'Acesso os relatórios escolares pela internet'
As viagens de trabalho não impediram Leonardo Romanelli de acompanhar os dois filhos no Colégio Internacional Ítalo- Brasileiro, em Moema, zona sul de São Paulo. Na escola, da mesma rede do Mater Dei, os pais podem acompanhar os encontros com professores em transmissões ao vivo. "Participo da maioria das reuniões presenciais, mas esse recurso é ótimo para uma situação adversa de quem tem a agenda problemática", elogia o diretor de vendas, que também já marcou encontros separados com professores por videoconferência.
De acordo com ele, outra vantagem tecnológica é a chance de acompanhar o desenvolvimento de aprendizagem dos filhos, que estão na educação infantil, pela tela do computador ou do smartphone. "Agora acesso os relatórios escolares por arquivos compartilhados na internet", diz ele, pai de Pedro, de 5 anos, e Lucas, de 3. "Isso também serve para os alunos que queiram acompanhar aulas remotamente."
O próximo passo, sugere Romanelli, é tornar toda a agenda das crianças virtual. Por outro lado, o diretor de vendas dispensa a troca constante de mensagens com professores pelas redes sociais. "Eu não uso tanto", afirma. "Fico preocupado em interromper o trabalho dos professores; quebrar a dinâmica", acrescenta.
De olho. Se as crianças pequenas estão sob controle dos pais a poucos cliques, as mais velhas também não escapam da vigilância. Além da filha caçula, de 6 anos, a pedagoga Betina Gouvea aproveita o alcance virtual para acompanhar os dois filhos adolescentes no Colégio Rio Branco, em Higienópolis, zona central de São Paulo.
No monitoramento, Betina rastreia as contas do colégio nas redes sociais e a plataforma virtual do Rio Branco, que reúne registros de notas, entrega de trabalhos, faltas e atraso em classes. "Se ele vai mal na primeira prova, dá tempo de conversar para recuperar a nota", relata ela.
Pela rede social, ela descobre até detalhes do comportamento dos meninos, antes restritos à classe. "Na internet, já descobri até fotos dos meus filhos cochilando", conta. "Dei bronca, claro. Mas eu sei que é algo que também acontecia na minha época", pondera.
Filho mais velho de Betina, Thiago Gouvea, de 17 anos, diz que já sofreu mais com a preocupação da mãe. "Agora vejo que ela procura mais os meus irmãos", afirma ele, aluno do 3.º médio. Ele acredita que o acompanhamento é necessário, mas em alguns casos, como na foto da soneca em aula, incomoda. "É um pouco chato quando a brincadeira sai da esfera das pessoas envolvidas."
Para experts, a interação é fundamental
O contato virtual aproxima as famílias da escola, mas não deve ser a única ponte. Para uma comunicação eficiente, segundo especialistas, pais, estudantes e professores precisam entender as potencialidades e os limites dos recursos tecnológicos. Apesar do interesse, ainda são poucas as escolas que têm estruturas mais amplas de interação online com os pais.
"É importante a presença física da família, em reuniões ou até festas", defende a professora da Faculdade de Educação da USP Silvia Colello. "Assim eles podem conhecer o clima de trabalho, a relação entre as crianças e como o espaço é utilizado", completa. Pesquisas mostram que o acompanhamento presencial melhora os resultados dos alunos. Outra necessidade, segundo a pesquisadora, é que a escola se prepare para atender a essa demanda com qualidade. "É importante que o sistema tenha interação e não seja só informativo", diz.
A cobrança pela internet é a versão atualizada do que os pais já faziam no passado. O que muda é a intensidade elevada de contato, com maior risco de abusos. "Isso pode gerar uma sensação de perseguição", alerta Rosa Maria Farah, coordenadora do Núcleo de Pesquisas da Psicologia em Informática da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
Limite. Para ela, é importante que pais, escolas e alunos entendam e criem limites para o contato virtual. E embora mais conectados, muitos pais ainda têm dificuldades de compreender o ciberespaço. "Boa parte tem uma visão preconceituosa e não sabe, por exemplo, como os filhos participam nas redes", avalia Rosa Maria.