enquanto a Unicamp se manifesta por meio de notas oficiais, a Amoc rebate as acusações dos alunos. “Nosso intuito não é brigar. A Amoc tem papel de promover cidadania”, diz o presidente da associação, Joaquim Caetano de Lima Filho, de 52 anos.

 

O arquiteto vive com a mulher e os filhos desde 2002 no bairro e diz que apesar de não ser contrário às festas, quer que elas acabem cedo.  

 

 

A principal reivindicação da Amoc é acabar com o barulho depois das 22h. Lima Filho conta que há quem saia de casa por conta do ruído: “Tem gente que vai dormir em hotel.”

 

 

Sem  conseguir resolver o problema, os associados da Amoc procuraram o Ministério Público, que abriu um inquérito civil em 2008 e planeja mover ação civil pública contra a universidade, caso a reitoria não consiga acabar com  os eventos noturnos.

 

 

Nos últimos anos, a Amoc, ao lado do MP, também reuniu provas de que as festas são ruins tanto para os estudantes como para o próprio câmpus, por conta de problemas como o consumo de drogas, a venda não autorizada de bebidas alcoólicas e a circulação de pessoas de fora, que podem danificar o patrimônio.

 

 

“A gente não está contra os jovens, mas falo como pai: o jovem tem que se formar dentro da universidade e ter conceito ético.”

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Perturbação do sossego

“Isso vai acabar em pizza. A Unicamp sempre fez de conta que não é problema dela”, diz Alfredo Morelli, de 64 anos. Morelli tem um site, o Barão Em Foco, que traz notícias sobre o distrito de Barão Geraldo. Dentro desse distrito fica o bairro Cidade Universitária, onde está a Unicamp.

 

 

“Era um bairro elegante, bonito. Começou a ficar barulhento de uns anos para cá”, conta o químico, que é morador da região há 23 anos. Morelli tira fotos dos eventos estudantis e posta as imagens em seu site.

 

 

Morelli também se incomoda com as festas nas repúblicas, fora do câmpus. Numa ocasião, irritado com os eventos noturnos que varavam a madrugada em uma casa ocupada só por moças, na rua acima da que mora, ele procurou a Justiça – e teve sucesso. Por meio de uma ação de perturbação do sossego, conseguiu expulsar as moças de lá.

 

 

Em seu site, Morelli mantém o passo a passo de como se faz para se livrar de uma república barulhenta. “Hoje, não quero mais brigar com os estudantes. Me dou até bem com eles.”

 

 

 

Festas monitoradas

Na USP, o responsável pelas festas dentro nas faculdades é o diretor da unidade. Quando o show é na Praça do Relógio, como ocorreu durante a semana de recepção aos calouros, cabe à Coordenadoria do Câmpus autorizar e resolver eventuais problemas. A universidade afirma que não teve problemas com a vizinhança.

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Na PUC-SP, atualmente não é possível realizar festas no pátio da cruz. Os eventos noturnos causaram problemas com a vizinhança. Mesmo assim, os estudantes podem se confraternizar nos centros acadêmicos, contanto que não "exagerem". 

 

"Entendemos que as universidades são também espaços de sociabilidade para a juventude. Há na cultura jovem o hábito de buscar a confraternização e existem poucos espaços para essa integração efetiva na sociedade", afirma Hélio Deliberador, pró-reitor de Cultura e Relações Comunitárias da universidade. "Atuamos de forma reguladora: acompanhamos cada caso específico, cada confraternização, monitorando infrações ou situações conflituosas."

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