SP vai testar em escola técnica modelo inspirado na reforma do ensino médio

Projeto do Centro Paula Souza tem carga horária menor que a do atual Ensino Médio Integrado ao Técnico – diferença pode chegar a 925 horas ao longo dos três anos da etapa; governo afirma que experiência deve ampliar oferta do ensino técnico

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Por Túlio Kruse
Atualização:

SÃO PAULO - Um novo modelo de ensino integrado à educação profissional será testado em colégios técnicos (Etecs) do Estado de São Paulo a partir do 1.º semestre de 2018. O formato é baseado na reforma do ensino médio, em andamento no País. De caráter experimental, o projeto prevê carga horária menor do que a dos cursos do atual Ensino Médio Integrado ao Técnico (Etim), também oferecido pelo governo estadual. Há menos horas de disciplinas do currículo comum, como Física, Sociologia e Português. Responsável pelo ensino técnico estadual, o Centro Paula Souza (CPS) diz que a experiência deve ampliar a oferta de vagas.

Centro Paula Souza não informou quais escolas terão novo modelo de ensino Foto: Nilton Fukuda/Estadão

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Aprovada em fevereiro, a reforma do ensino médio propõe flexibilizar a carga horária dessa etapa de ensino. A ideia é permitir ao aluno fazer, por exemplo, um curso profissionalizante concomitantemente às disciplinas comuns do médio. O Ministério da Educação (MEC) estima que a reforma deve se tornar realidade em sala de aula, em larga escala, a partir de 2020, mas as redes têm autonomia para iniciar as mudanças. 

O novo modelo para o técnico na rede paulista será oferecido por 37 Etecs – são 221 colégios do tipo no Estado. O Centro Paula Souza não informou quais escolas terão a novidade nem em quais cidades. Com mais de 211 mil alunos, as unidades do CPS são referência em qualidade de ensino. 

+++ Confira perguntas e respostas sobre a reforma do Ensino Médio

Segundo o CPS, a carga horária total nos novos currículos ficará entre 2,8 mil e 3,1 mil horas. Atualmente, o Etim oferece cursos de 3,6 mil a 4 mil horas. A diferença entre os dois modelos chega a 925 horas em alguns cursos, considerados os três anos da etapa.

Hoje, cursos do Etim dedicam até 2.792 horas às matérias do ensino médio (sem contar a educação profissional). Nos currículos do modelo-piloto serão 1,8 mil horas para o conteúdo do médio – este é o limite estipulado na reforma para o conteúdo mínimo comum a todos os estudantes, ainda em discussão pelo MEC. 

A maior diferença entre o currículo do Etim e do modelo-piloto é a carga horária de Sociologia e Filosofia. O formato experimental prevê quase 70% menos aulas dessas disciplinas. Português, Matemática, História, Geografia, Biologia, Química e Física também terão menos aulas em relação ao Etim.

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O número de horas dedicadas à formação profissional, que completa a grade de aulas, varia segundo o curso. Algumas carreiras novas terão a carga do eixo profissionalizante aumentada em relação ao Etim. O técnico em Logística, por exemplo, prevê 67 horas a mais de ensino profissional e o de Administração, 102 horas. Nos dois casos, a comparação mostra que o projeto-piloto terá dez horas de aula a menos por semana.

Questionado, o CPS informou que o novo modelo não substituirá o atual Etim, cuja carga horária não será alterada. O órgão estadual afirmou que no próximo processo seletivo vai oferecer 2 mil vagas a mais no modelo de tempo integral, e que o projeto-piloto “é mais uma entre as diversas opções de formação profissional oferecidas” e está “dentro do que prevê a reforma do ensino médio".

Reações. O novo modelo tem encontrado resistência entre os professores da rede, que reclamam de falta de diálogo. Diretores de Etecs foram informados sobre a proposta no dia 5 de outubro e tiveram prazo de cinco dias úteis para responder se havia interesse em implementar ou não o modelo. Em algumas unidades, professores chegaram a ser consultados e o projeto foi recusado. Este foi o caso da Etec Albert Einstein, localizada na zona norte da capital. Já outras escolas aprovaram a medida e apenas comunicaram os docentes.

“A grande maioria dos professores entendeu que, em primeiro lugar, para os alunos (o projeto) seria péssimo porque reduz muito a carga horária”, afirma Débora Lessa, professora de Sociologia na Albert Einstein. 

Nas Etecs Aprígio Gonzaga, na zona leste, e Getúlio Vargas, na zona sul, docentes também fizeram abaixo-assinado conta a iniciativa.

“Não houve conversa. Simplesmente apareceu essa grade para nós”, reclama a professora de Português Sirlene Maciel, da Aprígio Gonzaga.

O CPS propôs inicialmente a criação de 13 cursos dentro do projeto-piloto. A instituição diz que a lista inicial mudou após a resposta das escolas e que ainda não há decisão tomada sobre quais opções serão ofertadas.

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As inscrições para processo seletivo da entidade estarão disponíveis apenas a partir do dia 14 de novembro. A prova será realizada em janeiro.

A autarquia responsável pelos colégios técnicos diz ainda que a mudança é uma possibilidade de os professores ampliarem a carga horária, já que mais turmas serão abertas. 

Esfera federal. Desde o lançamento da reforma do ensino médio pelo MEC em setembro do ano passado, parte dos especialistas em educação tem defendido a importância de flexibilizar as disciplinas da etapa. A mudança possibilitará, de acordo com eles, tornar o médio mais atrativo e conectado à realidade dos alunos, além de evitar a evasão. 

Por outro lado, houve queixas sobre a forma como a mudança foi conduzida pelo governo federal. O ministério lançou a reforma via medida provisória. A medida motivou uma série de invasões de escolas em 2016, de estudantes contrários à reforma. 

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