Os estudantes concluintes do ensino médio regular tiveram em 2010 desempenho ligeiramente melhor no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) na comparação com o exame de 2009. De acordo com o Ministério da Educação, a melhora foi de 9,63 pontos – as notas subiram de 501,58 para 511,21 na prova objetiva. Esta é a primeira vez que é possível comparar notas em Enems de um ano para outro, graças à adoção, em 2009, da Teoria de Resposta ao Item (TRI), ferramenta que calibra o grau de dificuldade de avaliações distintas.
O ministro da Educação, Fernando Haddad, espera que a nota média chegue a 600 pontos em 2028, projeção feita a partir de outras metas, como as estabelecidas pelo Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). A média perseguida para 2028, porém, ainda fica bem abaixo dos 749,7 pontos obtidos pela escola melhor colocada no exame de 2009.Segundo Haddad, a média do Enem de 2010 “é compatível com a evolução que está se observando na educação brasileira, nem mais ou menos. É coerente. Se aparecesse uma nota de 550 (para a média da prova objetiva), ia chamar muito minha atenção, teria dificuldade para compreender”.Considerando os dois dias de aplicação, a média do bloco de Ciências da Natureza e Ciências Humanas saltou de 502,29, em 2009, para 512,21 no ano passado; a de matemática e língua portuguesa, por sua vez, subiu de 500,86 para 510,22.
O MEC, no entanto, não soube explicar à reportagem por que considerou as médias por dia de prova, em vez de cada disciplina isoladamente. Da forma como os dados foram divulgados, não é possível verificar, por exemplo, a variação nas notas de matemática ou de língua portuguesa nos dois últimos anos. Segundo Haddad, os números foram divulgados com “a mesma transparência de sempre”. Entre 2009 e 2010 também houve melhora na nota de redação (de 585,05 para 595,25). A redação, no entanto, não é respaldada pela TRI, ao contrário da prova objetiva. Outro avanço se deu no número de alunos concluintes do ensino médio que se inscreveram e fizeram a prova: ele aumentou de 824.027 (45,8% do total de concluintes) para 1.011.952 (56,4%).As duas últimas edições do Enem foram marcadas por uma série de problemas, como o vazamento da prova, em 2009, e a troca do cabeçalho de resposta e falhas de encadernação em 2010. Para o coordenador geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara, o aumento da nota do Enem não é mérito do MEC. “A melhoria do Enem é uma conquista das Secretarias Estaduais de Educação, em primeiro lugar. A União como um todo poderia fazer mais pela educação básica”, afirma. “Estamos saindo de uma situação muito ruim para uma um pouco melhor, mas muito distante de uma situação mediana. O Brasil está melhorando o que é possível dentro de um sistema ruim.” Para o presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Daniel Iliescu, “o Brasil ultrapassou a Itália para ser a 7.ª economia do mundo, mas no índice de educação da Unesco aparece na 88.ª posição, o que é completamente desproporcional”.