Pais ‘escoltam’ estudantes que querem ter aula em Etesp

Após dez dias de invasão em unidade no Bom Retiro, alunos de sete turmas furaram bloqueio para retomar atividades acadêmicas

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Por Isabela Palhares
Atualização:

SÃO PAULO - Dez dias depois da ocupação da Escola Técnica de São Paulo (Etesp), no Bom Retiro, região central de São Paulo, ontem um grupo de pais “escoltou” estudantes que queriam ter aula. Em um prédio adjacente ao que está ocupado, alunos de sete turmas da escola furaram o bloqueio e tiveram aulas durante todo o dia.

“Um grupo de pais se organizou para que os alunos pudessem ter aula. Cada dia, até que a escola seja desocupada, 5 ou 6 pais vão acompanhar a entrada para garantir que eles tenham aula”, disse a engenheira Rosana Cavalcante, de 45 anos, mãe de um estudante de 14 anos do 1.º ano do ensino médio.

Estudantes ocupam Etesp, na Av. Tiradentes: segundo pais, eles estariam intimidando e coagindo colegas que não concordam com o movimento Foto: Hélvio Romero/Estadão

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Segundo Rosana, os alunos que invadiram a unidade estariam “intimidando e coagindo” os demais estudantes, que não concordam com o movimento. Por isso, os pais se organizaram para que as atividades acadêmicas fossem retomadas. A Polícia Militar foi acionada para acompanhar a entrada desses estudantes que teriam aula.

Segundo o Centro Paula Souza (CPS), responsável pelas escolas técnicas estaduais, a direção liberou as salas para seis turmas do 1.º ano e uma do último módulo de Eletrônica. “Para garantir o direito às aulas desses estudantes, apenas o acesso deles foi liberado no edifício”, disse em nota. 

O Centro também informou que cortou a energia elétrica do prédio tomado, porque os manifestantes “ligaram o som em volume que impedia o acompanhamento das aulas pelos demais alunos da escola e da Fatec São Paulo, que funciona no mesmo câmpus”. No início da noite de ontem, segundo o Centro, o fornecimento de energia seria normalizado.

Ocupação. A Etesp foi a primeira Etec a ser ocupada neste ano, três dias após os estudantes tomarem a sede do Centro Paula Souza. Eles reivindicam melhorias na merenda escolar e na estrutura do prédio. Mesmo após o governo anunciar que os alunos do período integral poderão escolher entre receber um lanche ou marmitex a partir de agosto, eles decidiram manter a ocupação. 

“Muitos pensam que todas as nossas pautas foram atendidas, porém os alunos serão obrigados a votar se querem merenda seca (uma bolacha ou barra cereal e suco) ou marmitex. Isso é totalmente insano. Não aceitamos isso. Têm de ser os dois”, disseram os estudantes.

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Nesta quarta-feira, 11, eles ainda divulgaram nas redes sociais e-mails do diretor da Etesp. Segundo os organizadores, os e-mails provam que ele estaria “incentivando” os professores a entrar em conflito com os estudantes. E disseram ter achado a senha do e-mail em cima da mesa do diretor. 

Os alunos disseram ainda que estão sofrendo perseguição da direção da escola e ameaças de professores que prometem retaliação nas provas. Segundo o Paula Souza, os alunos invadiram a sala da direção na manhã de ontem e hackearam o e-mail institucional do diretor. Eles ainda teriam rasurado e jogado documentos da escola pela janela. “O Centro Paula Souza reconhece o direito às reivindicações, mas lamenta ações de vandalismo como essa.”

O produtor cultural Tulio Schargel, de 50 anos, pai de um aluno de 15 anos do 1.º ano do ensino médio, disse que a princípio apoiava o movimento dos alunos, mas afirmou não conseguir entender a motivação da ocupação. “Eles estavam certos em lutar pela merenda, era uma reivindicação justa e conseguiram. Mas, agora, parecem não entender a complexidade dos problemas e querem resolver tudo imediatamente”, afirmou ele, que também participa da Associação de Pais e Mestres (APM).

Na quarta, segundo o Paula Souza, além da Etesp, outras 12 Etecs permaneciam ocupadas por estudantes. “Em algumas unidades, como Basilides de Godoy e Pirituba, também têm sido registrados conflitos entre ocupantes e alunos que querem ter aulas”, disse o Centro. 

Os estudantes também ocupam três escolas estaduais e duas diretorias regionais de ensino (Centro-Oeste, na capital, e uma em Guarulhos). Eles afirmam que não vão recuar porque querem melhorias na merenda servida em todas as escolas públicas estaduais.

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