Pós-graduação na área socioambiental atrai público diversificado

Setor tenta se reinventar em tempos de crise econômica; alunos vêm de empresas e do terceiro setor

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Por Victor Vieira
Atualização:

SÃO PAULO - Não importa se é empresa ou organização do terceiro setor: cuidado socioambiental se tornou requisito em qualquer mercado. De olho nisso, profissionais com os mais diferentes diplomas – de sociólogos a engenheiros – têm buscado pós-graduações e masters para complementar a formação. O desafio é expandir o trabalho em responsabilidade corporativa, mesmo em tempos de economia fraca.

Foi por meio de uma pós na área que a cientista social Cristine Carvalho, de 32 anos, se tornou consultora em questões sociais para empresas que realizam grandes empreendimentos. O convite para a vaga veio depois de um Master in Business Economics (MBE) em Responsabilidade Social e Terceiro Setor na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Roselaine pretende fazer um MBA em Gestão de Sustentabilidade Foto: Felipe Rau/Estadão

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Segundo Cristine, o MBE foi essencial para o encaminhamento da carreira. “Além do conhecimento técnico, me deu a chance de fazer contatos”, relembra. “A troca de experiências era ótima. Havia gente da área social e outros de empresa, com visão mais estratégica”, acrescenta.

O MBE, um dos primeiros no País nesse campo, nasceu em 2002 com o objetivo de ajudar as companhias a tratar de responsabilidade social. “Nas primeiras turmas, os alunos eram CEOs e presidentes das fundações de grandes empresas”, conta Dália Maimon, professora da UFRJ que coordena o curso.

Depois, o perfil de alunos ficou mais diverso, ao atrair gestores públicos e de organizações não governamentais (ONGs). “Há ainda um movimento de pessoas engajadas, que deixam altos cargos e querem aprender a ganhar dinheiro com essas atividades”, diz.

Iniciante no mercado, Roselaine Novaes, de 23 anos, já atua na área e optou por investir nesse caminho. Engenheira ambiental formada há um ano, ela emendou uma especialização em Sustentabilidade e Responsabilidade Social e Empresarial na Fundação Getulio Vargas (FGV). “É interessante porque o curso apresenta casos reais, de empresas. Não é só a sustentabilidade conceitual”, diz ela, que trabalha no departamento de projetos socioambientais de um banco. O próximo plano de Roselaine é um Master Business Administration (MBA) em Gestão de Sustentabilidade, também na FGV.

Regi Magalhães, diretor da Uniethos, consultora em estratégias sustentáveis para empresas, acredita que a responsabilidade social não pode ser tratada como tema à parte nas pós. “Os melhores MBAs são aqueles de negócios, mas que introduzem conhecimentos em sustentabilidade”, opina.

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Ainda segundo Magalhães, a crise econômica afetou a expansão do setor na iniciativa privada. “As empresas que viam isso como custo cortaram. Outras, que veem como diferencial, mantiveram.”

Outra via. Luciano Junqueira, do Núcleo de Estudos Avançados do Terceiro Setor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), vê fortalecimento das organizações sociais na última década. “O governo passou a fazer mais parcerias com elas, que executam políticas públicas.”

O interesse de funcionários de empresas, de acordo com ele, recuou. “Nosso aluno hoje é, principalmente, do terceiro setor”, diagnostica. Uma das especializações da PUC na área é a de Gestão de Projetos Sociais em Organizações do Terceiro Setor, de 400 horas. Para Junqueira, as formações curtas na área também fazem sucesso. “Cursos de extensão são bem procurados”, aponta.

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Nos EUA. A preocupação com sustentabilidade e responsabilidade social em MBAs cresceu nas universidades americanas no começo da década passada, mas perdeu força com a crise econômica. “O interesse das instituições se manifestou de muitos modos, e elas passaram a levar palestrantes do mercado para discutir a questão”, explica a consultora em carreiras Cláudia Gonçalves. 

“Também passaram a selecionar candidatos com experiência no terceiro setor.” Nos últimos anos, segundo Cláudia, parte das grandes companhias reduziu esforços em ações nesse sentido, o que teve reflexo nos masters. Entre as universidades americanas mais atentas ao temas estão as de Stanford, na Califórnia, Wharton, na Pensilvânia, Michigan, em Michigan, e Cornell, em Nova York.

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