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Por uma especialização com sotaque

Escolas estrangeiras ligadas a Artes, Design e Publicidade oferecem, no Brasil, cursos com visão global e foco no mercado - daqui e do exterior

Por Julia Marques
Atualização:
Natalia Solferini estuda Design Gráfico na Ebac Foto: Werther Santana/Estadão

Para estudar design de bolsas e calçados, Livia Grotto, de 31 anos, pesquisou cursos na Europa. Mas foi a Europa que chegou até ela. Em vez de viajar, a administradora se matriculou em uma escola de origem italiana no Brasil. Instituições estrangeiras nas áreas de Artes, Design e Publicidade que fincaram pé no País atraem profissionais brasileiros interessados em especializações globais com toque tupiniquim.

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“A gente traz a visão internacional, o modo de fazer, para agir localmente”, explica José Carlos Carreira, diretor acadêmico do Istituto Europeo di Design (IED), onde Livia concluiu o curso Shoes & Bags - Design and Business. O IED, com sede em Milão, tem mais 11 unidades espalhadas por Itália, Espanha e Brasil, onde se instalou em São Paulo e Rio.

“A escola viu no Brasil um campo muito grande para o design. Acreditamos em um design do Brasil para brasileiros e para o mundo. A proximidade com a Itália e a Espanha nos dá esse know-how de enxergar o design brasileiro”, afirma Carreira. Para Livia, foi exatamente essa ponte o que mais chamou a atenção no curso. “Ao mesmo tempo em que vimos as tendências internacionais, também vimos o que estava acontecendo no Brasil. Era um paralelo.”

Na formação, que dura um ano, os alunos passam por um módulo de 40 horas no exterior, onde visitam feiras, fábricas e assistem a palestras com profissionais de fora. “Fomos para a Itália com a coordenadora do curso. Eu poderia comprar uma passagem e ir, mas ela nos fez enxergar coisas que eu não conseguiria ver sozinha”, conta Livia.

Como trabalho de conclusão de curso, os estudantes têm o desafio de lançar uma marca sob orientação dos professores. No caso de Livia, a atividade virou insight para um novo negócio e hoje ela se dedica exclusivamente à criação de sua marca de bolsas. Aplicar os conhecimentos no trabalho também foi o que motivou o designer Eric Duran, de 27 anos, a procurar a especialização em Design Estratégico e Inovação no IED.

“Senti no Design Estratégico uma oportunidade de conseguir ferramentas e mais conhecimento sobre a área de negócios”, conta Duran. Segundo ele, o curso - com aulas sobre finanças e captação de recursos - ajuda a entender os dois lados da moeda. “A parte sonhadora do designer, que pensa à frente, pensa em inovação, e o lado dos números, que mantém a empresa em pé.”

De acordo com Carreira, a pós é o carro-chefe do IED e o aspecto multicultural da escola contribui para a formação dos estudantes. “Em qualquer tipo de design, o principal é procurar entender o que o usuário necessita. Nesse exercício, a empatia é fundamental e quando o aluno entra em contato com outra cultura está exercitando essa empatia, olhando as necessidades do outro com os olhos do outro.”

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Forma e conteúdo. A origem internacional influenciou até no formato dos cursos na Escola Britânica de Artes Criativas (Ebac). Instalada na Vila Madalena, coração da criatividade em São Paulo, a instituição oferece um bacharelado em Artes com diploma válido no Reino Unido e especializações voltadas para as áreas de Arte e Design, Audiovisual e Computação Gráfica - algumas delas inéditas no Brasil.

Segundo o diretor-presidente da Ebac, Mauricio Tortosa, os cursos de especialização foram formulados segundo o modelo vigente no Reino Unido e na Europa de CPD (Continuing Professional Development). “Muitos alunos fazem uma faculdade e têm de fazer um estágio (depois). Esse processo demora uns três anos e não é o que acontece na Inglaterra. Lá, já na escola eles têm de estagiar”, conta.

