Pesquisa sobre Idade Média ganha força na universidade

Grupo que reúne professores da USP, Unicamp e três instituições federais realiza eventos em SP

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Por Agência de Notícias da USP
Atualização:

Entre os historiadores, a Idade Média já deixou há algum tempo de ser referenciada como “Idade das Trevas”. A alcunha, surgida entre renascentistas que reforçavam o contraste entre o período de efervescimento intelectual e os séculos que o antecederam, não faz jus à contribuição cultural e ao legado histórico sedimentado entre os séculos 5 e 15 da história europeia.

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Focados em ampliar os horizontes dos chamados medievalistas – estudiosos da Idade Média -, os professores Marcelo Cândido da Silva, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP e Néri de Barros Almeida, do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp, estão à frente do Laboratório de Estudos Medievais (Leme), criado em maio de 2005.

“Em 2003, a professora Néri e eu iniciamos uma série de atividades conjuntas: organização de conferências, seminários de pesquisa com a participação de nossos orientandos, publicações, etc. Rapidamente, ficou clara a necessidade de articularmos essas atividades em torno de um grupo de pesquisa”, conta Marcelo, esclarecendo que o Leme se tornou o primeiro laboratório de história medieval criado no âmbito dessas duas universidades.

Num livro recente, o historiador francês Jacques Le Goff, especialista no período medieval, se perguntava se a Europa nasceu na Idade Média. De acordo com Marcelo, os estudos medievais possuem uma dimensão bastante relevante, tanto pelas peculiaridades dos desafios impostos pela documentação quanto pelo fato de a Idade Média ser a origem de muitos elementos que fazem parte de nossa autocompreensão. Para o docente, o fato é que a Idade Média se impôs, sobretudo após o século 19, como elemento incontornável de diversos discursos identitários, sejam eles regionais, nacionais ou supranacionais.

Brasil medievalista

A criação da Associação Brasileira de Estudos Medievais, a Abrem, em 1996, constituiu um primeiro passo na institucionalização dos estudos medievais no Brasil. O segundo veio com a criação de laboratórios e grupos de pesquisa nas universidades públicas brasileiras, cujo número aumentou consideravelmente ao longo dos últimos cinco anos.

Foi neste contexto que se deu a criação do Laboratório de Estudos Medievais. Entre 2007 e 2010, o Leme cresceu consideravelmente, com a criação de núcleos nas Universidades Federais de Minas Gerais (UFMG), Goiás (UFG) e São Paulo (Unifesp). Em 2013, serão inaugurados dois novos núcleos, o primeiro na Federal do Triângulo Mineiro (UFTM) e o segundo na Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM).

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Para os interessados no assunto, o Leme promove diversas atividades abertas aos alunos desde a graduação, a começar pelas conferências e cursos ministrados por professores convidados. Além disso, o grupo realiza reuniões mensais de apresentação e discussão dos trabalhos realizados no âmbito do laboratório.

Internacionalização na prática

De acordo com o pesquisador, um grupo com esse perfil é fundamental para a universidade, pois aproxima os campos da graduação, pós-graduação e pesquisa, além de permitir a realização prática do processo de internacionalização. “Essa internacionalização traz experiências consolidadas por séculos de tradição, mas também leva a esses ambientes científicos tradicionais perspectivas novas, que podem, a médio e a longo prazo, resultar em enriquecimento da orientação e dos resultados de pesquisa”, diz.

Para ele, está se iniciando uma terceira etapa do processo de institucionalização, que consiste na associação dos laboratórios e grupos de pesquisa no plano nacional e internacional.

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Em 2012, um grupo de medievalistas brasileiros e portugueses, aproveitando a realização recente de dois eventos que tiveram lugar em Portugal e no Brasil, foram essenciais para a criação de um programa de colaboração luso-brasileira na área da História Medieval. A Rede Luso-Brasileira de Estudos Medievais “é o primeiro passo de um programa que visa reforçar a mútua colaboração e maior presença do medievalismo de língua portuguesa no debate contemporâneo”, define o professor Marcelo.

Cursos, colóquios e jornadas

Serão muitos os eventos organizados pelo Leme no decorrer deste ano, o que reforça a riqueza do tema para pesquisadores dispostos a desvendar os segredos de um dos períodos históricos que deu forma ao Ocidente atual.

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Entre os dias 26 e 27 de março ocorrerá o colóquio “Fontes Medievais: Construções e Métodos”. Na segunda quinzena de abril, serão realizados dois cursos no Programa de Pós-Graduação em História Social: “Historiografia e Antropologia da Família na Alta Idade Média”, que será ministrado pela professora Sylvie Joye, da Université de Reims, nos dias 15, 17 e 19 de abril, às 9h30; e o curso “Bizâncio no Século VI: O Reinado de Justiniano (527-565)”, que será ministrado pelo professor Roger Scott, da University of Melbourne. O curso do professor Scott ocorrerá nos dias 23, 24 e 25 de abril, às 9h30.

No dia 3 de maio, o Núcleo Unifesp do Leme promoverá a “Jornada de Estudos Medievais – Formas de se Contar a História na Idade Média”. No segundo semestre, estão previstos cursos dos professores Stéphane Gioanni (École Française de Rome), Régine Le Jan (Université Paris 1 - Panthéon/Sorbonne), Geneviève Bührer-Thierry (Université Paris-Est) e Laurent Feller (Université Paris 1 – Panthéon/Sorbonne).

A programação detalhada desses eventos pode ser acessada no site oficial do Leme.

 

Fonte: http://www5.usp.br/23012/mais-luz-para-os-estudos-medievais-em-laboratorio-inter-universidades/

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