Tempo, o fator decisivo do novo Enem

Em simulado de 5 horas e meia, 81% dos candidatos terminaram a prova nos últimos 30 minutos

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Por Elida Oliveira
Atualização:

"Qual é a sua idade?" Adamarys Regina Freire para, olha para a repórter. Demora um pouco a lembrar que tem 17 anos. "Depois de tantos números, nem sei mais." O lapso temporário de memória é compreensível. Ela tinha acabado de fazer 90 questões de português, literatura, matemática e uma redação em cinco horas e meia de prova, no segundo dia da prévia do novo Enem, que ocorre neste fim de semana.  Adamarys e outros 23 alunos fizeram um simulado preparado pelo cursinho Etapa nos moldes do Enem, a pedido do Estadão.edu. Com 180 questões e aplicado nos dias 12 e 13, um sábado e um domingo, a prova avaliou alunos de escolas públicas e particulares. No simulado, ficou claro que o grande desafio dos candidatos no novo Enem será administrar o tempo - e o cansaço. Seguindo o critério do exame real, os participantes podiam deixar a sala uma hora e meia após o início da prova, mas poucos saíram do local antes de quatro horas de resolução dos testes, nos dois dias.  Veja mais:Teste seus conhecimentos no simulado do EnemProfessores falam sobre temas de atualidades que podem cair no examePortadores de deficiência superam barreiras para prestar o EnemEUA não têm vestibular, mas testes contam na seleção Reler prova é fundamental, diz campeão do Enem 2008Questões-modelo do Enem misturaram velha e nova ortografias Novo Enem provocou corrida em cursinhos e colégios A meia hora do término do exame no sábado, 58% dos estudantes ainda estavam na sala. O porcentual subiu para 81% no domingo, dia da redação. Mal deu para ir ao banheiro. Dos quatro alunos que pediram permissão para isso no domingo, dois foram e voltaram correndo. "Não queria perder tempo", disse Eduardo Namura, de 17 anos. Os professores do cursinho reforçaram a necessidade de os alunos administrarem o tempo. "O candidato que fizer a prova com a consciência de que ela é cansativa já está em vantagem", diz Edmilson Motta, coordenador geral do Etapa. "Parar cinco minutos compensa na concentração." A boa notícia para os 24 estudantes avaliados no simulado é que o desempenho médio ficou entre 100 e 120 acertos. "É uma boa pontuação, considerando que aplicamos um nível de dificuldade 30% acima do esperado para o Enem", diz a coordenadora de Linguagens do Etapa, Célia Passoni. Entre as dez questões que tiveram menos acertos, 40% eram de Ciências da Natureza; 30% de Linguagens e Códigos; 20% de Matemática e 10% de Humanas. Na correção, professores identificaram problemas na interpretação de gráficos e imagens e desconhecimento de temas de atualidades. Muitos alunos erraram uma questão que exigia fazer a correlação entre movimentos artísticos e a época em que surgiram. Também se equivocaram numa questão que falava de perspectivas de exportação do petróleo do pré-sal. Ou confundiram números em um gráfico sobre assalariados. Erros que Motta atribui à ansiedade. "Eles não dedicaram o tempo que a questão merecia." "A prova está codificada. É preciso entender a pergunta", diz Edison de Barros Camargo, coordenador de Química. "É nítida a falta de leitura de jornais e revistas", afirma António Costa Ramos, coordenador de História. Os estudantes adotaram estratégias diferentes no simulado. "Antes eu respondia todas as questões na ordem, correndo. Agora procuro ‘conhecer o adversário’ lendo as questões e fazendo as mais fáceis primeiro. É um teste de resistência", diz Higor da Costa Pereira, de 17. Fabio Horikawa Araújo, de 17, preferiu começar pela redação. "Escrevi antes, porque eu consigo controlar melhor o tempo." Gustavo Jorge Silva, de 17, foi o primeiro a deixar a sala de provas no último dia do simulado. "Achei mais difícil que o do ano passado, temos que saber conteúdos específicos de física, química, matemática." O presidente do Instituto Nacional de Estudos Educacionais (Inep), Reynaldo Fernandes, responsável pelo novo Enem, reconhece que a prova é longa. "Sabemos que é cansativo, mas, do ponto de vista técnico, é melhor ter mais itens para avaliar os alunos", diz. "Teremos questões de diferentes graus de dificuldade. O aluno que vem bem preparado faz as questões simples rapidamente e terá mais tempo para as outras.

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