Na Ebac, os alunos não fazem provas durante as especializações: são avaliados a partir do trabalho em projetos reais para clientes reais. E os professores, segundo Tortosa, são profissionais brasileiros que se destacam no mercado nacional e internacional de economia criativa. Entre os docentes da Ebac, por exemplo, está um professor que trabalhou nos efeitos visuais da primeira série da Netflix produzida no Brasil. “O mercado de economia criativa é globalizado. A gente não pode mais formar uma pessoa no Brasil que não está inserida nesse contexto.”

Os cursos atraem tanto profissionais que já estão na área quanto pessoas que querem mudar de carreira. E essa diversidade das turmas é estimulada. Alunos de especializações diferentes também podem trocar figurinhas. “Os projetos acontecem não só dentro do mesmo curso, mas são transversais em mais de um curso”, diz Tortosa. O diálogo entre um estudante de Computação Gráfica e outro de Audiovisual, por exemplo, é valorizado. “Isso é como acontece no mercado e como os ingleses estão ensinando hoje.”

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Para Natalia Solferini, de 38 anos, a possibilidade de transitar entre temas é um diferencial. Formada em Cinema, ela já trabalhou com música, direção de arte e cenografia. “As áreas conversam e têm de conversar mesmo”, defende ela, que cursa Design Gráfico na Ebac e hoje trabalha em um escritório de design na comunicação visual de exposições.

O modelo estrangeiro agradou, mas é a conexão com a realidade brasileira, segundo Natalia, que faz a diferença. “A gente em nenhum momento esquece onde está. Não é porque é uma escola britânica que a gente fica em uma bolha, falando inglês”, destaca.

Curso no Brasil é passaporte para o exterior

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Nos EUA. Com o programa, Amiune trabalhou fora Foto: JUSTIN BETTMAN

Em uma escola de Publicidade na Vila Mariana, zona sul de São Paulo, janeiro não é recesso. Alunos da Miami Ad School/ESPM têm a lógica do ano letivo americano. O padrão tem um só objetivo: facilitar o intercâmbio de alunos para outras unidades da instituição espalhadas pelo mundo.

Arthur Amiune, de 32 anos, é a prova de que o esforço compensa. Durante o curso de Direção de Arte, o designer chegou a ficar dez meses nos Estados Unidos, estudando na Miami Ad School de Nova York e estagiando em duas agências de publicidade. “Foram os melhores meses da minha vida. Mudou minha visão. É muito legal ver como eles pensam.”

“Do ponto de vista acadêmico, o que a gente ensina aqui foi desenvolvido na Miami Ad School dos Estados Unidos. Veio para cá e sofreu adaptações para a realidade brasileira”, explica o diretor da Miami Ad School/ESPM, Paulo Sérgio Quartiermeister. A escola tem unidades em países como Estados Unidos, Alemanha, Austrália, Índia e Canadá.

Na instituição, os alunos têm aulas à noite durante quatro dias da semana, com professores que são profissionais de criação. “São presidentes de agência, vice-presidentes, os melhores do País”, destaca Quartiermeister. A partir do segundo ano, podem se candidatar ao intercâmbio em uma escola da Miami Ad School fora do Brasil ou em agências de publicidade parceiras. Nota, presença e domínio do idioma são requisitos, mas a escolha dos alunos é feita pelas empresas.

O programa é uma via de mão dupla: as escolas brasileiras (há também uma unidade no Rio) recebem alunos da Miami Ad School de outros países. Por enquanto, por causa do idioma, a vinda mais comum é de alunos da América Latina e da Espanha, mas a Miami estuda oferecer parte dos cursos no Brasil em inglês para atrair mais intercambistas.

Para Amiune, além do trabalho nas agências, a experiência de estudar em Nova York contou. “A grande diferença de lá são os alunos do mundo todo. Estudei com gente de Índia, Suíça, Alemanha e Espanha. Essa troca cultural, ver como cada um trabalha, é muito legal.” O designer conquistou 18 “leões” no Cannes Lions - o mais importante festival internacional de publicidade - e conseguiu vaga em uma agência na Flórida, para onde se mudou neste ano. 

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