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'Perdi a dignidade', diz estudante humilhada em universidade

Por medo de ser reconhecida, jovem que sofreu assédio coletivo por usar vestido curto afirma não sair de casa

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"Perdi a dignidade, nem do portão da minha casa eu passo com medo de ser reconhecida na rua". Para a estudante de turismo de 20 anos que teve de deixar a universidade escoltada pela polícia sob gritos e ameaças dos colegas na semana passada, a humilhação ainda está longe de acabar. "Estou na frente do computador há dias, minha mãe está em choque", desabafou a jovem, bastante emocionada e se esforçando para segurar o choro, em entrevista ao estadao.com.br. Tudo porque ela escolheu ir à aula com um vestido curto.

 

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Segundo a estudante, que pediu para não ser identificada, o episódio começou "como uma grande brincadeira". Vestida para uma festa que iria naquele noite, ela conta que no início arrancou muitos elogios com seu visual, mas a situação aos poucos inverteu. No intervalo das aulas, um "verdadeiro coral ridículo de gritos de puta" a acompanhou até que deixasse o prédio. O incidente ganhou proporções ainda maiores quando as filmagens da jovem sendo ofendida no campus da Uniban de São Bernardo caíram na internet.

 

"Conforme foi passando o tempo, os alunos foram se aglomerando na porta da minha sala. Eu não podia sair. Eles a chutavam, pedindo ao professor que liberasse a loira gostosa. Alguns gritavam: 'tira ela do cativeiro'", relata a estudante. "O professor não saiu da sala em nenhum momento, minhas amigas cobriram as janelas e o coordenador do curso chegou com um jaleco, pedindo que eu vestisse."

 

Depois de algum tempo, a jovem afirma que os seguranças da universidade chegaram. Mas, em vez de ajudá-la, tentaram lhe passar "lições de moral". "Eles foram os primeiros a me recriminar, perguntaram: 'você acha que é bonito o que está fazendo? Então comecei a chorar." Finalmente, uma amiga resolveu chamar a polícia. "Quando soube que polícia estava vindo, um segurança mandou minha amiga calar a boca, disse que não era para ela ter feito aquilo. Um aluno acabou indo para cima dele, deu confusão."

 

Por fim, de acordo com a estudante, os policias chegaram, dispersando o tumulto com spray de pimenta. "Sai de lá escoltada por seis homens, o mais rápido que pude. Mulheres colocavam celulares na minha cara, corriam atrás de mim, para filmar meu rosto chorando. Os policiais tiveram que me levar até a minha casa." Ela ainda acusa funcionários e professores da universidade de terem a ofendido. "Vi alguns dizendo que eu mereci. Quando passei pela sala dos professores também vi dedos apontados para mim, funcionários da limpeza me xingando. Não foram só os alunos."

 

Nesta sexta-feira, a estudante terá uma reunião com a reitoria da Uniban para discutir o incidente. Ela, porém, revela que não pretende desistir do curso. "Eu paguei, pretendo voltar."

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A Uniban, em nota, afirmou que instaurou sindicância. "Alunos, professores, seguranças e também a aluna estão sendo ouvidos individualmente", informou. A universidade "pretende aplicar medidas disciplinares aos causadores do tumulto, conforme o regimento interno".

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