Quase 3 mil alunos fazem exame do Cremesp no domingo

Participação na prova é obrigatória para quem deseja obter registro profissional

PUBLICIDADE

Por Auber Silva e Ricardo Zeef Berezin
Atualização:

Cerca de 400 formandos de Medicina de outras unidades da federação estão inscritos no exame do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) que será aplicado no domingo, 11. Neste ano, a participação na prova passou a ser pré-requisito para os estudantes que desejam atuar no Estado após a formatura. Ao todo, o exame recebeu 2.924 inscrições. Os alunos reprovados não serão impedidos de obter o registro profissional, uma vez que apenas a presença no exame será exigida. A obrigatoriedade é reflexo da baixa participação nas últimas edições. Se em 2005, quando foi aplicada pela primeira vez, 998 pessoas fizeram a prova, em 2011 o número caiu para menos da metade. No mesmo período, o índice de reprovação subiu de 32% para 46%. “Como não era obrigatório, surgiu um desânimo natural entre os alunos”, afirma Reinaldo Ayer, conselheiro do Cremesp e um dos coordenadores do exame. “Desta vez, porém, a quantidade de inscritos até superou nossas expectativas.” Segundo o Cremesp, o exame tem como objetivo avaliar as escolas de Medicina, não os estudantes, e por isso a nota obtida é confidencial e somente o autor poderá acessá-la. A faculdade, por sua vez, receberá um relatório com o desempenho de seus alunos, mas sem que eles sejam identificados. “É a partir dos formandos que verificaremos a qualidade do ensino”, diz Ayer. O relatório também será enviado ao Ministério da Educação (MEC). A prova obrigatória, que tem 120 questões de múltipla escolha, também é vista com bons olhos pelo Sindicato dos Médicos de São Paulo (Simesp). Segundo o presidente da entidade, Cid Carvalhaes, o profissional que não atende aos “critérios mínimos de qualificação” é uma “ameaça à segurança” da população. “Um médico mal formado pode causar estragos por muito tempo, já que, em média, a atividade é exercida por 43 anos.”, diz Carvalhaes. “É difícil corrigir um vício de origem, do tempo da faculdade. E há escolas em que a disciplina de anatomia humana é ensinada por veterinários.” Embora o sindicato e o conselho concordem com a obrigatoriedade da prova deste ano, eles discordam sobre o seu futuro. O Projeto de Lei 217/2004, em tramitação no Senado, toma o exame em São Paulo como exemplo, mas busca instituir uma avaliação que tenha abrangência nacional na qual o estudante reprovado poderá ser impedido de exercer a profissão. Ayer e o presidente do Cresmesp, Renato Azevedo Júnior, participaram de audiência pública em Brasília nesta semana para discutir a proposta. Azevedo foi um dos que a defenderam. ”Hoje, quem entra numa faculdade de Medicina se forma médico. Não há reprovação”, afirmou à Rádio Senado. Carvalhaes, por outro lado, diz que o Simesp apoia a avaliação do Cremesp por ela ser sigilosa e não restringir o exercício da profissão. Para ele, o exame previsto no projeto de lei “puniria apenas o resultado, o aluno, e não a causa, que é a faculdade”. “As escolas se manteriam incólumes, apesar do ensino ruim. Queremos que aquelas que não se adaptem às exigências sejam fechadas.”Estudantes divididos Em assembleia realizada em julho, a maior parte dos estudantes da Unicamp decidiu pelo boicote ao exame. Eles manifestarão seu descontentamento marcando a opção B, de boicote, em todas as questões. “É a melhor forma de denunciar os erros do Cremesp com esta prova, já que eles não querem mudar”, diz o coordenador do Centro Acadêmico Adolfo Lutz, André Citroni Palma. Já os 82 formandos inscritos da Faculdade de Medicina da Unesp, em Botucatu, devem comparecer, no domingo, exibindo um adesivo com os dizeres “Queremos uma avaliação sim, exame do Cremesp não”, informa Ariane Garcia, do CA Pirajá da Silva. “Os estudantes querem ser avaliados, não na forma atual, mas sim de um jeito que leve em consideração a estrutura das universidades e seja feito ao longo dos anos”, diz. Os estudantes da Faculdade de Medicina de Marília (Famema) também acham que o modelo da prova, com questões de múltipla escolha, e o fato de ela ser realizada apenas no último ano do curso são incorretos. “Onde fica a parte prática e humana?”, questiona a coordenadora de Educação Médica do Diretório Acadêmico Christiano Altenfelder, Sarah Dagostinho. “No final, não há mais nada a ser feito caso seja detectada uma falha na formação.” Na USP, os estudantes veem aspectos positivos na prova. “Apesar das falhas, precisamos entender (o exame do Cremesp) como uma avaliação que o MEC vem negligenciando há anos”, diz o presidente do CA Oswaldo Cruz, Gabriel Dias. Ele se refere ao Exame Progressivo, uma proposta apresentada ao MEC pelo ministro da Saúde, Alexandre Padilha, e que, se aprovado, seria realizado em todas as faculdades de Medicina nos 2.º, 4.º e 6.º anos. Atualmente o MEC aplica somente o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade), que avalia os universitários apenas nos anos de entrada e de saída do curso. Dias garante que a mobilização pela prova continuada deve se intensificar em 2013.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.